Sobre o processo de ensino e aprendizagem na disciplina
Circuitos Elétricos II
Prof. Francisco das Chagas Fernandes Guerra
Ao concluir o curso de Engenharia Elétrica, em meados de 1977, deparei com o velho dilema: partir para a empresa (emprego não faltava, ainda estávamos no “milagre brasileiro”), ou fazer mestrado. A respeito da primeira opção, estabeleci um propósito: a empresa eleita seria a Chesf, pois as concessionárias de energia estaduais não se mostravam promissoras para quem apresentasse um perfil profissional essencialmente técnico. Ao fazer um tal “teste psicotécnico”, fui preterido. No popular: dancei - havia duas vagas pra quatro pretendentes. Depois de certo tempo, constatei que um dos requisitos para passar no citado teste era apresentar um QI superior aos dos outros candidatos (coitado de mim...). Porém, isso me fez um bem danado, pois tive um excelente motivo para optar pela carreira acadêmica, sem muito drama.
Registro que uma das pessoas que exerceram influência na minha opção pela academia foi um físico holandês chamado Gerardus Laurentius Maria Dassen, já falecido. Ele coordenava uma equipe de monitores de Física Experimental da qual fiz parte. Assim, me tornei professor do Departamento de Matemática e Física (DMF) em 1977, no qual atuei como professor de Física II (Calor e Termodinâmica) até 1979, quando me transferi para o DEE, onde estou lotado até hoje. As primeiras disciplinas que ensinei foram Eletrotécnica Geral (que tratava de instalações elétricas) e Eletrotécnica Aplicada (cujo conteúdo dizia respeito a circuitos elétricos e transformadores). Ainda em 1979, ingressei no mestrado em Engenharia Elétrica.
Desde a época de minha graduação, a matéria relacionada a circuitos elétricos era apresentada em uma só disciplina, ministrada durante um bom tempo pelo Prof. João Damasco Mangueira Braga, já aposentado. O número de créditos era cinco e o programa era muito extenso. O livro adotado era Teoria Básica de Circuitos, de C. A. Desoer e E. S. Kuh, editado pela McGraw-Hill (1969). Apesar de a excelente qualidade da obra, ela não se adequava à disciplina, pois o conteúdo programático era disperso em dezenove capítulos, além de apresentar poucos problemas propostos. Por iniciativa do Prof. Washington Evangelista de Macedo (também já aposentado), a disciplina Circuitos Elétricos foi dividida em Circuitos Elétricos I e Circuitos Elétricos II. Esta última tratava de análise de circuitos monofásicos e trifásicos em regime permanente senoidal.
Em 1981, fui designado para lecionar a disciplina Circuitos Elétricos II. O livro então adotado era Circuitos Elétricos - Coleção Schaum, de J. A. Edminister, que voltou a ser editado em 2005, pela Makron Books. Posteriormente, ministrei as disciplinas de Proteção de Sistemas Elétricos (a qual também me dedico até hoje), Instalações Elétricas Industriais, Medição de Energia Elétrica, Análise de Sistemas Elétricos e Laboratório de Circuitos Elétricos I.
Em 1999, depois de um período de afastamento para efetivação de doutorado, fui novamente incumbido de lecionar a disciplina Circuitos Elétricos II, já com o conteúdo atual. Para minha surpresa, o livro adotado ainda era o de Desoer e Kuh, do tempo de minha graduação. Cuidei de atualizar a bibliografia, assumindo como texto principal o recém-lançado Electric Circuits, de J. Nilsson e S. Riedel, Prentice-Hall. Posteriormente, constatei que esse era o livro adotado em renomadas universidades americanas e de outros países, inclusive o Brasil.
Ao longo dos últimos anos, tenho ministrado Circuitos Elétricos II e Proteção de Sistemas Elétricos. O que tenho feito não passa do “feijão-com-arroz” da pedagogia. Procuro repassar da melhor forma possível o conteúdo programático das disciplinas, motivando os alunos para o aprofundamento do estudo dos temas abordados. Falo sempre que a escola exerce hoje um papel apenas inicial no processo de avaliação das pessoas. O mercado é que efetiva o processo de seleção. Ah, sim! Também procuro repassar o que me falava o velho João Guerra, meu pai, na sua bem-intencionada crassidão: “tome cuidado na vida! Estude! Hoje, o cabra que não for do primeiro time tá lascado!” – querem argumentação mais motivadora e convincente que essa?
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