Projetos de pesquisa: além do currículo
Os tempos mudaram, a universidade também mudou e impôs na pesquisa seu grande instrumento transformador da sociedade.
Era uma vez um estudante de Engenharia Elétrica chamado Newton. Como excelente aluno que era, Newton logo após cursar as disciplinas iniciais sentiu a necessidade de entrar em um projeto de pesquisa, afinal, chegava a hora que deveria começar a melhorar seu currículo, aprofundar conteúdos e ganhar uma bolsa não faria mal a ninguém. Soa familiar? A pesquisa estabeleceu sua presença no cotidiano de estudantes e professores de universidades com tal força que não se pensa em uma coisa sem a outra. O impacto das aplicações dos conhecimentos científicos na sociedade é tão significativo que é capaz de diferenciá-las entre as mais desenvolvidas ou não. Na Engenharia, a participação em projetos de pesquisa afeta muito mais que somente o currículo dos estudantes. É um investimento tanto para conseguir entrar em uma empresa como para se manter – e crescer – nela. Com benefícios em pequeno e longo prazos, é preciso entender como a pesquisa ganhou a relevância que ostenta e como ela afeta o futuro dos que a fazem.
Para começar, a pesquisa nem sempre esteve associada à universidade. Quando foi trazida para o Ocidente pelos árabes, na Idade Média, a universidade tinha como objetivo a formação conforme se dá pelo conhecimento. Nessa época, a discussão e o debate caracterizavam o ambiente da academia. Daí a origem da famigerada “defesa de tese”, uma das “luzes” da Idade das Trevas que está acesa até hoje. A pesquisa somente surgiu cerca de quatro séculos depois do fim do Medievo, com a modernidade, marcada pela criação da Universidade de Berlim, em 1810.
Desde então, as nações que melhor aplicaram – e não as que mais investiram - o conhecimento científico às suas populações são conhecidas como desenvolvidas, como Noruega, Suíça, Dinamarca, Reino Unido, Estados Unidos. Aqueles que não participam do desenvolvimento da ciência estão, em sua maioria, excluídos do progresso dos padrões de qualidade de vida e são economicamente subalternos em relação aos povos que dominam o avanço da ciência.
O Brasil é um exemplo bastante palpável desse fato. Sem dispor de um desenvolvimento científico próprio na maior parte de sua história, nosso país viu somente nos últimos cinquenta anos uma realização relevante de pesquisas - não sendo coincidência ser o mesmo período em que se constatou os maiores avanços sociais. Conseguinte dados da Folha de São Paulo, a produção científica brasileira, medida pela quantidade de trabalhos acadêmicos publicados em periódicos especializados, está em ascensão. Todavia, a qualidade dos trabalhos não acompanha o ritmo.
Além das consequências coletivas de uma pesquisa eficiente, é interessante aludir sobre o retorno em escala individual que promover um projeto acarreta, mormente quando o participante é um estudante de Engenharia. Não obstante o panorama da recente crise econômica, a necessidade por engenheiros qualificados é constante, sobretudo nos países em desenvolvimento como o nosso. Os desafios encontrados relacionados à sustentabilidade demandam talento não somente apresentado em disciplinas teóricas, mas também em um contexto de gestão em si e em um ambiente social, o que são nada menos que algumas das premissas de um projeto.
Um estudo feito pela Universidade de Aston (Reino Unido) mostrou a importância da administração de projetos na formação de engenheiros. Antes mesmo do estágio em uma empresa, o aluno ao participar de pesquisas aprende a desenvolver habilidades de administração, comunicação, liderança, trabalho em equipe, entre outros recursos constituintes de um profissional ideal. A busca de governos e empresas por essa força de trabalho do futuro aproveita dessa experiência prematuramente adquirida, tornando o termo engenheiro “multi-especializado” (do inglês, multi-skilled) cada vez mais disseminado. Quadro 1 - Benefícios proporcionados pela gestão de pesquisa em ordem de relevância. (Universidade de Aston, Reino Unido)
Em uma época em que saber usufruir da melhor forma do triângulo do custo, qualidade e tempo é um diferencial, olhar a realidade de maneira objetiva e científica é condição necessária, mas não suficiente. Os projetos de pesquisa têm o poder de criar engenheiros de grande potencial para o mercado de trabalho e conscientes das necessidades da sociedade em que estão inseridos, a qual responde com maior geração de riqueza, de empregos, de inovações, isto é, desenvolvimento. Ao aproveitar da experiência na universidade, cria-se um efeito dominó positivo em um mundo que não espera a maturidade que só o tempo pode gerar.
Emilly Rennale Freitas de Melo
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