A beleza das Ilhas Artificiais
Países litorâneos tiram proveito do espaço disponível e avançam mar adentro, aterrando sítios aquáticos em prol do desenvolvimento urbano não só com destreza, mas também com elegância.
Cidades litorâneas tendem a sofrer com o avanço do mar e a erosão causada por ondas e ventos. Apesar de estarem propensas a perder território, são beneficiadas com a plasticidade da recíproca, tendo a opção de avançar mar adentro. O aterramento marítimo tem sido realizado há alguns séculos em sua arquitetura mais simples e usual, que consiste em um acréscimo de território costeiro, à margem da orla original. Esta é a forma mais comum, mas não a única. Há algumas décadas, outro tipo de aterramento mais ousado vem se popularizando: as ilhas artificiais. Estas ilhas são criadas pelo homem e podem ser feita de diversas maneiras, dependendo da tecnologia disponível. Figura 1: Uros, ilha flutuante no lago Titicaca, Peru
A criação de ilhas artificiais não é uma ideia nova; várias datam de meados do século XIX com propósitos militares. Estas utilizam recifes como base sólida e sua fundação se assemelha a construção de pontes ou plataformas petrolíferas. Ilhas artificiais flutuantes fazem parte de outra categoria, atuando como uma balsa, podem ser feitas de plantas ou até garrafas PET; algumas existem desde a era pré-colombiana.
O Japão, por exemplo, já adotou a idéia de erguer ilhas artificiais há algumas décadas. Uma delas está entre as maiores do mundo, lar do aeroporto internacional de Kansai. A tecnologia aplicada a fez à prova de terremotos e tufões. Com fundações que atravessam água e lama até se fixar em mais de 40 metros de rocha. Para reforçar a segurança, sensores foram instalados para detectar o deslocamento de qualquer alicerce da ordem de milímetros.
Nem todo ponto está sob as mesmas condições geográficas e o problema a ser enfrentado pode não ser um terremoto, mas uma tempestade de areia. O golfo Pérsico, no Oriente Médio, é lar de várias ilhas artificiais esteticamente projetadas para desenhar a costa da península Arábica. Em fotos tiradas por satélite da região é fácil perceber contornos elaborados enfeitando a orla de Bahrain, Qatar e Emirados Árabes Unidos. A cidade de Dubai ficou famosa pelos seus investimentos no turismo de luxo, chamando atenção com suas ilhas artificiais com formatos incomuns, conhecidas como Palm Islands e The World além de outros projetos em andamento como The Universe e Dubai Waterfront. A motivação para o ambicioso projeto foi a carência de praias para alavancar o turismo, e busca por uma identidade visual, uma logomarca, para atrair turistas, e assim, reduzir sua dependência econômica de petróleo. Figura 2: The Pearl, em Doha, Qatar
Em Dubai, a barreira que protege as ilhas foi feita com areia revestida por um geotêxtil permeável que evita o desgaste, uma camada de pedras de uma tonelada é posicionada acima da areia seguida por duas camadas de rochas de seis toneladas. As ilhas foram feitas a partir de areia cuidadosamente escolhida. As dos desertos não fornecem solidez suficiente para a estrutura, logo, as do fundo do mar foram selecionadas e dragadas para dar forma as palmeiras. Para evitar que a ilha se desfizesse por liquefação, o solo foi tratado por vibro-compactação para aumentar a densidade da areia saturando-a com água e vibrando-a com sondas. Para a menor das palmeiras, a Palm Jumeirah, foram utilizados 92 milhões de metros cúbicos de areia e o projeto demorou aproximadamente 5 anos para ser concluído. Ao fim, Dubai ganhou mais 520 quilômetros de linha costeira.
Figura 3: Palm Jumeirah, em Dubai, Emirados Árabes Unidos
Existem diversas técnicas, além das citadas, para a construção dessas ilhas e sempre é levado em consideração certas variáveis locais como a profundidade da água, solo, clima, ventos, maré, correntes marítimas, riscos de terremoto ou maremoto, biodiversidade marinha, aumento do nível do mar a curto e longo prazo, entre outras condições ambientais. Para reduzir a erosão, quebra-mares são erguidos ao redor da zona de interesse com algumas brechas para que a água circule.
O impacto ambiental varia conforme a técnica utilizada. O preço a pagar sempre é alto, os quebra-mares dificultam a circulação da fauna marinha e a oxigenação das águas, o aterramento pode comprometer a flora e fauna que lá habitam e utilizar recifes como base altera drasticamente o ecossistema da região. Para iniciar um projeto, é feito um estudo exaustivo sobre a região a fim de procurar um lugar que afete o mínimo possível a vida marinha.
Quando não se tem terras suficientes para abrigar uma numerosa população, diversos métodos podem ser utilizados, ilhas artificiais podem ser uma opção a ser cogitada, no entanto, o custo deste tipo de projeto está na casa dos bilhões de dólares e pode não ser tão viável considerando que um aterramento costeiro não demanda tantos recursos. O motivo por trás da escolha mais custosa, algumas vezes, pode ser mais político - a intenção de deslumbrar - do que demográfico.
Ana Paula Tavares de Melo
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