Mundo Acadêmico - Austrália
Klynger Renan Menezes Dantas
Nesta edição vamos conhecer um pouco do funcionamento da educação na Austrália, conhecida como o “continente-ilha”, muitas vezes confundida com o continente da Oceania por representar grande parte deste território. É caracterizado por ser um dos poucos países do hemisfério sul que possui um índice de desenvolvimento próximo ao de países do hemisfério norte.
O desenvolvimento adquirido pela Austrália é facilmente refletido no quesito educação. O sistema educacional é divido na formação escolar, em que o estudante passa pela escola primária (duração de 6 a 7 anos), secundária (duração de 3 a 4 anos), secundária sênior (duração de 2 anos) e a formação superior realizada pelas universidades, além do Ensino e Treinamento Vocacional (VET), que é associada ao ensino superior.
No sistema educacional existe a Estrutura Australiana de Qualificação (AQF-Australian Qualifications Framework), implantada em 1995, que se trata de uma política nacional que realiza as qualificações do setor de ensino superior além da certificação da educação secundária sênior. Esta estrutura apresenta 10 níveis e é responsável pela unificação de toda a política de educação do país, possibilitando a flexibilidade na transferência de níveis ou de instituições. As instituições que são envolvidas pela AQF são autorizadas pelo governo e credenciadas, evidenciando a qualidade do ensino.

Nesse contexto, a Austrália está entre os cinco países de maior contingente de estudantes internacionais. Contudo, isso não é algo inesperado, levando em consideração que nela estão localizadas 7 universidades entre as 100 principais do mundo, o potencial para recepção de estudantes também é fortalecido pela existência de 5 cidades consideradas algumas das melhores do mundo para estudantes. O governo também apresenta a Lei dos Serviços Educacionais para Estudantes Estrangeiros (ESOS) que protegem os intercambistas, disponibilizando assistência social, informações atualizadas e garantia de aprendizado.
As universidades australianas apresentam classificação entre as melhores do mundo por área de conhecimento, principalmente em Engenharia e Tecnologia, Medicina, Ciências Ambientais, Contabilidade e Finanças. Ao todo são 43 universidades, sendo duas internacionais e uma particular especializada, as demais são do próprio país.

Diogo Passos Menezes, graduando em Engenharia Elétrica pela Universidade Federal de Campina Grande (UFCG), estudou na Monash University, na cidade de Melbourne e discorreu sobre como foi a escolha do país de seu intercâmbio. “Quando tive vontade de realizar o Ciência sem Fronteiras, o edital em vigor me permitia concorrer a vagas na Austrália, Bélgica, Canadá, Coreia do Sul ou Holanda. Na época, o único parceiro australiano era o Group of Eight (grupo formado por 8 universidades líderes na Austrália) e, portanto, conseguir uma vaga para a Austrália era a garantia de que eu iria para uma delas. Além disso, sempre tive vontade de conhecer parte da Oceania e teria a oportunidade de melhorar o inglês que eu havia estudado.”
A Austrália apresenta também um significativo retrospecto na pesquisa científica, como exemplos disso, tem-se a descoberta da penicilina em 1935 e da tolerância imunológica adquirida em 1960. Atualmente, o país investe no recrutamento de pesquisadores e no desenvolvimento de centros de pesquisas espalhados pelas universidades australianas.
Os estágios são realizados em empresas e instituições educacionais, podendo ou não ser remunerados. A prática do estágio possibilita ao aluno a obtenção de experiência no mercado de trabalho. “Tive oportunidade e fiz estágio em uma empresa que presta serviços nas diversas áreas na Austrália, a Transfield Services. No caso do meu estágio, o serviço era prestado à CityLink, empresa que controla parte das rodovias em Melbourne, e a duração foi de um mês apenas.” disse Diogo, completando “com o aprimoramento do programa Ciências sem Fronteiras, acredito que hoje em dia a situação de estágios para intercambistas do programa na Monash esteja melhor, com estágios mais variados e com maior duração (até 3 meses).”
A experiência de um intercâmbio faz com que o aluno adquira uma carga de conhecimento não apenas científica, mas também cultural e social, além de enfrentar dificuldades longe de seu país de origem. Segundo Diogo: “a primeira dificuldade foi entender o sotaque australiano, quando este era bem marcante. A segunda foi o método de estudos, já que sempre tive, na UFCG, pessoas com quem costumo estudar. Lá, na maioria das vezes, acabei estudando sozinho.”.
A principal diferença entre as universidades da Austrália e do Brasil, além da estrutura, são os métodos de abordagem dos conteúdos acadêmicos junto com o foco na parte prática, “do ponto de vista acadêmico, percebi que na Monash há uma tendência de reunir o conteúdo essencial do que seria estudado em duas ou três disciplinas na UFCG em uma só disciplina. Um exemplo disso foi uma disciplina que cursei chamada Sistemas de Energia Elétrica, que abordava partes das disciplinas Sistemas Elétricos, Conversão Eletromecânica, Máquinas Elétricas e Eletrônica de Potência da UFCG. Penso que a vantagem de assim o fazerem é relacionar melhor o conteúdo dessas disciplinas; a desvantagem, por outro lado, é a ausência de tópicos mais específicos que são benéficos para a formação do engenheiro. Senti que lá a abordagem é, em geral, mais prática e menos teórica que na UFCG. Novamente, isso pode ser vantajoso ou não para um graduando, dependendo essencialmente do fim que ele espera de um curso de Engenharia Elétrica.”
Gostaria de agradecer sinceramente a Diogo Passos Menezes, pela atenção e informações fornecidas. Diogo passou um ano na Austrália pelo programa de intercâmbio Ciência sem Fronteiras e hoje está concluindo a graduação em Engenharia Elétrica na UFCG.