Ano Novo - Novo (D)anos
(Texto enviado por leitor)
Era meia-noite do dia 1º de janeiro de 2008. Uma quantidade de fogos de artifício além da que eu possa compreender explodia no céu sobre o imenso Oceano Atlântico na costa da praia de Ponta Negra, pintando o céu escuro de cores cintilantemente fugidias.
Depois do brinde coletivo todos olhavam para essas luzes como os cegos procuram uma luz invisível a seus olhos. De certa forma elas simbolizavam a nossa receptividade para o ano que engatinhava.
Baixei então, os meus olhos para a mesa na qual estávamos, para pegar a câmera fotográfica digital e tirar uma fotografia daquele momento de confraternização. A câmera não estava mais lá.
* * *
Estava quase na hora. A virada do ano sempre era esperada por nós, ladrões, com ansiedade. É nesses minutos que os idiotas da contemporaneidade, viçosos por comungar de algum subjetivismo ou metafísica nessa sociedade nua e crua, voltam o seu olhar abobalhadamente para o espaço sideral. Nesses momentos de abstração eu costumo agir, e por isso me chamam de descuidista. Que me importa o céu rutilante cheio de explosões multicoloridas? Que liberdade ridícula é essa de contemplar o céu de barriga vazia?
Depois do brinde coletivo eu olhava para aquela câmera digital como um raquítico que procura forças para alcançar um prato de comida que estava bem debaixo de meu nariz. De certa forma ela simbolizava dinheiro no bolso e diversão, uma aventura que vale à pena arriscar.
Foi bem fácil. Sob os olhares distraídos fui até a mesa e peguei a tão almejada câmera. Olhei a marca e pensei “que porcaria, nem é da Kodak!”. Virei de costas e parti dali, deixando a família na sua alegria insuspeita, boiando nas taças de vinho caro que consumiam.
Francisco de Assis Pinto Cabral Júnior
Aluno de Medicina da UFCG