Matérias‎ > ‎

Bitcoin: A Criptomoeda Descentralizada

-----------------------------------------------------------------------------------------------------------

Bitcoin: A Criptomoeda Descentralizada

Entenda como funciona o protocolo Bitcoin e o que acontece nos bastidores das transações virtuais dessa moeda que sofreu uma valorização de 140% apenas em 2017.


Por Giuseppe Di Giuseppe Deininger


Milhares de anos atrás, quando as moedas sequer existiam, o homem já realizava comércio com trocas favoráveis para os envolvidos, o chamado escambo. As maneiras de se realizar vendas evoluíram ao longo do tempo até o ponto de se utilizar discos de metais e papel como indicadores de valores que são atribuídos a qualquer objeto ou serviço.

Um pouco mais atuais, os cartões de créditos surgiram como substitutos do dinheiro físico a fim de tornar transferências monetárias mais simples e seguras. Apesar das pequenas diferenças, uma característica comum de todas as moedas mais usuais é a existência de uma entidade administradora central. Esta é responsável por controlar a emissão de notas e consequentemente o valor da moeda por conta da inflação.

Em 2008, o protocolo Bitcoin foi descrito por Satoshi Nakamoto, pseudônimo para seus criadores, que até hoje não foram identificados, e em 2009 a rede de Bitcoins começou a operar com a emissão das primeiras moedas digitais. A grande diferença dessa nova moeda para as anteriores é a ausência da necessidade de qualquer intermediador ou autoridade. Desse modo, todos os usuários possuem o mesmo nível de privilégios e uma possível tentativa de fraude poderia ser identificada pelos que utilizam o sistema. A rede Bitcoin funciona de maneira semelhante ao e-mail: apesar de existirem diferentes softwares e versões que conseguem utilizar o sistema, nenhum deles pode fazer mudanças no funcionamento central do protocolo, pois isso implicaria numa incompatibilidade com os demais usuários, o que reforça a sua segurança contra fraudes.

Todos os registros de transações são armazenados em uma Cadeia de Blocos de maneira permanente e à prova de violação. Esse banco de dados pode ser definido por dois tipos de registros: individuais e de blocos. Cada bloco contém o registro de todas as transações individuais em um intervalo de tempo. Geralmente é criado um novo bloco a cada 10 minutos e a nova unidade possui uma referência ao seu bloco anterior, gerando assim a cadeia que é transmitida para todos os usuários e possui informações sobre todas as transações desde a criação do Bitcoin, de maneira descentralizada e transparente.

Para que uma transação individual ocorra, são necessários três passos. O primeiro deles, e mais simples, é o recebimento das informações a respeito do destinatário. Esses dados não dizem nada a respeito da pessoa que está envolvida na transação, mas o caminho para que o valor chegue até ela corretamente. Normalmente esse endereço é informado por meio de uma sequência alfanumérica ou um código QR. Em seguida, a transação é criada e por fim transmitida. Esse último passo é o mais importante no funcionamento de todo o sistema Bitcoin.

Figura 1. Quantidade de transações mensais com Bitcoins desde sua criação. [Fonte: https://mercadolivrebtc.wordpress.com/2016/01/21/o-que-e-bitcoin-3-motivos-porque-voce-deveria-aprender/]

Apesar de as informações a respeito das transações estarem disponíveis para todos os usuários, estão protegidas por uma criptografia que envolve cálculos matemáticos extremamente complexos e que requerem muito esforço computacional para serem validados. Por conta disso, para qualquer transferência de bitcoins, existe uma pequena taxa que é repassada juntamente com novas frações de bitcoins criadas para os chamados mineradores. Estes são os responsáveis por solucionar a criptografia e validar as transações antes de serem transmitidas para o restante da cadeia de blocos.

Figura 2. Representação da complexidade dos cálculos e geração de blocos baseado na quantidade de mineradores. [Fonte: https://www.bitcoinmining.com/]

O sistema responsável pela criptografia é programado para aumentar a complexidade a cada novo bloco. A justificativa para isso é que caso vários usuários conseguissem decifrar os cálculos, uma quantidade maior de novos blocos seria criada, e consequentemente mais frações de bitcoins seriam adicionadas ao sistema, o que geraria um efeito semelhante à inflação. Um exemplo disso ocorreu em 2011, quando o preço do bitcoin caiu de 30 dólares para 2 dólares devido à velocidade de criação de novos bitcoins.

Figura 3. Quantidade de Bitcoins existentes desde sua criação e projeção para os próximos anos. [Fonte: https://mercadolivrebtc.wordpress.com/2016/01/21/o-que-e-bitcoin-3-motivos-porque-voce-deveria-aprender/]

Uma das razões para o Bitcoin estar em alta nos últimos anos se deve à sua flexibilidade de atribuição. Cada unidade de bitcoin pode ser fracionada em 100 milhões de unidades, e cada uma delas pode ser vinculada a um objeto ou moeda. Uma pessoa pode, por exemplo, vincular uma quantidade de bitcoins a um imóvel e trabalhar com os bitcoins numa possível venda. Como os custos de cada unidade variam, a moeda pode ser vista como um tipo de ação na bolsa de valores, implicando na valorização ou desvalorização de tudo que esteja vinculada a ela.

Por não ser centralizado, o protocolo Bitcoin não está sujeito a nenhum tipo de imposto como o Imposto sobre Operações Financeiras (IOF), ou seja, uma pessoa que deseje converter uma quantidade de reais em euros de maneira legal sem pagar impostos com isso pode comprar bitcoins com o valor em reais e em seguida vendê-lo em euros. Como a cotação de venda de um bitcoin é determinada pelo vendedor, cabe ao comprador decidir uma oferta que reduza suas perdas numa conversão monetária.

Apesar das vantagens citadas anteriormente, o protocolo possui algumas características negativas bastante sérias. A primeira delas diz respeito à segurança, pois o que separa um usuário do acesso aos seus bitcoins é uma senha, logo, se ele utilizar essa senha em um computador comprometido, existe o risco de alguém obter acesso e utilizar as informações obtidas de maneira prejudicial.

Além disso, uma transação não pode ser revertida. Se uma compra de um objeto foi feita na internet e a forma de pagamento utilizada foi o bitcoin, o único fator que garante que o comprador receberá o produto comprado após o pagamento é a honestidade do vendedor, pois caso ele não o envie, o valor não poderá ser ressarcido.

Por fim, o valor de um bitcoin aumentou muito nos últimos meses e, como em toda ação que sofre o mesmo tipo de valorização, o risco de que ocorra uma queda brusca em seu valor é alto, numa situação chamada de bolha financeira. Pessoas que não possuem experiência nesse mercado podem perder grandes quantias com a desvalorização do bitcoin da noite para o dia. Utilizar bitcoins para ações de conversão de unidades monetárias é bastante fácil e de baixíssimo risco, mas investir nela apenas porque ela é a moeda mais noticiada ultimamente é extremamente arriscado e pouco recomendado.




Referências: 

Bitcoin: A Peer-to-Peer Electronic Cash System. Satoshi Nakamoto. Disponível em: https://bitcoin.org/bitcoin.pdf. Acesso em: 23 de julho de 2017.

How Bitcoin Mining Works. Disponível em: https://www.bitcoinmining.com/. Acesso em: 27 de julho de 2017.

The Real Value of Bitcoin and Crypto Currency Technology. Disponível em: http://bitcoinproperly.org. Acesso em: 28 de julho de 2017.










          









Comments