Matérias‎ > ‎

Srinivãsa Aiyangãr Rãmãnujan

-----------------------------------------------------------------------------------------------------------

Srinivãsa Aiyangãr Rãmãnujan

Conheça a história do homem que viu a matemática como uma parte inerente ao seu ser, desenvolvendo teorias que até hoje contribuem para a expansão das fronteiras científicas.


Por André Igor Nóbrega da Silva


Srinivasa Ramanujan, Erode, 22 de de dezembro de 1887 – Kumbakonam, 26 de abril de 1920, foi um matemático indiano que realizou contribuições substanciais nas áreas de Análise Matemática, Teoria dos Números e Séries Infinitas. Além disso, descreveu funções que hoje são usadas para entender fenômenos que estão na vanguarda da ciência, tais como buracos negros e a Teoria das Cordas.

A origem humilde, bem como a posição social na Índia limitaram o acesso de Ramanujan a uma educação apropriada. Mesmo assim, desde criança, já demonstrava uma espantosa aptidão para a matemática, desenvolvendo – com apenas quinze anos – soluções para polinômios de grau 3 e de grau 4. Por meio do livro Synopsis of Elementary Results on Pure Mathematics , Ramanujan pôde alavancar seu alicerce matemático. A obra do autor George Shoobridge é repleta de teoremas e fórmulas, mas possui uma deficiência nas demonstrações, o que influenciou a maneira como Ramanujan interpretava a matemática, gerando futuros conflitos.

Após anos de privações, trabalho solitário e disciplina, Ramanujan conseguiu entrar em contato com o professor Godfrey Hardy, da Universidade de Cambridge (Inglaterra). Depois de analisar o material que recebeu, o docente achou que estava diante de uma fraude, dada a impossibilidade de acreditar em tamanha abstração, mas eventualmente percebeu que havia encontrado um matemático comparável a gigantes como Leonard P. Euler e Johann C. F. Gauss. Desse modo, o professor convidou o jovem para ir a Cambridge, onde aperfeiçoou seus conhecimentos. Durante sua vida, estudou as Séries de Riemann, Integrais Elípticas, Séries Hipergeométricas e Equações Funcionais da Função Zeta. Contudo, seu trabalho mais famoso talvez tenha sido a criação de uma fórmula para descobrir a partição de um inteiro, que significa o número de modos de decompor um inteiro n em somas de números naturais. Por exemplo, se a função p(4) representa a quantidade de modos como podemos representar o número 4 como uma soma de números naturais, temos que p(4) = 5, já que 4 = 1+1+1+1, 1+1+2, 1+3, 2+2 e 4+0.

Figura 1. Anotações do próprio Ramanujan sobre teoria de séries. [Fonte: http://blog.stephenwolfram.com/2016/04/who-was-ramanujan/]

O brilhantismo do matemático é, para muitos que entraram em contato com ele, um mistério: pura aptidão seria suficiente para superar mentes que tiveram oportunidades e recursos tão superiores aos de Ramanujan? Para ele, uma descrição matemática só fazia sentido se fosse a expressão da vontade divina, o jovem afirmava que suas descobertas lhe eram apresentadas em sonho pela deusa Hindú Sri Namagiri Lakshmi – peculiaridade que ele compartilhava com outros grandes expoentes da ciência, como Nikola Tesla, o qual afirmava ter contato com seres extraterrestres.

Figura 2. Citação de Ramanujan. [Fonte: https://saumyaganesh.wordpress.com/tag/srinivasa-ramanujan/]

Sua cultura estranha aos padrões ocidentais e sua forma de trabalhar a Matemática lhe renderam bastante preconceito dentro da comunidade científica da época. A verdade é que Ramanujan era um matemático com um modo de trabalhar especial. Embora não tivesse o conceito de demonstração enraizado, possuía uma intuição admirável. Isso foi uma das barreiras que ele precisou superar para ter seu trabalho reconhecido, já que a comunidade científica não aceitava um teorema se esse não fosse acompanhado de uma prova. Como parte do processo de adaptar o talento do jovem, o professor Hardy incumbiu a tarefa de lhe ensinar um certo formalismo científico ao também professor de Cambridge John Edensor Littlewood. "Era uma tarefa extremamente difícil pois, cada vez que se mencionava um tema que se achava necessário Ramanujan saber, este respondia numa avalanche de ideias originais que tornavam quase impossível a Littlewood permanecer com o seu ensino.” (Frase de Hardy sobre a missão de Littlewood).

Por conta de sua espiritualidade, Ramanujan seguia restrições no dia a dia que complicavam seu bem-estar, ainda mais dentro do contexto histórico em que viveu. O matemático não comia carne e, por vivenciar um momento de Primeira Guerra Mundial, seus recursos alimentícios eram bastante escassos. Além disso, o abalo psicológico por estar longe de sua terra e de sua família, bem como a tuberculose que o atingiu durante seus anos na Inglaterra limitaram o potencial de suas habilidades. Talvez por isso Ramanujan tenha questionado uma vida de extrema dedicação às ciências. Contudo, é sobre os ombros de gigantes como ele que a humanidade pode sustentar seus sonhos e ambições. Atualmente, tópicos discutidos na comunidade científica, tais como levitação, teletransporte e buracos negros, necessitam de uma base matemática sólida, e as equações de Ramanujan se mostraram de grande valia para entender tais fenômenos.

No momento mais crítico da sua fragilidade física, Ramanujan foi reconhecido pelo seu trabalho, sendo eleito membro da Sociedade Filosófica de Cambridge e recebendo a maior honra de sua vida: tornou-se membro da Royal Society de Londres junto com mentes célebres como Robert Boyle, Robert Hooke, John Evelyn e Isaac Newton. Uma anedota conhecida para demonstrar a importância e a naturalidade com que o indiano pensava na matemática refere-se a quando o seu professor (G.H. Hardy) lhe visitou no hospital e mencionou que o número do táxi em que veio era 1729, que para o docente era sem importância. Ramanujan rebateu mostrando a beleza que ele via no mais aleatório dos números, justificando que se tratava do menor natural representado, de duas formas diferentes, pela soma de dois cubos (1729 = 10³ + 9³ = 1³ + 12³).

Em março de 1919, Ramanujan retornou para a Índia – agora bastante famoso e respeitado, mas também bastante doente. Ele continuou seu trabalho até abril de 1920, quando aos 32 anos faleceu. Para nós, estudantes de ciências tão próximas e tão necessitadas da Matemática, Ramanujan deve ser um lembrete da inerência dessa linguagem ao ser humano. Apesar de seu legado científico ser, no mínimo, um tesouro da humanidade, sua lição mais significativa é a de que a matemática deve ser integrada à forma como o homem pensa e interage com a natureza. Talvez pela objetividade e formalismo com que nos é apresentada, possamos nos esquecer que essa linguagem é fruto, em último caso, da criatividade e da vontade dos indivíduos de entender o mundo.




Referências: 

Who was Ramanujan? Disponível em http://blog.stephenwolfram.com/2016/04/who-was-ramanujan/. Acesso em 27 de novembro de 2016.

A vida de Ramanujan. Disponível em http://webpages.fc.ul.pt/~ommartins/seminario/Ramanujan/biografia.htm. Acesso em 25 de novembro de 2016.

A matemática intricada de Srinivasa Ramanujan. Disponível em https://www.youtube.com/watch?v=VwiMPkIKN7A. Acesso em 25 de novembro de 2016.










          









Comments