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Corrente Alternada versus Corrente Contínua: A Batalha entre os Gênios da Eletricidade

Conheça o maior debate da história da eletricidade. O debate que levou energia elétrica ao mundo.


Por Wislayne Dayanne Pereira da Silva


Estamos tão acostumados com os padrões que dificilmente paramos para pensar nos acontecimentos que levaram a eles. Nas últimas décadas do século XIX, por exemplo, seguramente a mais importante padronização da eletricidade desencadeou uma verdadeira guerra entre importantes cientistas da época. A dúvida era sobre qual a tecnologia ideal para transmitir energia elétrica. A solução estava dividida entre a conhecida corrente contínua (CC) defendida por Thomas Edison e a inovadora corrente alternada (CA) defendida por Nikola Tesla.


Figura 1. À esquerda, Nikola Tesla; à direita, Thomas Edison. [Fonte: Revista Aventuras na História/ Crédito: div]

Quando foram dados os primeiros passos para consolidação do uso da eletricidade, foi padronizado que a tecnologia de corrente contínua seria utilizada para o serviço de fornecimento de energia elétrica nos Estados Unidos. Patenteada por Thomas Edison, a corrente contínua supria bem as demandas iniciais referentes ao consumo doméstico (lâmpadas incandescentes) e na indústria (motores). Até 1882, o padrão determinado apresentava mais vantagens que desvantagens, tendo em vista que a sua utilização em baterias de armazenamento possibilitava o desenvolvimento de reservas de energia durante possíveis problemas nos geradores e a associação em paralelo dos geradores facilitava a economia de energia em períodos de alto consumo elétrico.

Entretanto, todo sistema inviabilizava a utilização de motores de corrente alternada. E pensando em preencher essa lacuna, Nikola Tesla, baseado nos seus trabalhos sobre campos magnéticos rotacionais, desenvolveu um sistema para transmissão de corrente alternada. Surgia assim o maior debate da história da eletricidade.

Segundo Tom McNichol, autor de “AC/DC: The Savage Tale of the First Standards War”, inicialmente o debate consistia em um conflito entre dois padrões técnicos, que possuíam o mesmo objetivo: a transmissão de eletricidade. Todavia o que começou como uma simples competição de padrões, logo se tornou uma guerra de interesses, conhecida como: A Batalha das Correntes. De um lado, Thomas Edison com General Electric defendia que o sistema de distribuição de energia seria mais seguro com a manutenção da utilização de corrente contínua. Do outro lado, o excêntrico gênio Nikola Tesla, apoiado pelo inventor George Westinghouse, se esforçava para promover a tecnologia de corrente alternada.


Figura 2. George Westinghouse e Nikola Tesla. Buscando tornar a transmissão de energia elétrica de longa distância uma realidade, eles combinaram suas habilidades, seu gênio e sua crença em uma nova tecnologia... corrente alternada. Juntos, eles iniciaram uma revolução que eletrizou o mundo. Uma Parceria Perfeita. (Tradução do texto). [Fonte:http://www.teslasociety.com/exhibition.htm]

Os dois lados estavam dispostos a defender seu produto até o fim e motivos para esse impasse não faltavam. O primeiro deles era que Edison não era um matemático, era um inventor capitalista. Por esse motivo não conseguia entender completamente o potencial da corrente alternada, já que para isso eram necessários conhecimentos bem específicos de matemática e física, conhecimentos esses que Tesla dominava. Esse jovem cientista Sérvio, apaixonado pela eletricidade e pelo magnetismo, foi funcionário de Edison logo que chegou aos Estados Unidos, e os desentendimentos originados nessa época contribuíram para a continuação da batalha.

Certa vez, Tesla disse ao patrão que conseguiria redesenhar os motores e geradores do sistema de fornecimento de energia, de forma que se tornassem eficientes e com melhor desempenho. Ironicamente, o patrão prometeu 50 mil dólares para esse feito. Tesla tomou como um desafio e um tempo depois, com o trabalho concluído, foi cobrar a recompensa. Surpreso, Edison brincou com o rapaz afirmando que o funcionário não entendia o humor americano, mas devido ao grande feito deu-lhe um aumento de salário. Tesla não ficou feliz com o que ouviu e pediu demissão. Mais tarde o jovem cientista passou a trabalhar com George Westinghouse, o concorrente direto da General Electric, sendo o primeiro a investir em sistemas de distribuição por corrente alternada, desenvolvido por Tesla, que poderia distribuir energia em longas distâncias muito mais economicamente que os sistemas DC.

A genialidade e peculiaridade de Nikola Tesla fez seu nome virar sinônimo de magia nos mundos intelectual, científico, social e de engenharia, nas palavras de James J.O’Neill, amigo e biógrafo do cientista. Isso se deve ao fato de ser um cientista futurista, que pouco precisava realizar experimentos práticos para produzir inovação eficiente.

Edison tempos depois admitiu que deveria ter favorecido mais o sistema de correntes alternadas, como sugerido por Tesla. Porém, até chegar a essa conclusão, protagonizou situações inusitadas com intuito de provar que o sistema AC era uma tecnologia “amaldiçoada”. A fim de demonstrar os perigos do produto do oponente e defender o seu, o inventor lançou uma campanha na qual, em eventos abertos ao público, animais eram eletrocutados com descargas de corrente alternada. E posteriormente, recomendou que o estado de Nova Iorque utilizasse a eletrocussão desse tipo como opção mais rápida para as penas de morte.


Figura 3. Elefante Topsy foi eletrocutado pelos técnicos de Thomas Edison. [Fonte:http://www.tesla-institute.com/index.php/war-of-the-currents]

Por outro lado, Tesla sabia que a ideia de Edison de fornecer energia a toda América Latina com sistemas de distribuição CC era bastante problemática. Então, para defender a opinião de que o sistema de corrente alternada era o melhor para o mundo, o gênio excêntrico renunciou todas as remunerações oriundas da parceria com Westinghouse na fabricação dos componentes para sistemas AC.

A corrente alternada, ao contrário da corrente contínua que possui fluxo ordenado de elétrons, caracteriza-se pelo fluxo alternado no sentido dos elétrons. Tal característica possibilita que, em uma linha de transmissão, os transformadores recebam a energia elétrica produzida com maior alcance e menos perdas se comparada com a tecnologia CC. Isso acontece porque em sistemas elétricos há perdas inerentes causadas pelo efeito Joule, no qual os elétrons constituintes da corrente se chocam com os elétrons presentes nos condutores elétricos, resultando em perdas de energia, na forma de calor. Na corrente alternada, o fluxo desordenado dos elétrons diminuem essas colisões e consequentemente geram perdas energéticas menores.

Para transmitir eletricidade a grandes distâncias, é necessário utilizar altas tensões. Para isso, os sistemas de corrente alternada são mais adequados, já que utilizam cabos de alta tensão e transformadores. Para sistemas CC, são necessários regeneradores de energia a cada seis metros e a utilização de cabos mais robustos feitos de cobre puro. Por esse motivo, a corrente contínua é usada em pilhas e baterias.

Para Tesla e Westinghouse, a melhor opção para levar eletricidade aos quatro cantos do mundo seria com grandes usinas construídas em locais afastados da cidade. Essas usinas transmitiriam energia por muitos quilômetros utilizando corrente alternada em cabos de alta tensão, reguladas por meio de transformadores para uso residencial.

A resistência de Edison em aceitar as vantagens dos sistemas AC era justificada pelo receio de substituir seu sistema desenvolvido totalmente do zero e que não oferecia perigo para a humanidade. A central elétrica de Edison funcionava à baixa tensão e a energia elétrica percorria o caminho direto do gerador às residências, a uma distância máxima de 800 metros. Seu plano era construir uma usina a cada poucos quarteirões.

Os esforços de Thomas Edison, para mostrar que a corrente alternada não era a melhor escolha, falharam. Em 1893, Westinghouse e Tesla foram contratados para fornecer energia elétrica para Feira Mundial em Chicago. Logo depois se tornaram os principais responsáveis pela construção da primeira usina hidrelétrica nas Cataratas do Niágara. A usina que deu início à eletrificação do mundo.


Figura 4. Primeira usina hidrelétrica. [Fonte:http://www.teslasociety.com/exhibition.htm]

Graças ao sucesso dos geradores nas Cataratas do Niágara, a corrente alternada passou a ser oficialmente aceita na geração de energia elétrica, ampliando o fornecimento e melhorando a eficiência na distribuição. Enquanto isso, a corrente contínua passou a ser comumente utilizada na eletrônica.

A batalha das correntes foi uma longa e desgastante disputa de interesses, mas graças a ela a humanidade pôde conhecer as características, potencial, vantagens e desvantagens das correntes alternada e contínua, o que foi extremamente útil para o desenvolvimento de diversas áreas do conhecimento.




Referências: 

Uma mente ligada à corrente. Superinteressante, 2012. Disponível em: http://www.superinteressante.pt/index.php?option=com_content&view=article&id=2127:uma-mente-ligada-a-corrente&catid=9:artigos&Itemid=83. Acesso em: 28 de dezembro de 2016.

Tesla and Edison – War of rhe Currents. Disponível em: http://www.tesla-institute.com/index.php/war-of-the-currents. Acesso em: 28 de dezembro de 2016.

Nikola Tesla. Disponível em: http://super.abril.com.br/historia/nikola-tesla/. Acesso em: 29 de dezembro de 2016.

Tesla Memorial Society of New York. Disponível em: http://www.teslasociety.com/exhibition.htm. Acesso em: 29 de dezembro de 2016.

Tesla versus Edison – A Guerra das Correntes. F. Marton. Disponível em: http://aventurasnahistoria.uol.com.br/noticias/personagem/tesla-versus-edison---a-guerra-das-correntes.phtml#.WGUXAdIrK01 . Acesso em: 28 de dezembro de 2016.











          






            


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