Pesquisa e desenvolvimento de novos ímãs permanentes
Por Benedito Antonio Luciano, professor do Departamento de Engenharia Elétrica da UFCG.
Uma matéria publicada na edição de março de 2016 do informativo Pesquisa FAPESP, sob o título “A primeira etapa do superímã”, dá conta de um passo importante no desenvolvimento, no Brasil, de novos ímãs permanentes à base de dois elementos terras-raras: Neodímio (Nd) e Praseodímio (Pr), pertencentes ao grupo dos lantanídeos.
De acordo com Marcos de Oliveira, autor da citada matéria, o projeto de desenvolvimento, iniciado em 2014, é fruto de uma parceria entre o Instituto de Pesquisas Tecnológicas (IPT), a Companhia Brasileira de Metalurgia e Mineração (CBMM) e a Empresa Brasileira de Pesquisa e Inovação Industrial (Embrapii), ligada ao Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação (MCTI).
Nesse projeto, o grupo de pesquisadores do Laboratório de Processos Metalúrgicos do IPT, sob a coordenação do engenheiro metalurgista João Batista Ferreira Neto, desenvolveu tecnologia para transformar o óxido de didímio (formado pelos elementos praseodímio e neodímio) em lingotes de metal puro. “Desenvolvemos a etapa da redução, o que significa transformar o óxido em metal. Para isso montamos reatores que trabalham a 1.200 graus Celsius (°C) e produzem barras de didímio metálico. Esse material, em uma fase seguinte, da qual também pretendemos desenvolver tecnologia, será usado na produção de uma liga metálica de didímio, ferro e boro para a posterior fabricação do superímã”, explicou João Neto.
Para chegar ao ímã é preciso obter a liga didímio-ferro-boro em pó e fazer o alinhamento dos momentos magnéticos por meio do campo magnético aplicado durante a compactação, seguido de sinterização (solidificar o material) e tratamento térmico, dando origem ao ímã permanente.
Tradicionalmente, os ímãs permanentes são classificados em três grandes grupos: os alnicos, os ferrites e os terras-raras.
Desenvolvidos a partir de 1935, as maiores vantagens dos alnicos são o elevado valor da indução remanescente (Br), cerca de 1,2 T, e baixos coeficientes de temperatura, o que permite o uso destes ímãs metálicos em altas temperaturas (520°C, por exemplo). Entretanto, como os ímãs alnicos apresentam curvas de desmagnetização fortemente não-linear e baixa força coerciva (Hc), eles podem ser facilmente desmagnetizados, sendo necessário, às vezes, o emprego de sapatas polares adicionais para protegê-los contra o efeito desmagnetizante do fluxo da armadura.
Os ímãs ferrites de estrôncio e de bário foram desenvolvidos a partir do final do decênio de 1940. Apesar de possuírem indução remanescente (Br) mais baixa que os alnicos, os ímãs ferrites, em comparação com os alnicos, são mais resistentes à desmagnetização, em função de sua força coerciva mais elevada.
Os ímãs SmCo foram desenvolvidos a partir de 1970. Eles apresentam desempenho superior aos ferrites e alnicos. Suas curvas de desmagnetização são praticamente lineares, o que denota alta resistência a campos desmagnetizantes. Além disso, eles possuem altos valores de BHmax (cerca de 160 kJ/m3), de Br (aproximadamente 1 T) e Hc (720 kA/m), respectivamente. Em comparação com os ímãs ferrites os preços dos ímãs SmCo são superiores.
Os ímãs NdFeB foram desenvolvidos a partir do início do decênio de 1980. Em comparação com os ímãs alnicos, ferrites e SmCo, os ímãs NdFeB possuem valores mais elevados de BHmax (210 kJ/ m3), Hc (900 kA/m) e Br (1,2 T). Entretanto, ao lado dessas vantagens, os ímãs NdFeB apresentam as desvantagens de alta suscetibilidade à corrosão e limitação quanto à temperatura de utilização em serviço (150°C) e temperatura de Curie (310°C).
Atualmente, os ímãs utilizados pela indústria brasileira são importados, embora o Brasil tenha a segunda reserva de terras-raras do mundo, atrás apenas da China. Os chineses são líderes na produção mundial de ímãs e têm a tecnologia tanto de extração e purificação de terras-raras como de produção de ímãs de produto BH elevado.
Assim, em função de suas potencialidades cientificas, técnicas e econômicas verifica-se no meio acadêmico e no ambiente industrial, por parte de físicos, engenheiros metalurgistas, engenheiros eletricistas e engenheiros de materiais, um interesse crescente pelos ímãs permanentes de BH elevado, devido às suas aplicações nas mais variadas áreas, tais como: sistemas elétricos, conversão eletromecânica, sistemas de comunicação, sensores, transdutores, agricultura, biomédica, sistemas embarcados, automação industrial, transportes e usos domésticos.
O autor foi tutor do PET Engenharia Elétrica da UFCG no período de 1/2012 a 3/2014.
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