Uma busca pelo fator humano: consciência de ferro e aço
Com os robôs cada vez mais próximos dos seres humanos, a tecnologia mostra avanços que vão além da máquina.
Theodore era um homem triste e solitário após se separar da mulher que compartilhou a maior parte de sua vida até que, ao comprar um determinado sistema operacional, sua esperança em ser feliz voltou a surgir. Samantha, como o sistema se autodenominou, além de auxiliar nas atividades diárias de Theodore, tornou-se sua melhor amiga – e talvez algo além disso. Essa é a temática de Her, um dos filmes premiados no Oscar deste ano. A partir da forte relação estabelecida entre um ser humano e um sistema de computador, o filme nos leva a refletir sobre o futuro incerto, porém provável da tecnologia. Samantha se tratava ainda somente de um sistema, cujo único meio de comunicação com o mundo eram sons, textos e desenhos. Contudo, se ela tivesse também o corpo que tanto queria ter no filme? São inúmeras as obras que tratam de situações parecidas. Robôs quase como seres humanos, convivendo, interagindo conosco e nos substituindo. Parece até clichê.  Cena do filme "Ela" ("Her"): Theodore antes de sua primeira conversa com Samantha.
Não obstante o sentimento futurista destas ideias, vale lembrar algo que Einstein deixou claro há mais de um século: “A distinção entre passado, presente e futuro é apenas uma ilusão teimosamente persistente”. A tecnologia em desenvolvimento constante tem aproximado cada vez mais as possibilidades. Já existem máquinas que juntamente com os homens realizam atividades domésticas; naves militares não tripuladas são uma opção para poupar muitas vidas; braços robóticos realizam cirurgias perfeitas nas quais os médicos responsáveis se encontram a centenas de quilômetros de distância. Testam-se robôs para cuidarem de bebês e idosos; são intermitentes as tentativas de se criar androides dispostos ao sexo. Em suma, estamos preparados para os robôs? E eles estão prontos para nós?
Herb (sigla em inglês de Mordomo Robótico de Exploração Doméstica) é um protótipo de robô utilitário que está sendo aperfeiçoado para que, em um futuro próximo, cuide de idosos e incapacitados. Diferentemente dos robôs tradicionais, como os das linhas de produção em fábricas, os quais são programados para realizar uma sequência exata de tarefas, Herb tem de perceber e lidar com objetos desconhecidos e conseguir se mover sem bater em pessoas também em movimento. Algo como agarrar uma bebida é simples para as pessoas, mas o cérebro delas evoluiu durante milhões de anos até conseguir coordenar com precisão todos os gestos. Também é trivial a um robô industrial, programado para satisfazer essa demanda. O que o difere de um robô social como o Herb, é que este diferencia os objetos. Quando ele é apresentado a um objeto, as regras aprendidas com base no comportamento humano determinam o movimento de seu braço e de sua mão. “Ele recebe a informação e a processa de forma inteligente no contexto de tudo o que já sabe a respeito de seu mundo”, explica Siddhartha Srinivasa, construtor do Herb.
O mundo do Herb ainda é um laboratório, por isso tudo soa tão bem. Programá-lo para funcionar em espaços sociais é mais complicado. O Herb possui uma buzina para avisar quando está se aproximando. Se o local estiver cheio de gente, simples: ele fica parado buzinando para todo mundo; o que , claro, é bastante incomodo aos seres humanos que recorrem a um vasto e inconsciente vocabulário de movimentos e esperam que os robôs sociais se comportem da mesma maneira. Robôs praticando esportes. Fonte: < http://www.ubifrance.com>.Acesso: 9 de março de 2014.
Robôs interagindo com crianças autistas para ajudá-las a sair do isolamento.
Fonte: <
http://www.ubifrance.com>.Acesso:
9 de março de 2014.
Mas para uma significativa interação com os humanos, além de um mimetismo desprovido de falhas, é preciso desenvolver emoções. Cientistas construíram o protótipo de um sistema robótico capaz de participar de um jogo de futebol com crianças autistas. O robô monitora as emoções da criança por meio da mensuração de alterações mínimas na pulsação cardíaca, nos movimentos oculares e outros sinais fisiológicos. Assim, quando conclui que a criança está ficando entediada, ele muda os padrões do jogo até ela se mostrar novamente entretida. Apesar de ainda não complexo o suficiente, o sistema é fundamental para a reprodução de uma das singularidades do relacionamento humano: perceber que o próximo tem pensamentos e sentimentos e, em função disto, restabelecer o próprio comportamento. Assim, pode-se perguntar se é possível criar uma máquina com atributos como “certo e errado”, “ética”, “agir ou não” , ou seja, com consciência, aquilo que mais nos difere dos outros seres vivos.
Hoje, os robôs são preparados para desempenhar deveres cada vez mais complexos em campo de batalha. Não são poucos os países que estão aperfeiçoando aviões e veículos terrestres a fim de que sejam capazes de decidir por si mesmos quando – e contra quem - disparar.
Como vantagem, tem-se também que, no calor da batalha, um robô não seria influenciado por emoções momentâneas, sendo assim menos propenso a realizar erros, o que compromete a vida civil. Eles poderiam ter condições melhores do que um soldado para tomar decisões.
Portanto, com os robôs , percebe-se como o termo “avanço tecnológico” é modesto com relação a toda sua abrangência. Não se trata somente da criação de computadores superpotentes, celulares de última geração e um robô que consiga carregar copos sem derramar a água(o que, aliás, já é muita coisa). É preciso desenvolver em ferro e aço aquilo de mais abstrato que temos: consciência, emoções, personalidade. Como? Bem, com resultados relativamente satisfatórios, os cientistas estão longe de perder as esperanças. Afinal, a imortalidade está em jogo. Mas enquanto isso não acontece, pelo menos o Herb não se incomoda com sua buzina. Herb mostrando suas habilidades em laboratório.
Emilly Rennale Freitas de Melo
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