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A Quarta Revolução Industrial está Apenas Começando

A era da internet transformou o mundo que conhecemos. Indispensável em nosso cotidiano, ela se torna cada vez mais crucial à medida que incorpora a Computação na Nuvem e a Internet das Coisas aos sistemas digitais. Um mundo de possiblidades e inovação nasce com os sistemas ciber-físicos.


Por Camila Machado de Araújo


O homem cria novas tecnologias que ampliam sua capacidade de transformar o mundo constantemente. Por vezes, na história, surgem invenções tão revolucionárias que são um marco na evolução da sociedade: a criação molda o próprio criador. A partir de então, um novo modelo de relações com o mundo e entre os próprios seres humanos se estabelece. A máquina a vapor foi a peça chave da Primeira Revolução Industrial no século XVIII. Dessa vez, os robôs e sistemas ciber-físicos serão os protagonistas da nova onda de transformação.

“Nós estamos no começo de uma revolução que está fundamentalmente mudando nossa forma de viver, trabalhar e nos relacionar uns com os outros. O que eu considero ser a quarta revolução industrial é diferente de qualquer coisa que a humanidade experimentou até hoje”. Essa é a aposta de Klaus Schwab para o futuro em seu livro “A Quarta Revolução Industrial”, publicado este ano (2016). O engenheiro e economista alemão é diretor executivo do Fórum Econômico Mundial (FEM). Essa associação sem fins lucrativos reúne, anualmente, uma série de líderes políticos e econômicos, além de jornalistas e intelectuais, para debater temas influentes na conjuntura mundial. Este ano, A Quarta Revolução Industrial foi o tema central do encontro.

Figura 1. Klaus Schwab transmite mensagem de boas-vindas na edição de 2016 do Fórum Econômico Mundial, em Davos (Foto: Ruben Sprich / Reuters). [Fonte: http://g1.globo.com/economia/noticia/2016/01/comeca-nesta-quarta-em-davos-o-forum-economico-mundial-de-2016.html]

A “revolução” descrita por Schwab representa a convergência de diversas tecnologias emergentes, principalmente, a Internet das Coisas (IoT) e a Computação na Nuvem. O resultado é a evolução dos sistemas digitais, que surgiram na Terceira Revolução Industrial, para sistemas ciber-físicos e autônomos, nos quais os limites entre o mundo físico, digital e biológico se tornam cada vez mais imperceptíveis. Mas, para compreender seu impacto, antes é preciso explicar o que são essas duas tecnologias e suas promessas para o futuro.

A Internet das Coisas é um termo que descreve a tendência de se conectar cada vez mais objetos à internet. Quaisquer objetos podem ser dotados de sensores embutidos que coletam informações constantemente; compartilhando-as em rede, formam sistemas que podem agir a partir da interpretação desses dados e controlar a si mesmos. Esse desenvolvimento depende diretamente da evolução de áreas como os sensores wireless, inteligência artificial e nanotecnologia. Assim, os sistemas digitais passam a ser conectados em rede e interagir com o mundo físico.

Estima-se que o número de aparelhos conectados à internet alcance 28 bilhões em 2021, sendo 16 bilhões da IoT, segundo o Relatório de Mobilidade da Ericsson. Para conectar todas essas informações a bancos de dados e gerenciá-las, é preciso um sistema de identificação muito eficiente. A identificação por radiofrequência, RFID (Radio Frequency IDentifier, em inglês), tem papel crucial nesse meio. Os aparelhos são dotados de transponders, dispositivos que emitem sinais de rádio, os quais podem conter informações sobre a natureza, estado e localização dos objetos.

A Computação nas Nuvens é a outra metade da laranja. É possível utilizar ferramentas online sem precisar baixar aplicativos em seu computador. Para isso, basta acessar um servidor que forneça essa funcionalidade. E o que é um servidor? Um computador muito mais potente em capacidade de processamento, conectado a outros computadores por uma rede. Atualmente, há diversos supercomputadores conectados à usuários de todo o mundo pela rede das redes, a internet, fornecendo vários serviços. Como, por exemplo, quando se utiliza o Google Drive ou compiladores de códigos online. Esse conceito se estende das funcionalidades pessoais a muitos serviços prestados a empresas e indústrias. O sistema não apenas funciona de forma autônoma, como é possível monitorá-lo, interferir e ter acesso a todas as suas informações de qualquer parte do mundo.

Um exemplo de aplicação no nosso cotidiano é o projeto Mobii desenvolvido pela Ford e pela Intel: um sistema inteligente de controle para o seu carro. Uma câmera acima do volante detecta o motorista e aciona uma série de comandos integrados, ajuste de banco, seleção de músicas, agenda, contatos, todos personalizados. E se for detectado um estranho? Uma foto do indivíduo é enviada a um aplicativo no celular do dono para autorizar ligar o carro. Permite ainda configurar quais funcionalidades estarão permitidas, estabelecer um limite de velocidade, dentre diversas outras. Mobii detecta, ainda, se motorista desvia a atenção da pista e emite um sinal de alerta nos painéis. Tudo a partir de uma série de sensores conectados em rede para criar um sistema inteligente.

Figura 2. O projeto Mobii permite a interação com toda a interface do carro a partir de reconhecimento facial. [Fonte: http://www.cimm.com.br/portal/noticia/exibir_noticia/12049-pesquisa-da-ford-e-da-intel-demonstra-o-futuro-da-personalizacao-dos-carros]

Na matéria de Melina Costa para a Exame.com, “A Era das Fábricas Inteligentes está Começando”, é dado o exemplo da empresa alemã Linde, no setor de gases industriais. A empresa adotou um sistema de gerenciamento remoto de sua fábrica. Concentrou todos os seus engenheiros na cidade de Jundiaí no interior de São Paulo, de onde controlam todas as unidades da América Latina. Com o clique de um botão, um engenheiro de Jundiaí desativa uma máquina que apresenta comportamento fora do padrão em Guayaquil no Equador. “Ao concentrar todos os especialistas no centro de operações em Jundiaí, aumentamos 30% nossa produtividade”, diz Max Amílcar, diretor da Linde.

Figura 3. Centro de operações da empresa Linde na América do Sul. [Fonte: http://www.bansen.com.br/SALAdeIMPRENSA/LINDE_GAS/14082008_Linde_investe_centrooperacoes.asp]

O impacto nas indústrias será grande. A Alemanha é a principal pioneira no desenvolvimento de sistemas capazes de controlar toda a produção, independentemente da interferência humana. O projeto Indústria 4.0 do governo pretende tornar as fábricas completamente automatizadas, as decisões de chão de fábrica são tomadas pelas próprias máquinas de forma descentralizada, assim como a identificação e correção de erros, agendamento de manutenção, previsão de falhas, personalização de produtos na linha de produção, dentre muitas outras funcionalidades. Esses sistemas são capazes de interagir entre si e conosco a partir de uma série de sensores, coleta e processamento de dados na nuvem em tempo real.

Figura 4. Angela Merkel, chefe do governo alemão, em fábrica de Robôs.[Fonte: http://www.bbc.com/portuguese/geral-37658309]

Os Estados Unidos também se mobilizam nesse processo com a Smart Manufacturing Leadership Coalition (SMLC), em tradução livre, Coalisão da Liderança para Manufatura Inteligente. Uma organização que reúne empresas, universidades, profissionais de produção, laboratórios, órgão do governo, para desenvolver em conjunto de normas, plataformas e estratégias para implantar uma indústria completamente automatizada.

A Primeira Revolução Industrial demorou 100 anos para ter seus efeitos sentidos em todo o mundo. Em apenas 15 anos, a popularização dos computadores e da internet mudou nossa realidade completamente. As mudanças trazidas pelas novas tecnologias associadas ao mundo virtual são sentidas a uma velocidade nunca antes vista e que cresce exponencialmente. Muitas portas estão abertas para uma era de inovações protagonizada pela computação e pela engenharia.




Referências: 

O que é Computação em Nuvens? Danilo Amoroso. Disponível em . Acesso em 26 de julho de 2016.

‘Internet das Coisas’: entenda o conceito e o que muda com a tecnologia. Pedro Zambarda. Disponível em . Acesso em 26 de julho de 2016.

O que é a 4ª Revolução Industrial e como ela deve afetar as nossas vidas. Valeria Perassso. Disponível em . Acesso em 26 de julho de 2016.

A era das fábricas inteligentes está começando. Melina Costa, Fabiene Estefano. Disponível em . Acesso em 26 de julho de 2016.

Conheça a Revolução da Indústria 4.0. Disponível em < http://www.dw.com/pt-br/conhe%C3%A7a-a-revolu%C3%A7%C3%A3o-da-ind%C3%BAstria-40/av-18386059>. Acesso em 26 de julho de 2016.











          






            


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