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08 de Março: Dia Internacional da Mulher

Artigo publicado no Diário da Borborema, em março de 2001

Finalmente, chegamos ao ano 2001! Quantos sonhos foram acalentados na esperança de um Mundo mais justo, mais fraterno e mais humano? Muitos, certamente. Mas, o fato é que chegamos a 2001 e muita coisa mudou; umas de forma radical, outras de forma tímida e outras permaneceram no plano dos sonhos. Pessoalmente, cheguei a 2001 no melhor de minha forma física e intelectual. Posso até dizer que estou feliz; e só não me sinto plenamente feliz porque não consigo deixar de me sensibilizar com a dor alheia. As injustiças sociais, as intolerâncias raciais, a corrupção geradora de misérias, a omissão e a inversão dos valores éticos causam-me espécie. Então, como poderia me sentir plenamente feliz, assistindo a infelicidade à minha volta?

John Lennon, o mais polêmico dos Beatles, compôs várias músicas tendo a mulher como tema central; numa delas ele dizia que a MULHER era o NEGRO do Mundo (Woman is the nigger of the world). E ele estava certo. No final do século XX e neste começo de 2001, a mulher, a exemplo do negro, ainda está submetida a grandes violências, decorrentes do machismo e da discriminação.

Lennon, que era um homem sensível, percebia a importância da mulher na sua vida. Ele pedia apoio, pedia colo, como um filho criado sem mãe, que de fato o foi. Mas não precisamos ser artistas, como ex-Beatle, para percebermos a importância da MULHER; precisamos sim, ter apenas sensibilidade. Primeiro porque ninguém vem ao mundo sem que antes tenha passado pelo ventre de uma mãe. Ela, literalmente, nos dá a luz. Depois, ao longo de nossas vidas, quantas mulheres nos oferecem apoio? São nossas pediatras, nossas professoras, nossas amigas, nossas namoradas, nossas amantes, nossas esposas, nossas sogras, nossas filhas e por aí vai... Com elas, nós, os homens, aprendemos e desaprendemos a ser machos ou homens. Quando aprendemos a ser machos, aprendemos mal; e quando aprendemos a ser homens, aprendemos bem.

Mas o que as mulheres têm a comemorar neste 2001? O espaço no mercado de trabalho? O espaço nos partidos políticos? Os espaços nos sindicatos? Enfim, os espaços que até então eram de exclusividade masculina? Mas qual o preço que essas mulheres tiveram e têm que pagar para serem respeitadas, em pé de igualdade, com relação ao homem? O preço tem sido alto e em muitos casos, para vencer os obstáculos interpostos, as mulheres chegam até a abrir mão de sua feminilidade, assumindo posturas do macho equivocado (autoritário, grosseiro, mal-resolvido e, portanto, mal-amado).

Nos dias correntes, inseridas no mundo profissional altamente competitivo, as mulheres têm sentido no corpo e na mente os efeitos desse projeto político-econômico perverso. São doenças físicas, psicossomáticas e de ordem espiritual, decorrentes dessa exposição. De fato, assim como ocorre com os negros, existem leis que protegem as mulheres, só que, na prática, essas leis não protegem de fato as mulheres. Aliás, se o mundo agisse de forma  ética com as mulheres, não haveria necessidade de tais leis.

No plano político, as mulheres tiveram que lutar muito para conquistar espaço e atualmente se fazem representar nas mais diferentes esferas do poder, sem que tenhamos ainda, no Brasil, uma mulher na presidência. O mesmo vale para os negros: homens e mulheres.

Na mídia, a mulher tem sido explorada na sua sensualidade, exibida como objeto de uma sexualidade vulgar. A sociedade atual, mergulhada numa frenética busca do prazer pelo consumo, elegeu a mulher como peça fundamental desse ideário.

Concluindo, neste 08 de março, Dia Internacional da Mulher, conclamo a todos, homens e mulheres, para aprofundarmos as reflexões aqui apresentadas.

Benedito Antonio Luciano
(Professor do Departamento de Engenharia Elétrica)

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