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O Paradoxo de Fermi

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O Paradoxo de Fermi

É bastante provável que tenham existido incontáveis oportunidades para o surgimento de vida antes ou até mesmo paralelamente à Terra. Por que, então, nunca conseguimos detectar o menor sinal de atividade biológica fora do nosso próprio planeta?.


Por Pedro Henrique Oliveira Toscano Ximenes


Em 93 bilhões de anos-luz, diâmetro do Universo Observável, os cientistas estimam que existam cerca de 2 trilhões de galáxias. Em cada uma delas, deve existir um número de aproximadamente 100 a 400 bilhões de estrelas, que, em sua maioria, possuem planetas em sua órbita. Calcula-se que, para cada grão de areia na Terra, exista cerca de 10 mil estrelas no Universo, número tão grande que se torna difícil de imaginarmos. Devem existir, portanto, trilhões de planetas orbitando na chamada “zona habitável” de uma estrela, apresentando condições favoráveis ao desenvolvimento de vida.

A Via Láctea, juntamente com Andrômeda e mais de 50 outras galáxias, está localizada no chamado Grupo Local de Galáxias, região que possui aproximadamente 10 milhões de anos-luz de diâmetro. Devido à expansão acelerada do Universo, é bastante provável que, mesmo atingindo a velocidade da luz, jamais consigamos chegar em outro grupo de galáxias. Por isso, o que acontece em outras partes do Universo pode estar para sempre fora do nosso alcance.

Figura 1. Visão mais profunda do Universo, fotografia tirada pelo telescópio espacial Hubble. [Fonte: http://hubblesite.org/news_release/news/2004-07]

Contudo, na Via Láctea, existem bilhões de estrelas semelhantes ao Sol, muitas delas sendo bilhões de anos mais velhas, das quais uma parte considerável deve apresentar pelo menos um planeta na zona habitável. Considerando que apenas uma minúscula porcentagem desses planetas suporte vida, ainda deveriam existir milhões com essa característica. Além disso, nossa galáxia possui mais de 13 bilhões de anos, enquanto que o Sistema Solar possui cerca de 4,6 bilhões de anos. É provável, então, que tenham existido incontáveis oportunidades para o surgimento de vida antes ou até mesmo paralelamente à Terra. Por que, então, nunca conseguimos detectar o menor sinal de atividade biológica fora do nosso próprio planeta? Ninguém responde nossos sinais, tenta nos contatar ou nos visita. Apesar de todas as probabilidades, não conseguimos achar nenhuma civilização tecnologicamente avançada e, por enquanto, para nós, estamos sozinhos no Universo.

Em 1950, o cientista Enrico Fermi se indagou sobre esse assunto. Para ele, “qualquer civilização com uma modesta tecnologia de foguetes e um imodesto incentivo imperial poderia rapidamente colonizar a galáxia”, claro, dentro de alguns milhões de anos, que, em comparação à idade da galáxia, é um tempo consideravelmente curto. “Onde estão todos?”, se indagou Enrico e, dessa maneira, surgiu o chamado “Paradoxo de Fermi”. Existem diversas ideias que tentam explicar e achar uma resposta para essa questão levantada pelo cientista. Algumas delas nos colocam em uma posição de destaque no Universo, outras são bastante desanimadoras para o destino da humanidade.

Primeiramente, é preciso levar em conta que viagens espaciais são bastante complicadas. Construir uma nave capaz de realizar uma viagem de, possivelmente, milhares de anos, além de manter uma população considerável capaz de habitar outro planeta por todo esse tempo, não é uma tarefa simples. Ademais, o planeta destino pode não ser tão propício à vida quanto parecia a milhares de anos-luz de distância. Portanto, é possível que civilizações com esse tipo de tecnologia sejam raríssimas e estejam muito distantes de nós, a ponto de que nenhum contato seja possível.

Considerando que pelo menos alguma civilização tenha desenvolvido tecnologia suficiente para que tal contato seja viável, é possível que nós simplesmente os tenhamos perdido. Cerca de 99% das espécies que já habitaram a Terra hoje se encontram extintas, se esse padrão se estender a todas as espécies, é possível que em muitos exoplanetas existam apenas ruínas de antigas civilizações. Essa extinção, contudo, seria natural? Ou será que nenhuma civilização consegue conter o próprio avanço tecnológico e acaba por se destruir?

Em 1996, o professor Robin Hanson surgiu com uma interessante ideia capaz de sustentar satisfatoriamente a hipótese da extinção das espécies. Segundo Hanson, o desenvolvimento da vida passa por diversos filtros, ou seja, momentos cruciais para a manutenção da vida em um planeta. Dessa forma, várias espécies seriam extintas antes de chegar a construir uma civilização tecnologicamente avançada, sendo o último desses filtros chamado de “grande filtro”. Hanson não chegou a uma conclusão sobre o que seria esse grande filtro, poderia ser a própria ganância por poder intrínseca a espécies inteligentes; o esgotamento de recursos naturais no próprio planeta ou até mesmo grandes catástrofes naturais. Com isso, apenas raríssimas espécies conseguiriam passar pelo grande filtro e se consolidariam tecnologicamente.

Figura 2. O Grande Filtro. [Fonte: https://thenewmodernman.files.wordpress.com/2016/05/filter.png?w=860]

Talvez alguma civilização tenha realmente colonizado a galáxia, mas mantenha silêncio com medo de possíveis ameaças. Talvez a tecnologia nesses planetas seja tão evoluída que utilizem, por exemplo, energia escura (a qual sabemos absolutamente nada sobre) como meio de comunicação, em vez de ondas eletromagnéticas. Talvez sejamos, de fato, a única civilização da galáxia. A verdade, porém, é que não estamos procurando com tanto entusiasmo, pouquíssimos recursos são destinados a esse propósito e razoavelmente poucas pessoas realmente realizam pesquisas sobre isso. Por enquanto, é possível encarar o Paradoxo de Fermi, então, como um problema de baixo desenvolvimento tecnológico.




Referências: 

Fermi Paradox. SETI Institute. Disponível em https://www.seti.org/seti-institute/project/details/fermi-paradox. Acesso 29 de Outubro de 2017.

How Big is the Universe? Nola Taylor Redd. Disponível em https://www.space.com/24073-how-big-is-the-universe.html. Acesso em 29 de outubro de 2017.

The Fermi Paradox. Kurzgesagt. Disponível em http://kurzgesagt.org/work/the-fermi-paradox/. Acesso 27 de Outubro de 2017.

Extinção da humanidade: Teoria do Grande Filtro ganha força com a descoberta de Kepler-186F. History. Disponível emhttps://seuhistory.com/noticias/extincao-da-humanidade-teoria-do-grande-filtro-ganha-forca-com-descoberta-de-kepler-186f. Acesso 29 de Outubro de 2017.

Why can’t we see evidence of alien life? – Chris Anderson. TED-Ed. Disponível em https://ed.ted.com/lessons/why-can-t-we-see-evidence-of-alien-life. Acesso 29 de Outubro de 2017.










          









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