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Uma Viagem pelo Planeta Vermelho

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Uma Viagem pelo Planeta Vermelho

Árido, rochoso, frio e aparentemente sem vida. O planeta vermelho – como é conhecido Marte – oferece pouca hospitalidade para possíveis futuros habitantes, porém é o segundo lar mais viável que até então conhecemos.

Por Wislayne Dayanne P. da Silva


Figura 1. Visão colorida do Mars Exploration Rover Mission (carro robô de exploração de Marte). [Fonte: NASA/JPL-Caltech/Cornell/ASU]

Marte é o segundo menor planeta do sistema solar. Recebeu o nome em homenagem ao deus romano da guerra e é muito conhecido como “planeta vermelho” devido ao alto índice de óxido de ferro na sua superfície, que a torna avermelhada. Esse planeta constitui o cenário perfeito para estudar e entender a história do nosso sistema solar e a evolução dos pequenos planetas ao longo do tempo. A Terra e Marte se formaram há mais de 4,5 bilhões de anos com composição de minerais e elementos semelhantes. Todavia, a evolução dos dois planetas seguiu caminhos e velocidades muito diferentes.

Geologicamente, os planetas Terra e Marte apresentam muitos aspectos similares. As camadas rochosas que formam a superfície dos planetas são semelhantes em composição e, assim como a Terra, Marte tem uma atmosfera, uma crosta, um manto e um núcleo. A rotação e os ciclos sazonais também são semelhantes. O planeta vermelho possui quatro estações bem definidas, um dia marciano tem 24 horas (acrescidos de 39 minutos e 35,244 segundos) e as noites são enluaradas por duas luas: Fobos (personificação mitológica grega do medo) e Deimos (deus grego do terror).

Atualmente, a paisagem desértica é composta por grandes montanhas e crateras. A maior montanha possui 20 mil metros de altura e os desfiladeiros chegam a ser dez vezes maiores do que o Grand Canyon (Arizona, Estados Unidos). A temperatura pode alcançar 20ºC durante o dia e 80ºC negativos durante a noite. Além disso, a mistura de oxigênio e nitrogênio na atmosfera não é suficiente para um ser humano respirar. É um cenário de arrepiar!

Entretanto, o planeta vermelho era muito diferente no passado: a atmosfera era densa, repleta de gás e existiam grandes rios, lagos e talvez um grande oceano. Isso foi possível pelo fato de que o planeta era protegido da radiação e das partículas destruidoras do Sol por um campo magnético natural, assim como acontece com a Terra. Porém, há 4 bilhões de anos, quando Marte ainda era muito jovem, o seu campo magnético entrou em colapso e a atmosfera desapareceu gradativamente ao longo dos meio milhão de anos posteriores. Os poderosos e destrutivos ventos solares transformaram nosso vizinho em um verdadeiro deserto, o ar começou a vazar rapidamente, a pressão atmosférica foi reduzida de forma drástica, o que fez a água evaporar a 10ºC, impedindo a existência de água líquida estável na superfície.

Pesquisas alegam que parte da água foi absorvida pelas rochas de basalto ricas em óxido de ferro e que podem reter em seu interior até 25% mais água que as pedras do mesmo tipo na Terra. A fim de comprovar essa hipótese, a sonda Mars Reconnaissance Orbiter (MRO) da NASA orbita Marte desde 2006 a procura de água. Com tecnologia avançada, que inclui um radar que penetra no solo, a MRO encontrou em 2016 um depósito de água congelada com volume superior ao maior lago em extensão territorial da Terra.

O depósito de gelo está situado no subsolo do planeta, como esperado, uma vez que entrasse em contato com a atmosfera fina, a água em estado sólido se transformaria diretamente em vapor. De acordo com o radar, a camada de água congelada está a menos de dez metros da superfície, porém não era possível identificar com precisão a profundidade. Até agora!

Figura 2. Seção transversal de gelo subterrâneo exposta em inclinação íngreme. A imagem foi captada pela câmera HiRISE no Mars Reconnaissance Orbiter da NASA e as cores foram aprimoradas. [Fonte: NASA / JPL-Caltech / UA / USGS]

Recentemente (em janeiro de 2018), cientistas divulgaram que foram encontrados pontos de camadas de gelo acessíveis em Marte, parcialmente expostas na superfície. A descoberta foi resultado de análise de fotografias captadas pela câmera de Experimento Científico de Imagem em Alta Resolução (High Resolution Imaging Science Experiment, HiRISE), na sonda MRO. Os pesquisadores que analisaram as imagens encontraram oito locais onde depósitos de gelo sob a superfície marciana estão expostos em encostas íngremes, situadas nos hemisférios norte e sul do planeta, nas latitudes de cerca de 55 a 58 graus.

Os locais revelaram novas informações sobre a estrutura das camadas internas de gelo subterrâneo que, provavelmente, foi depositado há muito tempo. Os depósitos são expostos em seção transversal como gelo de água relativamente pura, coberto por uma camada de um a dois metros de espessura com rochas e poeira cimentada com gelo. Essa descoberta foi animadora para o estudo da história do clima do planeta, como bem destacou Leste Tamppari, cientista do projeto da MRO, do Laboratório de propulsão a jato da NASA, "É parte de toda a história do que acontece com a água em Marte ao longo do tempo: para onde ela vai? Quando o gelo se acumula? Quando ele recua?".

A boa nova também vai mudar o rumo das missões de exploração e colonização humana do planeta vermelho, uma vez que será possível obter água no próprio planeta para a construção de uma base permanente e ajudar nas futuras missões. Um dos co-autores do relatório que divulgou a descoberta, Shane Byrne, disse: “Os astronautas podem simplesmente ir lá com um balde e uma pá e obter toda água que precisarem”.

Figura 3. Imagem ilustrativa de possível colônia construída em Marte. [Fonte: www.megacurioso.com.br]

As condições de sua superfície, a semelhança com o nosso planeta e a disponibilidade de água (embora congelada), tornam Marte o segundo planeta mais habitável do sistema solar, depois da Terra. Por esse motivo é o principal candidato à colonização humana permanente e é o protagonista de muitos filmes espaciais que retratam nossa possível mudança de lar. Muitos são os investimentos para que as missões robotizadas adquiram informações suficientes sobre a geologia, o clima e a capacidade de suportar vida no planeta, para assim possibilitar a projeção e implementação de uma missão humana na órbita e superfície marciana com custo, risco e desempenho aceitáveis.

Uma das missões em andamento é a Mars 2020, parte do programa de exploração de Marte da NASA. Essa missão possui metas científicas de alta prioridade para a exploração do planeta vermelho, incluindo questões fundamentais sobre o seu potencial de vida. O intuito não é apenas procurar sinais de condições habitáveis no planeta, mas também buscar sinais de vida microbiana passada. Para isso, o rover (veículo de exploração espacial) Mars 2020, coletará amostras de núcleo das rochas e solos mais promissores.

A missão pretende ainda reunir conhecimento e testar tecnologias que tratem de desafios que serão encontrados pelas futuras expedições tripuladas. Alguns exemplos são: o teste de um método para produzir oxigênio da atmosfera marciana a partir de outros recursos; melhorar as técnicas de pouso; caracterizar o clima, tempestades de poeira e outras condições ambientais que podem afetar diretamente os astronautas que venham a viver e trabalhar em Marte. A Mars 2020 está programada para lançamento em julho/agosto de 2020. O Período foi escolhido propositalmente para quando os planetas de origem e destino estiverem em boas posições um em relação ao outro, para assim facilitar o pouso, economizar energia e, consequentemente, reduzir riscos e custos.

Figura 4. Mars 2020 Rover – NASA. [Fonte: NASA/JPL-Caltech]

A ida do homem à Marte, além de tema recorrente na ficção científica e sonho de muitos cientistas e pesquisadores, consiste em uma tarefa muito delicada com inúmeros desafios para a engenharia e a medicina. Por esse motivo, as missões robotizadas são indispensáveis para o possível sucesso do projeto.

A viagem pode durar até um ano, constituindo um longo tempo de exposição à alta radiação do espaço para os astronautas envolvidos. Os riscos de desenvolver câncer, perder densidade óssea, sofrer problemas imunológicos e muitos outros problemas de saúde física e mental são altos e imprevisíveis. Sem contar que, chegando lá, as dificuldades não acabarão. A menor gravidade menor (um terço da gravidade da Terra) e a falta de campo magnético para proteger da radiação solar dificultarão a estadia humana no planeta. Entretanto, embora ofereça pouca hospitalidade para os futuros habitantes, Marte, sem dúvidas, é o mais próximo segundo lar que conhecemos. Com o progresso recente e os avanços das missões robotizadas espera-se que nas próximas décadas os obstáculos sejam reduzidos e as primeiras missões tripuladas sejam enviadas, para, finalmente, darmos início a jornada de colonização do planeta vermelho.




Referências: 

NASA Science. Disponível em https://mars.nasa.gov/. Acesso em 22 de janeiro de 2018.

Mars Exploration Program. DNASA Science. Disponível em https://mars.nasa.gov/. Acesso em 22 de janeiro de 2018.

Steep Slopes on Mars Reveal Structure of Buried Ice. NASA. Disponível em https://mars.nasa.gov/news/8298/steep-slopes-on-mars-reveal-structure-of-buried-ice/. Acesso em 23 de janeiro de 2018.

Mars 2020 Rover. ADisponível em https://mars.nasa.gov/mars2020/. Acesso em 24 de janeiro de 2018.

Mars 24 Sunclock. Michael Allison and Robert Schmunk. Disponível em https://www.giss.nasa.gov/tools/mars24/help/notes.html. Acesso em 24 de janeiro de 2018.











          






            


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