Por Ellen Ribeiro Lucena

Em 15 de abril de 1452, nascia um dos mais admirados pintores, inventores, musicistas e filósofos, na época em que o humanismo rompia as tradições do teísmo e dava origem ao movimento conhecido como Renascimento. Segundo a historiadora Helen Gardner, Leonardo da Vinci foi o homem mais aprofundado em conhecimentos distintos, cujas contribuições vão além das que lhe foram creditadas.

Nascido em Vinci, na região da Florença, Itália, como filho ilegítimo do tabelião Messer Piero Fruosino di Antonio da Vinci, Leonardo di Ser Piero da Vinci< (que significa “Leonardo filho de Messer Piero nascido em Vinci”), não recebeu o sobrenome do pai, por isso, assinava seus trabalhos como Leonardo ou Io Leonardo (“Eu, Leonardo”). Ainda assim, morou com o pai depois do casamento de sua mãe com um lavrador e por muito tempo foi filho único, ainda que bastardo.

Ainda na infância, os talentos de Leonardo como desenhista começaram a ser reconhecidos. O biógrafo Giorgio Vasari conta que certo dia um camponês pediu a Ser Piero que Leonardo pintasse um quadro em uma placa redonda. Da Vinci o fez, mas o desenho feito era tão bonito que Piero não teve coragem de entregá-lo ao camponês, em vez disso vendeu-o ao Duque de Milão e comprou um quadro com um coração atravessado por uma flecha que entregou ao camponês.

Em 1469, Andrea di Cione, conhecido como Verrocchio, tendo ciência das habilidades do menino, adotou-o como aprendiz em seu ateliê, onde pôde aprender desde cedo técnicas de pintura, modelagem, escultura e teve acesso ao conhecimento das ciências humanas, metalurgia, mecânica, química e carpintaria. E em todas elas desenvolveu algum talento.

A vida profissional do pintor foi marcada por grandes obras artísticas. Colaborou com Verrocchio na pintura de O Batismo de Cristo; foi lhe encomendada a pintura do quadro Adoração dos Magos para os monges de San Dontato a Scopeto, que foi interrompida pela mudança de Leonardo a Milão; já em Milão trabalhou na Virgem dos Rochedos para a Confraria da Imaculada Conceição; fez muitos trabalhos para Ludovico Sforza (duque de Milão de 1494 a 1499), incluindo não apenas pinturas, mas também a organização de desfiles e design de carros alegóricos. < /p>

O ano de 1499, marcado pela Segunda Guerra Italiana foi um ano de mudanças para o famoso pintor. Ele mudou-se para Veneza onde trabalhou como arquiteto e engenheiro militar, desenvolvendo estratérgias de defesa para a cidade, principalmente contra os ataques navais. Tornou-se então conhecido por sua criatividade, com invenções mirabolantes pelas quais poucos reis se arriscariam em tentar pôr em prática.

Voltou para Florença em 1500, mas ficou por pouco tempo, pois viajou para Milão para finalizar trabalhos pendentes, convidado por Charles d’Amboise, que fazia parte do ducado de Milão e permaneceu lá por muitos anos. Fez mais outras lindas obras, dentre elas Mona Lisa, também chamada de La Gioconda (“a risonha”) e A Última Ceia, pintura polêmica que foi tema do livro “O Código da Vinci” de Dan Brown. O quadro retratra Cristo e os doze discípulos na ceia que antecedeu a Crucificação. O questinamento levantado pelo livro é sobre a aparência feminina do discípulo João ao lado direito de Cristo, que poderia ser Maria Madalena. Além disso, o discípulo se apresenta vestido com uma túnica azul com um manto vermelho, enquanto as vestes de Jesus são uma túnica vermelha com um manto azul, o que significaria um laço matrimonial entre os dois. Uma das sugestões de Dan Brown era então que Maria Madalena seria a esposa de Cristo, retratada no quadro de Da Vinci ao lado direito de Jesus.

Dentre as muitas obras artísticas de Leonardo da Vinci, ele não se ateve a produzir trabalhos em troca de reconhecimento – e isso lhe conferiu uma fama de tratante, devido aos grandes atrasos e obras incompletas – mas com o objetivo de expressar seus conhecimentos mais ínfimos, por isso rabiscava em seu diário todas as suas ideias e observações. Após a sua morte em 2 de maio de 1519, em Amboise na França, deixou seus cadernos ao seu principal herdeiro e pupilo, o conde Francisco Melzi.

Os cadernos sobrevivem até hoje e foram disponibilizados de forma on-line pela Biblioteca Britânica em Londres. Neles estão descritas as principais invenções de Leonardo. O helicóptero de Da Vinci tinha um design diferente dos helicópteros feitos em 1940, mas o princípio de funcionamento era o mesmo: compressão do ar como propulsão de voo. No entanto, na invenção dele, seriam necessários quatro homens para rotacionar o eixo central, o que, em seu imaginário, se fosse feito com velocidade suficiente, levantaria a aeronave. Mas cientistas acreditam que o helicóptero de Da Vinci jamais poderia sair do chão. Ainda assim, a teoria desenvolvida por ele era muito à frente de seu tempo.

Da Vinci era fascinado pelo voo dos pássaros e tinha um grande desejo de que o homem pudesse ter asas e voar da mesma forma, por isso inventou um modelo de paraquedas, um pouco diferente do primeiro criado por Sebastien Lenormand em 1783, mas que foi desenvolvido recentemente e apresentou bons resultados. Com o mesmo objetivo ele inventou o ornitóptero, intrumento que imitava a estrutura óssea dos pássaros que permitiria aos seres humanos experimentar a liberdade de voar.

Além do tanque de guerra e um Canhão de trinta e três canos; um traje para mergulho que incluía a ideia de armazenar o ar; rolamentos iguais aos que foram patenteados por Philip Vaughan, em 1792; Da Vinci foi a primeira pessoa a idealizar um robô humanoide que poderia sentar, virar a cabeça e acessar o elevador sem precisar de ajuda.

Ele ainda especulou a ideia de gravidade dois séculos antes de Newton. Em suas anotações ele diz que todo peso tende a cair para o centro pelo caminho mais curto possível, com essa ideia criou máquinas que(,) em seu entendimento(,) teriam movimento perpétuo, mas desistiu da ideia declarando que essas máquinas não funcionariam como ele imaginava porque “para cada ação existe uma reação igual e oposta”.

Leonardo viu o mundo como alguém capaz de ter vislumbres do futuro e que registrou suas visões em um diário. Como os vanguarditas foram assim chamados por estarem muito à frente de seu tempo e serem reconhecidos apenas séculos depois, Leonardo foi um gênio que só pôde ser compreendido no fim do século XX. Uma mente que marcou muitas gerações e cuja genialidade jamais será esquecida. Como disse Sigmund Freud: Ele foi um homem que acordou cedo demais na escuridão, enquanto os outros continuavam a dormir.

Referências: 

Leonardo da Vinci. Disponível em https://pt.wikipedia.org/wiki/Leonardo_da_Vinci. Acesso em 28 de Dezembro de 2016.

AWESOME Inventions By Leonardo Da Vinci! Origins Explained. Disponível em https://www.youtube.com/watch?v=_uhMiXmN9Dk. Acesso em 28 de Dezembro de 2016.

10 grandes invenções de Leonardo da Vinci. Michel Goulart. Disponível em http://www.historiadigital.org/curiosidades/10-grandes-invencoes-de-leonardo-da-vinci/. Acesso em 28 de Dezembro de 2016.