E se a Lua desaparecesse?
Entenda como poderia ser a vida na Terra sem o mais belo e próximo astro, que inspirou não apenas músicos e poetas, como também os primeiros passos da astronomia.
Por Ellen Ribeiro Lucena
Contemplar um astro no céu é com certeza uma experiência incrível. Para a nossa sorte, temos um tão perto da Terra, que impressiona o homem com detalhes vistos até mesmo a olho nu. O desejo de entender algo tão belo pode ter sido um grande pontapé para o interesse do homem pelos mistérios da natureza. Mas, e se, de repente, em uma noite de lua cheia, este astro fascinante desaparecesse? O que aconteceria com nosso planeta? Em um limiar entre ciência e ficção, é possível levantar hipóteses que podem nunca ser comprovadas, mas que tornam possível entender a influência do astro preferido dos poetas sobre nós, respeitando os limites estabelecidos pela astronomia e geologia.
Em sua trajetória em torno da Terra, a Lua exerce uma força de atração gravitacional sobre o planeta e desloca seu volume de água, causando uma elevação nos níveis do mar, que ocorre tanto na região mais próxima do astro, quanto na região oposta. Isso porque a resultante centrípeta na Terra em reação à força de atração pelo satélite, assim como pelo Sol, faz com que o mar se eleve nos dois opostos. Por isso temos diariamente (em algumas partes do planeta) duas marés altas, sendo as mais altas decorridas do alinhamento Sol-Lua-Terra.

Para compreender melhor esse efeito conhecido como efeito das marés mútuas, é necessário, inicialmente, considerar que no deslocamento dos mares e oceanos pelo continente não existe nenhum atrito. Nesse caso, o local de elevação das marés corresponderia exatamente ao lugar por onde a Lua estaria passando. No entanto, observa-se que existe uma defasagem entre esses locais, o que significa que a rotação da Terra também exerce uma influência sobre o deslocamento das marés e isso porque o atrito anteriormente desconsiderado na verdade existe. Por causa dele, a movimentação dos mares exerce um torque sobre a Terra, diminuindo o momento angular dela e atrasando sua rotação. Esse atraso é compensado pelo afastamento da Lua que se dá em cerca de três centímetros por ano.
Com o desaparecimento da Lua, inicialmente as marés baixariam, o mar estaria calmo, mas o caos no trânsito marinho reinaria, cardumes de peixes guiados pelo curso das marés não teriam mais rumo a seguir. As tartarugas marinhas tão protegidas pelos homens, capazes de navegar longas distâncias por correntes marinhas para desovar, poderiam nunca encontrar suas praias de desova.
Da mesma forma, animais como corujas, morcegos, mariposas ou lagartos, que têm a habilidade de visão noturna e utilizam-na para caçar no período em que a pouca luz os favorece, teriam essa capacidade completamente comprometida, já que a faixa de luz durante a noite seria ainda menor que a iluminação mínima proporcionada pela Lua. Eles estariam fadados à extinção. Toda essa perturbação culminaria em um completo desequilíbrio na cadeia alimentar e as espécies como conhecemos hoje iniciariam um processo de completa transformação.
Além disso, o eixo da Terra, que é mantido em aproximadamente 23 graus e meio graças aos “puxões” gravitacionais entre o planeta e a Lua, poderia variar de 0 a 90 graus, girando como um peão desgovernado, o que causaria uma mudança dramática nas condições climáticas do planeta e nas durações dos dias e das noites, ocasionando temperaturas extremas. O planeta, então, se tornaria muito hostil à vida.
Observando as imensas cicatrizes da Lua, é possível perceber que ela, em várias situações, sofreu grandes impactos de meteoros que poderiam ter atingido diretamente a Terra. Uma colisão entre nosso planeta e um meteoro poderia fazer com que parte da atmosfera se perdesse no espaço e centenas de quilômetros cúbicos de poeira se espalhassem pelo ar, essa poeira atrapalharia a passagem da luz solar e poderia ficar em suspensão por muitos anos o que causaria um rigoroso inverno global.

A Lua está se afastando da Terra, mas isso não significa que ela se afastará tanto que acabará perdendo a influência gravitacional do planeta e sairá viajando por aí. Muitos cientistas acreditam que chegaria um ponto de distanciamento em que a Lua se tornaria um satélite estacionário, de modo que o efeito das marés não contribuiria mais para a dissipação de energia do sistema Terra-Lua e a rotação da Terra seria de 55 dias, assim como a translação da Lua. Certamente a essa altura o acoplamento entre as duas não teria mais os mesmos efeitos. Quando isso ocorresse, a distância entre os dois astros seria 60% maior que a atual, mas isso demoraria bilhões de anos para acontecer e antes que ocorresse, o Sol já estaria morto ou até mesmo, já teria engolido a Terra e outros planetas próximos a ele.
Existem, no entanto, muitos fenômenos lunares que são analisados por laboratórios de pesquisa da NASA e são chamados de “Fenômenos Lunares Transitórios”. Pesquisadores revelam que existem muitos tipos deles e que provavelmente têm origens diferentes. Não se sabe ao certo o que eles podem significar, mas de uma coisa sabemos: a Lua, mesmo muito perto, ainda é um astro cheio de mistérios profundamente aliado à manutenção da vida na Terra que continuará inspirando músicos e poetas por todo o mundo.
Referências:
E se Lua não existisse? Denis Russo Burgierman. Disponível em: http://super.abril.com.br/tecnologia/e-se-lua-nao-existisse/. Acesso em: 24 de fevereiro de 2017
Evolution of the Moon. NASA. Disponível em: https://youtu.be/UIKmSQqp8wY. Acesso em: 24 de fevereiro de 2017.
O fenômeno das marés. AFPBR. Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=k6Gqmkcosm0. Acesso em: 24 de fevereiro de 2017.
Efeitos das Marés Sobre o Sistema Terra-Lua. Wilson Lopes. Instituições. REVISTA BRASILEIRA DE ENSINO DE FÍSICA, 17 de Janeiro de 1996.
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