Segurança Cibernética Contra Ataques Terroristas
Ataques terroristas acontecem de forma inesperada e atingem quase todos os sistemas de segurança pública. Entretanto, por mais secreto que essas atividades sejam, é possível detectar padrões e analisar sinais que os grupos terroristas deixam ao divulgar seus conteúdos na rede para prevenir novos atentados.
Por Saulo Afonso Sobreira Lima
Não há como designar uma data específica para o primeiro ataque terrorista no mundo. Entretanto, historicamente, a primeira aparição do termo terrorismo aconteceu na obra “Cartas Sobre uma Paz Regicida” (Letters on a Regecide Peace ) do filósofo irlandês Edmund Burke. Em seu livro, Burke faz uma fiel crítica à época da Revolução Francesa (1789 – 1799), principalmente no Período Jacobiano (1972 - 1974), no qual os jacobinos assumiram o poder do país. Durante esse tempo, vários políticos e opositores, principalmente os monarquistas e girondinos (grupo composto pela alta burguesia francesa), foram executados na guilhotina. Com o passar dos anos, o termo foi disseminado e atribuído a outras situações de violência gratuita, como as guerrilhas. A expressão ganhou mais vigor na Segunda Guerra Mundial, a fim de destacar os grupos separatistas e nacionalistas em meados da década de 40.
Qualquer tipo de ação com cunho violento, seja ela uma agressão física ou psicológica, contra o Estado ou uma população pode ser entendida como terrorismo. Essa definição mais consensual, segundo muitos pesquisadores, é oriunda do atentado de 11 de setembro de 2001, na cidade de Nova Iorque, contra as Torres Gêmeas, que totalizou quase 3 mil mortes, incluindo bombeiros e policiais. Esse conceito é muito utilizado para apontar e aludir às ações de determinados grupos na atualidade.
Além do fato ocorrido nas Torres Gêmeas, outros ataques terroristas ganharam uma grande repercussão na imprensa mundial e afetaram as políticas públicas de segurança de vários países. No dia 19 de abril de 1995, um caminhão alugado cheio de explosivos foi detonado em frente ao edifício de 9 andares no centro de Oklahoma nos Estados Unidos, ocasionando 168 vítimas fatais e mais de 650 feridos. Na manhã do dia 7 de julho de 2005, 52 pessoas foram assassinadas e mais de 700 ficaram feridas no bombardeio ao metrô de Londres. Já durante a maratona de Boston, realizada no dia 15 de abril de 2013, duas bombas caseiras feitas em uma panela de pressão e contendo pregos foram explodidas próxima à linha de chegada da corrida, matando três pessoas e ferindo mais de 260.
Figura 1. Ataque Terrorista a Cidade de Oklahoma. [Fonte: https://peritosdefato.wordpress.com/2011/05/02/terror-em-oklahomausa-papiloscopia-revela-terroristas/]
Mais recentemente, a cidade de Paris passou por um dos períodos mais aterrorizante da sua história na atualidade. No dia 7 de janeiro de 2015, dois irmãos invadiram a sede do jornal Charlie Hebdo armados de metralhadora e assassinaram 12 pessoas, incluindo um policial muçulmano e o editor-chefe do jornal. Já no dia 17 de agosto deste ano, um motorista de uma van atropelou várias pessoas na cidade de Barcelona, na Espanha, ocasionando na morte de 13 pessoas e deixando mais de 100 feridos. O grupo radical Estado Islâmico reivindicou a maioria dos ataques citados, todavia as investigações nem sempre confirmam a autoria ou participação do grupo nos ocorridos.
Grupos terroristas aparecem constantemente na capa dos principais jornais do mundo. Os atos desses não se limitam à aglomeração de pessoas ou a eventos com grandes holofotes, muitas vezes civis e inocentes são assassinados de forma brutal e os vídeos das atrocidades são jogados na rede. Somente no ano de 2017 países como Alemanha, França e Inglaterra, foram vítimas de eventos terroristas.
A imprevisibilidade dos ataques extremistas e o grau de organização dos responsáveis deixam uma grande lacuna na segurança pública dos países. O terrorismo é um crime altamente sutil que acontece sem aviso prévio, mas que não é impossível de ser detectado e prevenido.
Figura 2. Capa Online do Jornal The New York Times em novembro de 2015 [Fonte: http://www.marlioforte.com.br/2015/11/14/}
Muitos grupos terroristas usam as redes sociais e outros meios de comunicação online para disseminar os seus ideais em busca, cada vez mais, de adeptos. Como medida de segurança, em junho deste ano, o Facebook informou que começará a usar inteligência artificial no combate ao terrorismo na sua plataforma. Esse novo recurso será usado em grande escala com a moderação de humanos para rever todas as contas da sua plataforma que tenham alguma suspeita mínima de atividades terroristas.
Uma das primeiras aplicações dessa tecnologia é verificar quais as contas claramente estão desrespeitando os termos de uso do Facebook, para que os usuários da rede não possam mais ter acesso a essa página e não façam o upload de vídeos e fotos postadas. Embora o recurso da inteligência artificial tenha sido implementado recentemente, o site garante que a forma de detectar potenciais páginas com propagandas terroristas já está mudando.
Atualmente, o Facebook direciona a sua técnica para combater o conteúdo sobre os grupos ISIS (Estado Islâmico do Iraque e da Síria), Al Qaeda e filiados. Com o tempo, pretende-se expandir por outras organizações terroristas. Segundo a página, a Inteligência Artificial atua com os seguintes esforços:
1 - Correspondência de imagem: ao tentar carregar alguma foto ou vídeo com conteúdo terrorista, o sistema verifica se este arquivo corresponde a algum outro já conhecido. Se um vídeo com propaganda da Al Qaeda já tiver sido removido, o site impede que esse mesmo conteúdo seja publicado por outras contas.
2 - Compreensão da Linguagem: nesse método, o Facebook está experimentando a análise de textos com teor terrorista já removidos para desenvolver sinais baseados nas postagens excluídas. Esse algoritmo de detecção funciona em um ciclo infinito de realimentação, o que implica na melhoria da sua precisão com o passar do tempo.
3 - Recidivismo: esse método detecta novas contas criadas por perfis reincidentes mais rapidamente. Por meio dele, é possível reduzir drasticamente o período em que as contas reincidentes terroristas ficam disponíveis na web.
4 - Removendo Grupos Extremistas: sabe-se que os grupos terroristas tendem a se radicalizar e operar por meio de clusters, uma estrutura de computação que proporciona um melhor desempenho, confiabilidade e agilidade para a execução de processos de alta complexidade. Por isso, ao detectar um conteúdo impróprio, um algoritmo é utilizado para impulsionar a busca de materiais associados que também possam apoiar o terrorismo. Um sinal utilizado é a verificação de que uma conta é amiga de algumas outras contas desativadas por atividades inapropriadas.
Além dos esforços citados, o Facebook está desenvolvendo sistemas de segurança contra contas terroristas em suas outras plataformas, como o WhatsApp e o Instagram. Entretanto, só a Inteligência Artificial não é suficiente para detectar todos os tipos de atividades terroristas que são divulgadas no site. Não há como o computador detectar sozinho se uma foto de um homem armado acenando para uma bandeira do Estado Islâmico tem o intuito de recrutamento de membros ou é apenas a capa de uma notícia. Para isso o site conta com mais de 150 especialistas em terrorismo e segurança que trabalham exclusivamente no combate às práticas extremistas na rede, isso inclui mestre acadêmicos em contraterrorismo, ex-agentes da lei e analistas e engenheiros.
Figura 3. Membros do Estado Islâmico [Fonte: http://www.midiamax.com.br/mundo/estado-islamico-impoe-sua-moeda-transacoes-areas-sob-seu-dominio-siria-342837]
Governos e agências intergovernamentais possuem um importante papel no direcionamento, desempenho, convocação e desenvolvimento de competências para combater o terrorismo por empresas independentes. O desafio para as comunidades online é o mesmo para as do mundo real: melhorar a detecção inicial de sinais antes que seja tarde demais.
O uso da Inteligência Artificial não garante a total segurança das populações contra possíveis atentados terroristas. Entretanto, a longo prazo, essa tecnologia apresenta um gigantesco potencial na detecção dos ataques na medida em que a quantidade de informações armazenadas aumenta. Esse tipo de avanço representa uma nova possibilidade de aquisição de informações não só sobre grupos terroristas, mas também sobre outros tipos de atividades que ameaçam a lei e a segurança das cidades.
Facebook Will Use Artificial Intelligence to Find Extremist Posts. Sheera Frenkel. The New York Times, 15 de junho de 2017.
Hard Questions: How We Counter Terrorism. Monika Bickert. Facebook, 15 de junho de 2017.
7 Atentados Terroristas que Chocaram o Mundo. Redação da Revista. Super Interessante, 21 de dezembro de 2016.
Terrorismo. Cláudio Fernandes. Disponível em: http://historiadomundo.uol.com.br/idade-contemporanea/terrorismo.htm. Acesso em 25 de agosto de 2016.
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