LaTeX: uma valorização das suas ideias
Além de criar documentos de aparência realmente profissional, o LaTeX estabelece seu diferencial no ambiente acadêmico, tornando-se essencial na manipulação e disseminação do conhecimento.
Em meu primeiro período na universidade, um de meus professores, conhecido particularmente por ser bastante rigoroso nas correções de provas, dizia que fazia isto porque um dia iríamos trabalhar para alguém e deveríamos explicar bem nosso trabalho, para convencer de que sabemos o que estamos fazendo e demonstrar eficiência. De acordo com ele, esse é um hábito que deve ser criado desde cedo, sendo as provas o primeiro passo. Sábias palavras em um mundo onde a concorrência é uma realidade cada vez mais difícil de ser superada, na qual não adianta apenas ser o melhor, mas também saber mostrar isso.
Essa dificuldade está contida em diversos fatores, como a crescente quantidade de informações que temos de lidar diariamente. Precisamos escrever artigos, teses, relatórios, isto é: apresentar resultados. Processo que envolve desde a devida organização dos documentos até a própria manipulação de conhecimentos. E como qualquer outra coisa, o trabalho é propenso a erros, sobretudo se envolver muitos dados numéricos.
Pensando nisso, em 1978, um cientista da computação chamado Donald Knuth, frustrado frequentemente com os erros cometidos por seus publicadores nas digitações, decidiu criar um programa de digitação gratuito no qual qualquer pessoa poderia facilmente utilizar para digitar documentos, especialmente aqueles que abordassem fórmulas matemáticas. O resultado foi o TeX.
Linguagens de programação, como C, Java ou Fortran, requerem um código escrito usando um editor de texto - conhecido por compilador -, o qual converte o código em um executável binário. TeX é também uma linguagem de computação, entretanto, é uma linguagem de composição tipográfica: o código é convertido em um documento de texto além de um executável. Isso mostra como o produto de Knuth foi um programa poderoso. Figura 1 - Da esquerda para a direita, símbolos do LaTeX e do TeX, respectivamente. Fonte: http://tex.loria.fr/img. Acesso em Junho de 2014.
Contudo, o TeX focava demasiadamente em pequenos detalhes, de modo que um matemático e cientista da computação, Leslie Lamport, escreveu uma derivação do TeX chamada LaTeX, a qual atenta na estruturação do texto mais que em tais detalhes. Ao utilizar LaTeX, conforme os comandos básicos do usuário, toda a estrutura do documento já é automaticamente realizada e qualquer mudança necessária pode ser feita de modo bastante flexível, uma vez que o TeX segue regras tipográficas específicas que são capazes de garantir uma aparência profissional para o documento com pouquíssimo esforço do usuário. Você raramente precisará se preocupar em lembrar de colocar, por exemplo, a justificação do texto ou do espaço entre sentenças. Imagens, tabelas, quadros e outros tipos de objetos flutuantes são posicionados também seguindo regras particulares, e assim, não há necessidade de reposicionar a figura cada vez que for preciso colocar um parágrafo extra.
Alguns desses fatores podem parecer insignificantes fora da área de publicação, mas todos contribuem no impacto do documento por completo: quando se escreve documentos técnicos, tanto a apresentação como o conteúdo são importantes. É frequente que documentos sejam descartados de serem lidos e analisados em virtude da reação negativa imediata quando lida-se com um trabalho mal formatado.
Nesse sentido, com LaTeX pode-se dar mais atenção às ideias, sem deixar de lado a necessária organização para uma melhor compreensão das mesmas. Com essa consciência, o modelo LaTeX ganhou a sociedade científica mundial, tornando-se um dos principais padrões de publicação.
O TeX como tratando-se também de uma linguagem, ao aprendê-la significa que as pessoas podem sozinhas criar códigos para situações adicionais e para novas necessidades de configurações. O próprio LaTeX é uma coleção – enorme – de recursos extras. O esforço contínuo, em que cada vez mais pessoas colaborem com a criação de mecanismos inéditos (na forma de packages), favorece que o programa não se torne obsoleto, mas pelo o contrário, que se adeque cada vez melhor a novos contextos, sendo interessante ressaltar que arquivos em LaTeX ocupam muito menos espaço em memória do que os provenientes das interfaces mais conhecidas. Figura 2 - Código e respectiva saída em LaTeX
Como nem tudo é perfeito, embora a utilização de estilos prontos de documentos seja fácil, criar novos modelos em LaTeX demanda um tempo significativo e nem sempre seus comandos tornam possível alcançar o objetivo final. Apesar de tornar a edição de documentos típicos do mundo acadêmico, como artigos e monografias, algo muito simples, para textos menos complexos, como um convite de um evento, apresenta-se como uma ferramenta bastante complicada. Além disso, não obstante a estruturação lógica do documento seja intuitiva, os comandos do LaTeX raramente o são, de modo que a aprendizagem do LaTeX possa ser considerada mais difícil que a de outros programas que usam do conceito “what you see is what you get” (você consegue o que você vê).
Mesmo que aparentemente mais fáceis, aplicativos como o Microsoft Word não permitem a criação de documentos de aparência verdadeiramente profissional como o LaTeX. Estamos em uma época em que a internet disponibiliza respostas para quase tudo que desejamos, com o LaTeX não seria diferente. Estão disponíveis online os mais diversos packages e inúmeros tutoriais, escritos ou em vídeos, que ensinam como utilizar o software. Como auxílio ainda mais efetivo, muitas instituições incentivam o uso de LaTeX com a realização de minicursos e outros tipos de atividades que permitam um primeiro contato com o programa - inclusive a UFCG por meio do grupo PET-Elétrica.
Portanto, com um número cada vez maior de trabalhos relevantes produzidos em LaTeX e a abundância de exemplos de códigos, além de cursos online e presenciais, evidencia-se o espaço ganhado por uma ferramenta que já é imprescindível quando o assunto é produção científica acadêmica de qualidade e disseminação de conhecimento.
Emilly Rennale Freitas de Melo
_________________________________________________________________________________________
|