Carl Edward Sagan
O homem que trouxe o Cosmos à sociedade.
Por Thiago Oliveira Delmiro Neves
Filho de Samuel Sagan, operário e imigrante do antigo Império Russo, e de Rachel Molly Gruber, dona de casa nova-iorquina, Carl Sagan era uma criança com um grande potencial a ser despertado. Aos 4 anos, sua família o levou à Feira Mundial de Nova Iorque, em 1939, o que foi um dos momentos mais marcantes de sua vida. Neste evento, ele pôde admirar as centenas de inovações tecnológicas da época, o que desencadeou uma imensa curiosidade sobre o funcionamento do mundo natural, como Sagan disse, segundo o Keay Davidson (1999), “Certamente, o mundo continha maravilhas que eu nunca tinha imaginado”.
Sua sede por conhecimento o levou, ainda aos cinco anos, à primeira visita à bliblioteca em busca de um livro sobre as estrelas. Neste momento, ele descobriu que o Sol também era uma estrela e que as estrelas eram como o Sol, porém muito mais distantes. Por volta dos seus seis anos, Carl se aventurou no Museu Americano de História Natural, onde conheceu o Planetário Hayden, que é atualmente dirigido por Neil deGrasse Tyson, astrofísico, cosmólogo e um grande admirador de Carl Sagan.
O apoio de seus pais em sua busca por conhecimento e os ensinamentos sobre ceticismo e especulação possibilitaram ao jovem a consolidação destes dois modos de pensamento essenciais para o método científico. Assim, a base intelectual do futuro astrofísico mais carismático da televisão estava consolidada.
Figura 1 – Carl Sagan e citaçao “O cosmos está dentro de nós; somos feitos de poeira de estrelas. Somos uma forma do universo conhecer a si mesmo”
Em sua formação profissional e científica, Sagan teve contato com o cientista planetário Gerard Kuiper, seu orientador, e com geneticistas como Joseph Muller e Joshua Lederberg. Com o conhecimento compartilhado por esses, ele escreveu uma tese sobre a origem da vida, tema abordado em série de sua autoria, Cosmos: A Personal Voyage (Cosmos: Uma Viagem Pessoal). Além disso, suas contribuições foram de grande importância para o entendimento da alta temperatura da atmosfera de Vênus, que foi uma das conclusões do astrofísico ao analisar as ondas de rádio emitidas pelo planeta. A confirmação de sua conclusão se deu por meio da segunda versão do projeto Mariner, o Mariner 2, responsável por investigar o planeta Vênus. Carl trabalhou, ainda, como orientador na National Aeronautics and Space Administration (NASA) - em que uma de suas atividades foi orientar os astronautas das missões Apollo, também contribuindo nas missões espaciais Pioneer, Viking, Voyager e Galileo.
Pela compreensão do fenômeno de aquecimento da atmosfera da “Estrela D’Alva”, Carl Sagan percebeu que também existia um aquecimento global por efeito estufa na Terra, causado por ações do homem, que poderia, futuramente, provocar uma alteração na nossa relação com o meio ambiente terrestre. Contudo, o cientista era mais conhecido por suas pesquisas em possibilidades de vida extraterrestre, incluindo experimentos de produção de aminoácidos com elementos básicos usando radiação.
Todavia, para muitos, uma das maiores contribuições do cosmólogo foi a popularização da ciência. Em sua época, ele foi bastante criticado por tal feito por cientistas, possivelmente tendo sido negado em Harvard por interpretarem este desejo como autopromoção. Entretanto, posteriormente, ele ganhou a Medalha do Bem-Estar Público, o prêmio de maior importância da Academia Nacional de Ciências, por “contribuições distintas na aplicação da ciência ao bem-estar do público. [...] Carl Sagan obteve notável sucesso em comunicar as maravilhas e importância da ciência. Sua capacidade de capturar a imaginação de milhões e de explicar conceitos difíceis com termos compreensíveis é uma conquista magnífica”.
Com a série Cosmos, transmitida pela primeira vez pela PBS em 1980, Carl Sagan ganhou um Emmy e um Peabody Award, fascinando por volta de 500 milhões de pessoas de mais de 60 países com sua indescritível paixão pelo conhecimento. A série aborda uma vasta gama de temas, como a origem da vida e a nossa perspectiva no universo, lançando diversos questionamentos da época para o espectador, o que poderia caracterizar o show como um guia introdutório ao conhecimento do universo. Depois de 34 anos, Neil deGrasse Tyson deu continuidade à série, atualizando conceitos e acrescentando descobertas, sendo essa Cosmos: A Spacetime Odyssey (Cosmos: Uma Odisséia no Espaço-Tempo).
No ano de 2016, completam-se 20 anos da morte de Carl Sagan, o que faz lembrar de alguns feitos que eternizaram seu nome na história da humanidade. Um desses, mais um pedido e uma reflexão que um feito em si, foi seu pedido à NASA para virar a Voyager 1 em direção à Terra, quando estivesse saindo do sistema solar, e tirar uma fotografia. Tal imagem ficou conhecida como Pale Blue Dot (Pálido Ponto Azul), uma foto da Terra a aproximadamente 6 bilhões de quilômetros da Voyager. “Toda a história da humanidade ocorreu neste pequeno pixel, que é o nosso único lar” – Carl Sagan em discurso na Universidade de Cornell, 13 de Outubro de 1994.
Figura 2 – O Pálido Ponto Azul circulado
Outras de suas contribuições que foram eternizadas são as Placas Pioneer, que estão a bordo das naves Pioneer 10 e Pioneer 11, e os Discos de Ouro da Voyager. A Placa Pioneer é uma versão mais simples dos Discos de Ouro, apresentando as formas nuas do sexo masculino e feminino da nossa espécie atual, assim como a localização de nosso planeta a partir de pulsares conhecidos da Via Láctea. Os Discos de Ouro da Voyager, lançados quatro anos após o envio da última Placa Pioneer, são mais robustos em termos de informação armazenada, pois são discos fonográficos que contêm amostras de sons da diversidade de vida e diversas culturas na Terra. Os discos também possuem imagens da localização da Terra no Universo, ainda por meio de pulsares, acrescentando também métodos de reprodução da informação sonora armazenada no equipamento.
Esses objetos com informações da vida humana são, na verdade, cápsulas do tempo, pois a margem de tempo necessário para que a Voyager chegue a alguma outra estrela supera o tempo de existência de civilizações humanas.
Figura 3 – Disco Voyager Golden Record
Figura 4 – Capa do disco
Carl Sagan não foi apenas um cientista e visionário, além de ter grande facilidade em integrar diversas áreas do conhecimento, como também um educador e divulgador do conhecimento, contribuindo para que descobertas modernas, como a das ondas gravitacionais, fossem possíveis. Por ter sido uma pessoa que se preocupou com o futuro da humanidade, que tinha paixão de contar suas experiências e que buscou um futuro próspero para a nossa espécie, seu legado deve ser perpetuado com ainda mais esforço da comunidade científica em aproximar a população das pesquisas e das maravilhas que a ciência nos proporciona e ainda tem a nos proporcionar.
Como disse o falecido cosmólogo, “nossa obrigação de sobreviver e prosperar é devida não apenas a nós mesmos, mas também ao cosmos, antigo e vasto, do qual surgimos”.
Referências:
The Carl Sagan Portal. Disponível em http://www.carlsagan.com. Acesso em 21 de fevereiro de 2016.
Carl Sagan.Wikipédia, a enciclopédia livre. Disponível em https://en.wikipedia.org/wiki/Carl_Sagan. Acesso em 21 de fevereiro de 2016.
Cosmos: A Personal Voyage.Wikipédia, a enciclopédia livre. Disponível em https://en.wikipedia.org/wiki/Cosmos:_A_Personal_Voyage. Acesso em 21 de fevereiro de 2016.
Voyager Golden Record.Wikipédia, a enciclopédia livre. Disponível em https://en.wikipedia.org/wiki/Voyager_Golden_Record. Acesso em 21 de fevereiro de 2016.
Carl Sagan: Planetary Scientist, Cornell University.Disponível em http://solarsystem.nasa.gov/people/saganc. Acesso em 23 fevereiro de 2016.
|