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Eletricidade versus Insegurança

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Eletricidade versus Insegurança

A adesão da eletricidade como um dos principais meios de desenvolvimento e qualidade de vida trouxe uma série de benefícios para o dia a dia do homem. Entretanto, para se privilegiar desse bem, é necessário ter conhecimento dos perigos aos quais uma pessoa é submetida ao usar equipamentos e redes elétricas.


Por Saulo Afonso Sobreira Lima


Na pré-história, a humanidade já tinha contato com a eletricidade. Mesmo sem entender o fenômeno, os habitantes do planeta na época podiam observar e se beneficiar dessa misteriosa “força da natureza”. Por meio dos incêndios florestais provocados por descargas de raios, os homens das cavernas descobriram o fogo e se fortaleceram com o uso desse recurso. Entretanto, com passar dos séculos, outros fenômenos naturais foram despertando a curiosidade do homem, que propôs a desvendá-los

No século VI a.C., o cientista Tales de Mileto foi o primeiro a estudar a eletricidade. Devido a uma pedra de âmbar guardada no bolso de sua vestimenta de pele de animal, Tales pôde comprovar um grande fenômeno físico: a eletrização por atrito. Ao se locomover com a pedra no interior da sua roupa, ele percebeu que o objeto estava atraindo pequenos fiapos de lã e pedaços de grãos. O atrito entre as suas vestes e o cascalho estava deixando o corpo eletrizado. Por conta desse fato, o termo eletricidade surgiu devido a palavra grega âmbar, que significa eléctron.

Figura 1. Pedra de âmbar. [Fonte: http://cienciasentreciencias.blogspot.com.br/2011/04/o-que-e-ambar.html]

Outros cientistas incorporaram a premissa e a ideia deixadas por Tales em suas pesquisas e começaram a desvendar as incógnitas no campo da compreensão da eletricidade. Michael Faraday, Thomas Edison, Nicolas Tesla e Benjamin Franklin são grandes personalidades que desenvolveram métodos e teorias para a utilização da força elétrica em benefício do homem.

Após séculos de evolução, a eletricidade alcançou um patamar de maestria na vida humana, tornando-se sinônimo de qualidade de vida e desenvolvimento. Nos tempos atuais, é difícil imaginar a vida sem eletricidade, ainda mais quando o conforto das casas e a economia mundial possuem uma quase absoluta dependência de equipamentos e máquinas. Dessa forma, é necessário introduzir e regulamentar meios como equipamentos e normas, que assegurem uma excelente qualidade energética.

O manuseio da eletricidade no dia a dia requer o uso de uma série de medidas para a prevenção de acidentes. Por mais que a distribuição e a qualidade da energia que chega aos lares e indústrias tenham evoluído bastante, ainda ocorrem inúmeros incidentes com diferentes níveis de gravidade no mundo.

Os dados estatísticos da Associação Brasileira de Conscientização para os Perigos da Eletricidade (ABRACOPEL) mostram que, apesar da grande evolução da área, o número de acidentes envolvendo equipamentos ou redes elétricas no país é extremamente elevado. Só no ano de 2015 foram catalogados 1249 incidentes envolvendo eletricidade, que totalizaram 590 mortes. Dentro desse vasto número de óbitos, 32 crianças, de faixa etária entre 0 a 5 anos, foram vitimadas, devido a ocorrências tanto dentro como fora de casa.

Figura 2. [Fonte: http://abracopel.org/estatisticas/]

A maior parte dos acidentes domésticos ocorrem por conta de tomadas sem proteção, fios desencapados, mau manuseio dos eletrodomésticos ou problemas na instalação. Muitos desses incidentes ainda acontecem por conta da falta de informação do consumidor sobre os perigos aos quais sua casa e sua família estão submetidos. O descumprimento das condições técnicas mínimas de qualidade das instalações elétricas compromete a segurança pessoal e patrimonial necessária para a prevenção de acidentes.

Ademais, o uso de instalações que não seguem as normas de segurança pode acarretar em consequências ainda maiores. Os incêndios provenientes de curtos-circuitos vitimam dezenas de pessoas por ano no Brasil. Segundo a ABRACOPEL, o ano de 2015 marcou um aumento de quase 50% no número de incêndios decorrentes de curtos-circuitos em relação ao ano de 2014, de 295 para 441 ocorrências. Esse acréscimo no número de acidentes também refletiu no índice de óbitos do ano, que subiu mais de 60% quando comparado ao ano anterior, de 20 para 33 mortes.

Figura 3. [Fonte: http://abracopel.org/blog/incendios-por-curtos-circuitos-dao-um-salto-em-2015/]

As consequências dos acidentes que envolvem eletricidade possuem uma dependência direta com o ambiente no qual a vítima está inserida. Fatores como a umidade do local e o material de contato entre o indivíduo e a fonte que deu origem ao incidente influenciam diretamente na gravidade da ocorrência.

Outro tipo de acidente que acontece com elevada frequência no nosso dia a dia é o choque elétrico. Definido como a sensação sentida por uma pessoa quando tem o seu corpo submetido à passagem de uma corrente elétrica, seja ela contínua ou alternada, o choque elétrico manifesta-se por três formas distintas: eletricidade estática, eletricidade dinâmica e as descargas atmosféricas ou arcos elétricos. Dentre esses tipos, os acidentes envolvendo instalações de alta tensão são os mais perigosos. Nesse caso, não é necessário sequer o contato físico do corpo humano com as partes energizadas da instalação.

O efeito do choque elétrico no corpo pode ser intensificado devido a fatores que determinam a gravidade do acidente. Dentre esses elementos, estão a característica da corrente elétrica, a resistência elétrica do corpo humano e o percurso da corrente. O último fator definido denota uma das principais medidas de primeiros socorros em caso de acidentes: não tocar na vítima. Ao segurar o indivíduo, um novo percurso é fornecido para que a corrente flua, atingindo outra parte do corpo anteriormente não atingida. A exemplo disso, em um acidente, quando uma pessoa puxa a outra pela mão, um novo caminho que abrange a região torácica e o coração é cedido à corrente.

Além disso, acidentes envolvendo corrente alternadas são os mais perigosos. Nesse caso, a vítima enfrenta um violento estremecimento do corpo, seguido do aumento da temperatura no ponto de contato. Toda essa sensação pode ser intensificada se a pessoa for submetida a uma maior tensão e frequência elétrica aplicada. Já o aumento da temperatura no ponto de contato é proporcional à intensidade da corrente à qual o corpo está submetido.

Estudos apontam que a presença de uma corrente elétrica superior a 1mA no corpo humano já pode causar problemas que perduram durante anos na vida do indivíduo. Perda do controle do sistema muscular e\ou respiratório, parada cardíaca, queimaduras de 1º a 3º grau e até mesmo a morte (eletrocussão) são tipos de distúrbios que podem acontecer quando o homem é submetido a uma corrente elétrica.

Figura 4. Efeitos da Corrente Elétrica no Corpo Humano. [Fonte: http://eletricandrade.wixsite.com/eletrica-predial/blog]

Entretanto, o seguimento das normas que determinam as condições mínimas e essenciais para o funcionamento das instalações elétricas fornece uma maior garantia na segurança pessoal e da propriedade. A NBR-5410 (Norma Brasileira-5410) estabelece as condições à que devem satisfazer as instalações elétricas de baixa tensão no Brasil para instalações de edificações residenciais, prediais, comerciais, industriais e em quase todos os locais que precisam ser alimentados por uma tensão baixa.

Com a finalidade de prevenir e diminuir as consequências dos acidentes que ocorrem dentro das edificações, a NBR-5410 é composta por uma série de equipamentos elétricos que garantem a segurança de pessoas e animais. Dentre esses mecanismos, está o dispositivo de proteção contra a corrente diferencial residual (dispositivo DR), que possui a finalidade de detectar uma corrente de fuga do circuito. O seu funcionamento não impede a ocorrência do incidente, mas, em caso de um choque elétrico, o DR desarma o circuito, interrompendo a passagem de corrente. Isso faz com que o tempo de contato da vítima com a corrente seja diminuído e, consequentemente, as sequelas do acontecimento sejam amenizadas.

Outra grande aliada no processo de segurança contra acidentes é a informação. Ainda ocorrem acidentes devido a manipulação de máquinas ou instalações elétricas sem o conhecimento necessário do assunto. A falta de contato com os profissionais da área e a desinformação fazem com que muitas pessoas procurem maneiras mais fáceis e rápidas de utilizar seus equipamentos. Todavia, a maior parte dessas alternativas encontradas estão fora do padrão de segurança estabelecido. Além do mais, o não uso dos equipamentos de proteção individual (EPI’s) pode acarretar em consequências ainda mais severas.

O uso da eletricidade possibilitou ao homem o desenvolvimento de técnicas e métodos que, em um passado não tão distante, demonstravam-se impossíveis e até mesmo inimagináveis. Atuando como um divisor de águas, é praticamente impossível imaginar a vida humana sem todas as conexões elétricas fornecidas por esse advento. Por outro lado, apesar de toda evolução nesse campo, os perigos ainda continuam os mesmos. A utilização consciente e segura das redes e equipamentos elétricos é a forma mais eficaz de se beneficiar dos frutos que a eletricidade introduziu nas nossas vidas.




Referências: 

NBR - 5410. Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT). Disponível em https://www.iar.unicamp.br/lab/luz/ld/normas%20e%20relat%F3rios/NRs/nbr_5410.pdf. Acesso em 23 de maio de 2017.

Os Riscos do Choque Elétrico. Henrique Mattede. Disponível em https://www.mundodaeletrica.com.br/os-riscos-do-choque-eletrico/. Acesso em 23 de maio de 2017.

Estatísticas. Abracopel. Disponível em http://abracopel.org/estatisticas/. Acesso em 22 de maio de 2017.

Novas Estatísticas de Acidentes com Eletricidade. INBEP. Disponível em http://blog.inbep.com.br/novas-estatisticas-de-acidentes-com-eletricidade/. Acesso em 25 de maio de 2017.










          









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