Mundo Acadêmico - França
Filippe José Gadelha Tertuliano
Linhas e mais linhas no currículo, fluência em idiomas, experiências em diferentes áreas: estas são apenas algumas das inúmeras exigências do mercado de trabalho. O mundo já não é o mesmo de ontem, está em constante transformação e cabe a cada um buscar seu diferencial e destacar-se. Hoje, há quem saiba aproveitar as oportunidades e as ferramentas modernas para ampliar o conhecimento e tornar-se excelente profissional. Mesmo com a globalização, cada país ainda preserva suas peculiaridades, seus costumes, sua educação. E só ela, a educação, é capaz de levar o homem a patamares inimagináveis.

A primeira edição do Mundo Acadêmico embarca rumo ao berço do iluminismo e de inúmeros cientistas, tentando compreender um pouco sobre a educação local, moldada durante séculos de história. A França é hoje o terceiro destino mais procurado pelos estudantes estrangeiros. E é pensando em ajudar os futuros desfrutadores da “Liberdade, Igualdade e Fraternidade” francesas que serão abordados, ao longo do texto, peculiaridades da educação e relatos de universitários que viveram e estão vivendo no país.
Nas universidades francesas são oferecidos cursos sobre várias áreas do conhecimento, com destaque para as Ciências Humanas, formação com maior quantidade de estudantes. Para adentrar nas universidades, os candidatos se submetem a uma espécie de vestibular conhecida como baccalauréat, ou bac. Mais da metade dos bem sucedidos no bac escolhem este tipo de instituição. A formação universitária acontece em três etapas: la licence, uma graduação com duração de 3 anos, le mastère, uma etapa de 2 anos de duração sendo o segundo ano destinado ou ao “Master Recherche” (desenvolvendo pesquisa rumo ao doutorado, como o mestrado brasileiro), ou ao “Master Professionnel” (desenvolvendo uma especialização com um período de estágio), e le doctorat, uma etapa com 3 anos de duração na qual serão desenvolvidos seminários e estágios e aprofundados os estudos sobre um tema definido pelo estudante, semelhante ao doutorado brasileiro. Todas as universidades são públicas e geram diplomas e certificados reconhecidos nacionalmente e também em toda a Europa.
Outro tipo de instituição de ensino superior disponível na França são as Grandes Écoles nas quais são oferecidas, principalmente, formações em engenharia, comércio e administração. Quem procura este tipo de instituição se submete a um concurso na área almejada (matemática e física, física e química etc) e participa de aulas preparatórias, podendo escolher, caso seja selecionado, entre os programas de educação oferecidos por cada instituição pública ou privada. A formação dura 5 anos e o estudante que a concluir recebe diploma de Master. A École Polytechnique, fundada em 1794 e frequentada outrora por ilustres homens da ciência, e a École Nationale d’Administration, por onde passaram importantes figuras políticas, são exemplos conhecidos de Grandes Écoles.
Na França, assim como no Brasil, há os cursos profissionalizantes de curta duração, que garantem uma formação técnica, ou artística, focada nos setores da indústria e de serviços. Geralmente, os cursos duram 2 anos e podem estar ligados às universidades, como os oferecidos pelo IUT (Institut Universitaire de Technologie).
Visando ao aperfeiçoamento profissional, muitos jovens procuram aprender a língua francesa, ou cursar parte do ensino superior, em países francófonos, desbravando não só o currículo como também a rica cultura dos locais. Só em 2013 foram 288.544 intercambistas na França, segundo a UNESCO. E quem se aventura em um intercâmbio nesse país não nega a importância da experiência. Para a brasileira Vanuza Marques, estudante de Engenharia Elétrica da Universidade Federal de Campina Grande (UFCG), morar fora do país está enriquecendo-a não só profissional como também pessoalmente. No seu primeiro semestre lá, Vanuza está aproveitando a oportunidade para cursar disciplinas não ministradas na sua universidade de origem, como a Física dos Semicondutores, tema só abordado, na UFCG, pontualmente dentro da disciplina Dispositivos Eletrônicos.
Séculos de lutas e filosofias fizeram com que os franceses dedicassem uma atenção especial à ciência até a atualidade. Um exemplo do esforço em sempre manter viva o pensamento científico foi a criação do Centro Nacional para Pesquisa Científica (CNRS – Centre National de la Recherche Scientifique), responsável pela coordenação dos trabalhos de todas as pesquisas fundamentais e aplicadas, englobando todas as disciplinas científicas e dando suporte técnico e financeiro a vários laboratórios universitários. E o empenho em conciliar os estudos teóricos e experimentais é um dos fatores de destaque da educação francesa. Segundo Thais Luana, também aluna de Engenharia Elétrica da UFCG, as aulas experimentais, nos laboratórios da École Supérieure d’Ingénieursen Systèmes Industriels Avancés Rhône-Alpes (Esisar), onde cursou alguns meses de graduação, não divergiam tanto do conteúdo teórico ministrado em sala de aula. Para ela, outro fator interessante e desafiador foi a carga horária das aulas, que consumia muito tempo da rotina dos estudantes, exigindo um processo de aprendizagem praticamente indissociável das aulas; os alunos aproveitavam os momentos das aulas para fixar logo os assuntos/conteúdos, necessitando, geralmente, apenas de revisões antes das provas.
O domínio do idioma é apenas o mais básico dos desafios aos quais irão se submeter os ansiosos por habitar na França. É fundamental que as pessoas sujeitas aos intercâmbios tenham consciência de suas limitações e sejam flexíveis para mergulhar em uma cultura diferente da brasileira. Adaptar-se aos métodos de estudos empregados nas salas de aula francesas, vencer os desafios climáticos e saber aproveitar cada minuto vivido lá são elementos tão importantes quanto o passaporte. Afinal, nem só de bons vinhos e queijos viverá o intercambista e caberá a ele usar o tão consagrado “jogo de cintura” para driblar as adversidades.
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