Multitarefas: A Era da Distração
Você já parou para pensar que estamos sempre fazendo várias coisas ao mesmo tempo? A obsessão pela tecnologia nos tornou seres humanos multitarefas, mas isso é bom ou ruim?
Por Wislayne Dayanne Pereira da Silva
Você já parou para pensar que estamos sempre fazendo várias coisas ao mesmo tempo? Enviar e receber mensagens de texto, checar a lista de e-mails, falar no telefone, verificar as redes sociais, ler notícias na internet e assistir vídeos são atividades comuns no nosso dia-a-dia. Porém, na maioria das vezes fazemos isso enquanto caminhamos, durante as refeições, enquanto dirigimos e até mesmo em um encontro de amigos. A obsessão pela tecnologia nos tornou seres humanos multitarefas e as consequências estão presentes nas nossas relações com as pessoas do restante do mundo.
A rápida evolução da tecnologia gerou uma verdadeira revolução nas formas de comunicação. A forma de ver o mundo mudou, o mercado de trabalho passou por uma intensa transformação e automação, atividades do cotidiano se tornaram cada vez mais fáceis de serem realizadas. As consequências de tamanha facilidade são pessoas constantemente conectadas que aprenderam a fazer várias atividades ao mesmo tempo. O perfil chegou a ser visto por empresas como “a aposta do futuro”, por se tratar de possíveis profissionais ágeis ao iniciar tarefas, manusear tecnologia e improvisar.
Figura 1. Os dispositivos eletrônicos fazem parte do nosso cotidiano incentivando a multitarefa. [Fonte: www.superaonline.com.br]
Todavia, ser ágil é sinônimo de ser eficiente? Em um estudo sobre Controle Cognitivo em Multitarefas de Mídia, pesquisadores da Universidade de Stanford chegaram a resultados surpreendentes sobre a performance dos chamados “multitaskers ”. Os Resultados mostraram que as pessoas que são adeptas a multitarefas são mais suscetíveis a interferências de estímulos ambientais e memórias irrelevantes. Isso acontece porque realizar muitas tarefas não é uma forma eficiente de usar o nosso tempo e as nossas habilidades. Seres humanos são usuários de informações e quando concentram a atenção em mais de uma atividade ao mesmo tempo, têm dificuldade de perceber outros eventos ao seu redor.
Adam Gazzaley e Larry Rosen, um neurocientista e um psicólogo, lançaram recentemente o livro: The Distracted Mind: Ancient Brains in High-Tech World (MIT Press, 2016), que apresenta uma análise da multitarefa e do poder da distração dos pontos de vista da neurociência e da psicologia. Segundo os autores, atualmente os seres humanos são criaturas em busca constante de informação e a tecnologia é o melhor recurso para isso. Porém, nossos cérebros não são desenvolvidos para multitarefas e são limitados à capacidade de prestar atenção a uma tarefa por vez. Podemos até realizar mais de uma função simultaneamente, alternando de forma rápida, mas não ao mesmo tempo. Cada atividade requer uma mudança de contexto que envolve tempo e recurso.
Figura 2. Segundo a Associação Americana de Psicologia, a tentativa de realizar multitarefas pode desperdiçar até 40% do tempo produtivo de alguém. [Fonte: www.shutterstock.com]
Gazzaley e Rosen comparam nosso comportamento com o de esquilos em busca de comida. Quando o esquilo percebe que a comida está acabando no ambiente atual, ele instintivamente sai em busca de outro ambiente. Nós seríamos o esquilo e a informação seria a nossa comida.
Entretanto, se pararmos um pouco para pensar, é perceptível que não somos tão inteligentes quanto os esquilos, pois sofremos com o tédio e a ansiedade. Por exemplo, quando fazemos uma pesquisa na internet, ficamos facilmente entediados ou deslumbrados com a quantidade de informação e rapidamente saltamos de um site para outro, permanecendo, muitas vezes, em uma página por apenas alguns poucos segundos, sem aproveitar as informações disponíveis.
Além do desperdício de informações, o poder das distrações pode causar situações muito perigosas. Embora cientificamente comprovado que fazer muitas coisas simultaneamente é uma forma ineficiente de usar o tempo, existem determinadas atividades que podem ser realizadas sem pôr em risco o bem estar do multitaskers . É o caso de fazer uma ligação enquanto verifica a caixa de e-mails ou acessar alguma rede social durante um show. Entretanto, quando as tarefas necessitam de maior atenção, as consequências podem ser devastadoras. Por exemplo, enviar mensagens de texto enquanto dirige causa um número de acidentes comparável ao de motoristas bêbados.
A multitarefa traz ainda desvantagens potenciais na infância. Estudos apontam que quanto mais multitaskers são as crianças, pior é o desempenho na escola. Além de contribuir para o pensamento introspectivo.
O debate de que a presença de aparelhos celulares nas escolas afeta o desempenho acadêmico dos alunos é permanente em muitos países atualmente. Muitos defendem a ideia de que os celulares podem ser utilizados a favor da educação, como ferramenta de ensino nas salas de aula. Por outro lado, outros defendem a proibição completa do uso de aparelhos eletrônicos pelos estudantes na escola.
Figura 3. O dilema dos telefones celulares nas escolas
[Fonte: www.shutterstock.com]
Enquanto as opiniões continuam divididas, vários estudos vêm sendo desenvolvidos em todo o mundo a fim de identificar a melhor opção. Um estudo realizado em quatro cidades da Inglaterra, em 2015, analisou o efeito de banir celulares nas escolas e o resultado foi surpreendente. O desempenho acadêmico melhorou consideravelmente e os melhores resultados foram justamente dos alunos que possuíam as notas mais baixas.
Mas se a multitarefa possui pontos tão negativos, por que continuamos fazendo isso? Por que vivemos na era das distrações? Como será a vida daqui a duas décadas? Essas perguntas não possuem respostas imediatas, porém têm-se uma certeza evidente: estamos testemunhando uma mudança cultural na forma de enxergar e utilizar a tecnologia. Existe a necessidade de uma etiqueta cívica para que pedestres, motoristas, estudantes e profissionais vivam no mundo conectado de forma eficiente e sem o perigo das distrações.
Referências:
Multitasking: Why Do We Do It? Robert W. Lucky. IEEE Spectrum. Disponível em
http://spectrum.ieee.org/at-work/innovation/multitasking-why-do-we-do-it. Acesso em: 25 de junho de 2017.
Cognitive Control in Media Multitaskers. Eyal Ophira, Clifford Nassb e Anthony D. Wagnerc. Proceeding of the National Academy of Sciences. Disponível em http://www.pnas.org/content/106/37/15583.full. Acesso em: 27 de junho de 2017.
The Distracted Mind. Adam Gazzaley, Larry D. Rosen. Disponível em https://mitpress.mit.edu/distracted. Acesso em: 27 de junho de 2017.
Estamos na ‘Era da Distração’ – Entenda o valor de se Desconectar. John Rennie. Disponível em: http://revistagalileu.globo.com/Tecnologia/noticia/2015/07/estamos-na-era-da-distracao-entenda-o-valor-de-se-desconectar.html. Acesso em: 25 de junho de 2017.
Quão inteligente é permitir que os alunos usem telefones celulares na escola? Disponível em: http://theconversation.com/how-smart-is-it-to-allow-students-to-use-mobile-phones-at-school-40621. Acesso em: 27 de junho de 2017.
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