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Computadores Podem Ter Consciência?

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Computadores Podem Ter Consciência?

Se uma Inteligência Artificial forte fosse implantada em um robô humanoide perfeitamente construído, o que o diferenciaria de um ser humano? Se seu comportamento é completamente compatível ao de uma pessoa, como é possível afirmar que esse robô não possui consciência de seus atos?


Por Pedro Henrique Oliveira Toscano Ximenes


A palavra revolução, segundo o dicionário, possui vários significados, dentre eles “transformação”; “mudança completa” ou ainda “ato ou efeito de revolucionar”. Esse termo é utilizado em diversos momentos históricos para afirmar a existência de uma grande mudança que ocorreu após determinado acontecimento em relação ao período diretamente anterior. Muitos países são marcados por famosas revoluções, como França, Rússia e Irã.

O século XVIII foi notável, dentre outros aspectos, pelo início da Revolução Industrial, que começou na Inglaterra e se alastrou pela Europa Ocidental e Estados Unidos nas décadas seguintes. Foi considerado um marco no estilo de vida da população em geral por apresentar a ideia da indústria e máquinas substituindo trabalhos anteriormente feitos por humanos.

No fim do século XVIII, período ainda correspondente à Revolução Industrial, foi possível perceber um considerável aumento na população mundial, consequência de uma melhora na qualidade de vida, o que pode ser relacionado, dentre outros fatores, com o aumento de recursos devido ao uso de máquinas que exercem determinados trabalhos no lugar das pessoas. No gráfico ilustrado na figura 2, percebe-se que a população nos países onde a Revolução Industrial teve um forte impacto como Alemanha, França e Reino Unido aumentou significativamente nesse século, enquanto em outros como Holanda, Bélgica e Suécia, não houve tal variação.

Figura 02. População de seis países nos últimos cinco séculos. [Fonte: https://ourworldindata.org/world-population-growth/#estimates-of-population-in-recent-history-and-projections]

Desde então, a tecnologia se mantém em crescente desenvolvimento. As máquinas estão substituindo tarefas humanas com uma frequência também crescente. Muitas pessoas consideram que isso pode se tornar um grande problema no futuro, afirmando que grande parte da população humana não terá mais trabalho. Estaríamos nós nos dirigindo a uma Revolução das Máquinas?

Por conta da possibilidade de que máquinas poderiam, no futuro, se desenvolver a ponto de passar por seres humanos, o britânico Alan Turing, considerado o pai da computação, propôs em 1950 o que chamou de “Jogo da Imitação”, que depois ficou conhecido como “Teste de Turing”. No teste, um interrogador humano deve estabelecer-se em uma sala separada e manter uma conversação com dois outros participantes, um humano e uma máquina, utilizando algum meio de comunicação que não deixe claro quem é quem, como um computador. Se, após a conversa, o interrogador errar ou não conseguir diferenciar claramente o humano da máquina, diz-se que ela passou no teste. Atualmente, são feitos eventos oficiais para a realização do teste em que pelo menos 30% dos jurados devem ser enganados para que a máquina seja aprovada. Na época em que publicou o Jogo da Imitação, Turing afirmou que, por volta do ano 2000, não mais do que 70% teriam capacidade de identificar corretamente o computador no teste. Tal afirmação se mostrou equivocada. Apenas em 2014 um computador conseguiu enganar 33% dos juízes e foi aprovado no Teste de Turing. Uma máquina russa se passou por um menino ucraniano de 13 anos que tinha inglês como segunda língua, chamado de Eugene Gootsman, e foi a primeira da história a ser aprovada no teste.

Atualmente existem apenas Inteligências Artificiais consideradas “fracas”. Essa característica é própria a uma máquina que apresenta um propósito específico e limitado, ou seja, nenhum computador ainda é capaz de apresentar resposta satisfatória para qualquer tipo de assunto, que são chamadas de Inteligências Artificiais fortes. Se existir algum tipo de máquina que consiga aprender qualquer tipo de informação, ela deve ser capaz de planejar, se comunicar, aprender, resolver problemas e fazer julgamentos, o que se parece bastante com o comportamento humano. É estimado que tal computador possa passar sem maiores problemas no Teste de Turing. Se essa inteligência artificial fosse implantada em um robô humanoide perfeitamente construído, o que o diferenciaria de um ser humano? Se seu comportamento é completamente compatível ao de uma pessoa, como é possível afirmar que esse robô não possui consciência de seus atos?

Também em 1950, o escritor e cientista Isaac Asimov pensou no perigo iminente do desenvolvimento tecnológico e estabeleceu, em seu livro “Eu, Robô”, o que chamou de “Três Leis da Robótica”, regras que devem ser obedecidas na construção de qualquer máquina inteligente. São elas:

  1. Um robô não pode ferir um ser humano ou, por inação, permitir que um ser humano venha a ser ferido.
  2. Um robô deve obedecer às ordens de um ser humano exceto quando essas ordens entrarem em conflito com a Primeira Lei.
  3. Um robô deve proteger sua própria existência contanto que essa proteção não entre em conflito com a Primeira ou Segunda Lei.

Para Asimov, portanto, um robô deve ter consciência de quando uma situação é perigosa para sua própria existência e deve tentar proteger-se de maneira a não ferir ou desobedecer um ser humano. Pode-se dizer, então, que essa máquina possui pensamentos? Stephen Hawking, astrofísico e professor da Universidade de Cambridge, acredita que a inteligência artificial se tornará mais inteligente que os seres humanos, e isso pode se tornar um problema.

Pensando na discussão de máquinas apresentarem consciência, o professor e filósofo norte-americano John Searle propôs um argumento em 1980 para embasar seu ponto de vista, o que chamou de “Argumento da Sala Chinesa”. Searle imagina uma pessoa dentro de uma sala munida de catálogos com todas as perguntas e respostas, além de caracteres específicos, em chinês. Assim, uma outra pessoa, do lado de fora da sala, passa uma pergunta na língua por debaixo da porta. Quem está dentro procura no catálogo os caracteres correspondentes e devolve uma resposta plausível. Para quem está do lado de fora, a sala é fluente em chinês mesmo que quem esteja dentro não fale uma palavra na língua. Da mesma forma, um computador, ao se comunicar com um ser humano, pode dar a impressão de ter consciência em relação àquilo que fala ou que faz, enquanto, na verdade, não existe estrutura consciente.

Alguns dos mais importantes desenvolvedores de tecnologia da atualidade, como Elon Musk (CEO das empresas SpaceX e Tesla Motors) e Bill Gates (fundador da Microsoft), se dizem preocupados com o possível desenvolvimento de Inteligências Artificiais fortes, apesar de acreditarem que ainda será necessário um tempo considerável para que isso ocorra. É impossível, ainda, saber se um computador com capacidade de aprender e interpretar qualquer assunto, não se limitando a atividades específicas, poderia apresentar qualquer comportamento nocivo. Teria uma máquina a capacidade de se preocupar com sua própria existência? Se sim, é possível que, depois de processar diversas situações em sua vida, perceba que a melhor forma de proteger sua própria vida seja se afastando ou até mesmo “se livrando” dos humanos? Essas são ideias sobre as quais ainda não existe um consenso e que preocupam muitas pessoas ao redor do mundo.




Referências: 

World Population Growth. Disponível em https://ourworldindata.org/world-population-growth/. Acesso em 28 de 09 de 2017.

Turing Test. Disponível em https://www.britannica.com/technology/Turing-test. Acesso em 28 de 09 de 2017.

Can Machines Be Conscious? Disponível em https: https://spectrum.ieee.org/biomedical/imaging/can-machines-be-conscious. Acesso em 30 de 10 de 2017.

The Chinese Room Argument. Disponível em https://plato.stanford.edu/entries/chinese-room/. Acesso em 01 de 10 de 2017.

Computadores têm alma? Disponível em https://www.youtube.com/watch?v=mfIenNIAedw&t=297s. Acesso em 25 de 09 de 2017.











          






            


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