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Aparelhos Auditivos: Acessibilidade e Futuro

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Aparelhos Auditivos: Acessibilidade e Futuro

A utilização de aparelhos auditivos como tratamento para determinados níveis de surdez vem se modernizando e apresentando soluções cada vez mais eficientes, acessíveis e conectadas.


Por José Iuri Barbosa de Brito


Os aparelhos auditivos passaram por uma transformação significativa na última década, aproveitando, principalmente, os avanços das técnicas de processamento digital de sinais e a tecnologia wireless. Apesar de ter sua utilização ainda bastante restrita a uma pequena quantidade de pacientes, várias soluções surgiram para resolver os problemas relacionados à utilização, manutenção e acessibilidade do deficiente aos aparelhos.

Para entender a utilização de novas tecnologias em auxílio da audição é necessário compreender o funcionamento dos atuais aparelhos auditivos. Um auxiliador de audição é um pequeno dispositivo eletrônico que pode ser usado dentro ou atrás da orelha. Ele faz alguns sons mais altos para que uma pessoa com perda auditiva possa ouvir, comunicar e participar mais plenamente nas atividades diárias. Todo dispositivo desse tipo contém três partes principais: o microfone, o amplificador e o fone. O sinal de áudio é recebido pelo microfone, que o converte em um sinal elétrico, posteriormente, mandado para o amplificador, este aumenta a sua potência e o envia para o ouvido através do fone.


Figura 1. Esquema de funcionamento de um aparelho auditivo. [Fonte: FixYourEars.com.]

Os aparelhos auditivos também possuem diversos formatos e tipos, que são utilizados de acordo com o nível de perda de audição do paciente, da necessidade de ajustes e das atividades diárias realizadas por ele. Existem quatro tipos mais comuns de dispositivos: O atrás-da-orelha (BTE), o dentro-da-orelha (ITE), o dentro-do-canal (ITC) e o completamente-dentro-do-canal (CIC).


Figura 2. Tipos e formatos mais comuns de aparelhos auditivos. [Fonte: National Institute on Deafness and Other Communication Disorders.]

A feira anual Consumer Electronics Show (CES), uma das mais importantes da indústria da tecnologia doméstica, que aconteceu nos dias 5 a 8 de Janeiro deste ano em Las Vegas. O evento trouxe diversas inovações e gadgets, incluindo dois novos aparelhos auditivos, ambos premiados com o CES Innovation Awards por sua capacidade de se conectar a outros dispositivos inteligentes, incluindo smartphones, tablets e, até mesmo, dispositivos domésticos, como alarmes de incêndio.

O Oticon OPN trouxe um diferencial para a feira, a capacidade de fazer com que o usuário do aparelho consiga identificar o sinal vindo de diversas fontes de som. Em aparelhos tradicionais o design e o formato permitem que apenas uma fonte de som seja escutada por vez, desse modo fica mais fácil reconhecer e eliminar o ruído de fundo. No novo tipo de aparelho é possível escutar em 360º sem prejudicar o entendimento, facilitando, dessa forma, a vida do usuário, que pode se comunicar melhor e com menos esforço em situações com múltiplas fontes de som, como, por exemplo, em uma conversa com várias pessoas.

O microchip VeloxTM permite que o aparelho OPN possa analisar e processar o sinal de áudio de múltiplas fontes em tempo real. Isso se deve ao alto poder de processamento do dispositivo e à resolução de frequência de 64 bandas, que permite uma análise de som mais precisa e uma qualidade melhor de áudio para auxiliar a capacidade do cérebro de entender o que está sendo escutado. Além disso, o dispositivo da Oticon possui um identificador de canais que permite que o usuário entenda a fala suave em 20% a mais dos casos sem ser necessário ajustar o volume do equipamento.


Figura 3. Percepção audível de um aparelho auditivo convencional, à esquerda, em comparação a um que utiliza a tecnologia OPN, à direita. [Fonte: Oticon.]

Uma melhoria muito interessante: Oticon é o primeiro fabricante de aparelhos auditivos a adicionar uma integração com a rede If This Then That (IFTTT), ela permite que os usuários OPN controlem suas casas via "Internet of Things (IoT)", ou seja, é muito mais fácil um usuário do sistema OPN controlar seus eletrodomésticos e aparelhos domésticos a partir da internet. Apesar de permitir conexão direta com aparelhos smartphone, a compatibilidade é restrita apenas aos novos modelos de iPhone com o sistema IOS. Com todas essas opções de conexão, os aparelhos auditivos se aproximam bastante dos equipamentos wereables (vestíveis), como os smart watches, tornando a experiência de utilizar esses dispositivos bem mais satisfatória e inclusiva.

A CES de 2017 também apresentou outra novidade relevante no campo dos dispositivos auditivos para níveis severos de perda de audição. Anteriormente, não existia uma tecnologia capaz de fornecer aos pacientes com alto grau de surdez um equipamento adequado para suas necessidades. Para suprir essas deficiências, surgiu a linha ReSound, da empresa ENZO, com o primeiro dispositivo voltado inteiramente para pacientes com graves problemas auditivos.

Recebendo o prêmio “CES Best of Innovation Award in Accessible Tech”, a nova linha familiar ReSound LiNX², além de suprir a demanda por aparelhos mais acessíveis, com redução de mais de 60% no preço do dispositivo, trouxe como novidade a conexão total dos equipamentos com celulares iPhone, lançando também o aplicativo ReSound Smart™ app, que funciona em conjunto com o aparelho.

Um dos grandes desafios de aparelhos auditivos é a necessidade de ajuste constante, já que o ambiente que o usuário se encontra interfere diretamente na determinação da intensidade e necessidade de processamento de ruído. Com o SmartTM app é possível configurar remotamente o aparelho auditivo para que ele se adeque da melhor forma ao ambiente em que se encontra. Contando com diversas configurações já programadas (festa, restaurante, reunião, etc.), a experiência e o conforto do paciente foi aumentada significativamente.


Figura 4. Par de aparelhos ReSound LiNX² do tipo BTE. [Fonte: ReSound.]

O conceito que está por trás tanto do Oticon OPN quanto do ReSound LiNX é o de Smart Hearing, ou seja, a escuta inteligente. As empresas passaram a entender melhor o sistema de comunicação e entendimento da audição humana e passaram a fornecer soluções cada vez mais adaptadas, fornecendo ao usuário uma experiência de escuta praticamente similar à natural.

A Siemens apresentou, no ano de 2016, a sua solução em Smart hearing chamada de easyTek, um aparelho de áudio inteligente capaz de ser mais eficiente que a audição normal humana, tornando a experiência de escuta em ambientes barulhentos mais confortável até mesmo para não-surdos. Além dessa capacidade, o novo dispositivo é capaz de adaptar-se ao ambiente exterior e encontrar de maneira autônoma as melhores configurações de som para fornecer ao usuário a melhor qualidade possível. A intenção é expandir o mercado de aparelhos auditivos para pessoas que não apresentam deficiência auditiva, mas desejam aparelhos que auxiliem melhorando as capacidades físicas, dessa forma aumentando a produtividade em atividades que exigem máxima precisão.

A linha easyTek, seguindo a tendência dos demais equipamentos, o aparelho easyTek possui grande variedade de possibilidades de conexão: USB, Bluetooth, Jack 3,5 mm e receptor FM. A intenção do easyTek é tornar-se uma central multimídia portátil, conectando os aparelhos auditivos aos demais acessórios, provendo a capacidade de gerir de maneira eficiente e prática todos os eletrônicos e dispositivos conectados ao easyTek.


Figura 5. Conectividade de um aparelho easyTek com outros equipamentos. [Fonte: Siemens.]

A Oticon está também na vanguarda de outra inovação, o BrainHearingTM, que baseia-se no processo de escuta do ser humano, em que o cérebro atua de maneira decisiva. Ao atuar juntamente com os ouvidos, o cérebro potencializa o poder de escuta e faz com que informações inúteis e desagradáveis sejam evitadas, de modo que o esforço na comunicação seja eficiente e rápido. A solução encontrada pela empresa para utilizar esse poder e eficiência natural da audição é tornar o sinal de áudio que chega ao cérebro mais amigável e similar ao de uma pessoa saudável, de modo que o cérebro atue de maneira incisiva no entendimento do que está sendo escutado.

A perspectiva adotada, chamada de “Brain First”, visa reconhecer que, dentro do estudo da audiologia, a compreensão e entendimento da fala é um processo cognitivo; portanto a parte principal do processo acontece no cérebro, o processamento final do sinal de áudio. Assim, para tornar o sinal mais amigável para o cérebro, é necessário que o som chegue o mais limpo e natural possível, com toda a riqueza de detalhes necessários para fazer com que o processamento se assemelhe ao que ocorre naturalmente. Para que isso ocorra, deve haver um balanceamento no processamento do sinal digital de áudio, de modo que durante o processo de compressão não ocorra perdas de detalhes originais. Com o sinal claro, o cérebro pode utilizar o som escutado por ambos os ouvidos e procurar se orientar de modo a ajustar o melhor foco, separando o que é importante do barulho externo.

A tecnologia BrainHearing ™ ajuda com as tarefas de orientar, reconhecer, focar e separar o som de uma forma que é precisamente programada para corresponder à forma como o cérebro naturalmente entende o som. Com a nova tecnologia, os aparelhos auditivos da Oticon fornecem o som com o sinal mais claro e puro possível, da maneira como o cérebro consegue melhor entendê-lo.

Os resultados obtidos pela empresa são bastante positivos. Os aparelhos auditivos com a tecnologia BrainHearingTM obtiveram uma aprovação recorde de 96% dos usuários. Esses pacientes relataram que, ao utilizar o dispositivo, o processo de escuta se tornou bem menos fatigante. Os testes em pessoas que perderam a audição em um curto tempo também mostraram que essa tecnologia se assemelha bastante à escuta natural, de modo que os pacientes não conseguiam notar a diferença em relação a quando tinham a escuta saudável.

Existe a perspectiva de que os atuais fones de ouvidos no futuro também atuem como aparelhos auditivos para pessoas com níveis moderados de perda de audição. Em 2016 a Apple apresentou o novo modelo de fone de ouvido chamado de Airpod. Apesar dos Airpods não serem aparelhos auditivos propriamente ditos, a nova tecnologia wireless de cancelamento de barulho auxilia pessoas que possuem apenas algumas dificuldades de escuta em determinados ambientes. Além disso, é perceptível o esforço das empresas em fornecer não só o cancelamento puro de barulho, mas também a melhor experiência de escuta em cada ambiente, que inevitavelmente ajudará no desenvolvimento de aparelhos auditivos melhores e mais eficientes.

Apesar de contar com poucos consumidores, cada vez mais é possível observar que as inovações tecnológicas permitem um melhor aproveitamento e eficiência dos aparelhos auditivos que ajudam pessoas com determinados níveis de surdez. A modernização desses dispositivos tende a inseri-los no cotidiano do deficiente de modo que estejam integrados aos demais equipamentos utilizados pelos usuários, sejam eles telefones, microfones, ou até mesmo os eletrodomésticos da sua própria casa. A inclusão proporcionada por essas tecnologias faz com que as pessoas que apresentam problemas na audição sejam inseridas em uma vida normal e sem empecilhos.




Referências: 

New Cutting-Edge Hearing Aids. AARP. Disponível em http://www.aarp.org/health/conditions-treatments/info-2017/hearing-aid-technology-gadgets-kb.html. Acesso 20 de Abril de 2017.

Oticon’s BrainHearing Technology Designed to Help Brain Make Sense of Sound. The Hearing Review. Disponível em http://www.hearingreview.com/2014/09/oticons-brainhearing-technology-designed-help-brain-make-sense-sound/. Acesso 20 de Abril de 2017.

Smart Hearing Aids. Siemens. Disponível em https://usa.bestsoundtechnology.com/smart-hearing-aids/. Acesso 20 de Abril de 2017.

BrainHearing Technology. Oticon. Disponível em https://www.oticon.com/your-hearing/hearing-health/brainhearing-technology#Down. Acesso 20 de Abril de 2017.












          









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