Este ano, 2015, é celebrado pela ciência como Ano Internacional da Luz, em alusão à coincidência de aniversários de várias conquistas científicas importantes para a humanidade, como

• 1000 anos da publicação dos trabalhos sobre óptica, do físico e matemático iraquiano Ibn Al-Haytham;
• 200 anos da proposição do comportamento ondulatório da luz, pelo físico francês Augustin-Jean Fresnel ;
• 150 anos da apresentação da teoria eletromagnética da luz, pelo físico e matemático escocês James Clerk Maxwell ;
• 110 anos da publicação dos trabalhos sobre o efeito fotoelétrico, pelo físico alemão Albert Einstein;
• 100 anos da apresentação do vínculo entre a luz e a cosmologia, no contexto da relatividade geral, pelo físico alemão Albert Einstein;
• 50 anos da descoberta da radiação cósmica de fundo, em micro-ondas, pelos físicos americanos Arno Allan Penzias e Robert Woodrow Wilson;
• 50 anos da apresentação dos trabalhos sobre o uso de fibras ópticas nas comunicações, pelo físico anglo-americano Charles Kuen Kao.

Certamente os presentes na 68ª Sessão da Assembleia Geral das Nações Unidas em 2013, que instituiu 2015 como Ano Internacional da Luz, não lembraram que 2015 também marcaria os 200 anos do nascimento de um dos matemáticos mais importantes para a história da humanidade. Se esse artigo foi escrito a partir de pesquisas realizadas em um buscador como o Google, foi por causa das contribuições do genial matemático, filósofo e educador inglês George Boole.

O ano era 1815 e o dia 2 de novembro, na cidade de Lincoln, condado de Lincolnshire, Inglaterra. A luz de Boole alcançava a Terra e com ela uma importante contribuição à organização do pensamento humano. Independentemente das crenças às quais nos apegamos para tentar entender a genialidade de uma mente como a de Boole, vale a conotação poética para fugir da responsabilidade de escrever de modo técnico sobre as diversas contribuições importantes desse homem que ajudou a organizar e simplificar o pensamento filosófico moderno e fundou as bases da eletrônica digital e informática por meio de suas contribuições à Álgebra.

Os feitos de Boole, ainda na infância, são dignos de uma ode, se levarmos em conta que ele não teve educação formal, que era filho de um comerciante de sapatos e que aprendeu latim e grego por conta própria, com os livros emprestados por um vendedor de livros de sua cidade e que aos doze anos teve uma tradução sua dos versos do poeta romano Quinto Horácio Flaco publicado em um jornal local. O conhecimento inicial em matemática foi fornecido pelo seu pai e aos 16 anos ele começou a dar aulas em escolas elementares para complementar a renda de seus pais.

Durante os quatro anos em que deu aulas, Boole ponderou entre as profissões que poderiam lhe dar boas perspectivas de vida e aquelas que suas condições financeiras lhe permitiam escolher. A conjuntura de suas condições lhe levou a se preparar por quatro anos para a carreira eclesiástica e pelos quatro anos em que esteve na igreja estudou filosofia, alemão, francês e italiano. A igreja não o conquistou e ao deixá-la Boole fundou sua própria escola aos vinte anos de idade. A partir de então, os livros de matemática disponíveis na época já não eram suficientes e ele passou a buscar os trabalhos dos grandes mestres da matemática.

Em 1850, aos trinta e cinco anos, Boole publica o livro The Laws of Thought, considerado pelo grande filósofo, matemático e prêmio Nobel de Literatura de 1950, Bertand Russel, como o trabalho da descoberta da matemática pura. Nos estudos que convergiram para sua obra prima, Boole achava que o pensamento poderia ser transcrito para uma representação linguística de argumentos. Essa transcrição permitiu o estudo e a avaliação dos argumentos e contribuiu assim para o surgimento de uma álgebra da lógica, conhecida hoje em dia como Álgebra de Boole, termo sugerido em 1913 pelo filósofo ucraniano Henry M. Sheffer.

Boole introduziu a álgebra que hoje leva seu nome em 1847, no seu primeiro livro intitulado The Mathematical Analysis of Logic. Três anos depois, em 1850 ele consolidou sua teoria em seu segundo livro, The Laws of Thought. É considerada um ramo da álgebra em que as variáveis envolvidas tomam valores 0 e 1, associados a falso e verdadeiro, e as principais operações são de conjunção, disjunção e negação. A associação dessa álgebra aos circuitos eletrônicos digitais é atribuída ao matemático e engenheiro eletrônico americano Claude Shannon, que a utilizou em sua dissertação de mestrado para mostrar que implementações eletrônicas da álgebra de Boole poderiam ser usadas para construir qualquer relação lógica eletrônica. Surgia assim a Eletrônica Digital.

Além da Eletrônica Digital e da Teoria de Probabilidade e Estatística, a álgebra de Boole também é a base de todas as linguagens de programação modernas e tem contribuído para todas as conquistas que a era da informação tem nos proporcionado. Segundo os historiadores da matemática, Boole disse a um amigo que a lógica booleana poderia ser a sua contribuição mais valiosa, se não a única, à ciência e era o motivo pelo qual gostaria de ser lembrado, se é que seria!! Ele não imaginava que com sua simplicidade havia se perpetuado com zeros e uns na história da humanidade.