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Falso Fera, ser ou não ser
A vaidade se estende e envolve o histórico e o currículo. A universidade não é mais novidade e não é o vestibular que irá assustá-lo.



           Ao entrar pela primeira vez na universidade, muitos compartilham do mesmo sentimento: ninguém sabe ao certo para onde ir, o que fazer, como fazer, ou porque fazer: este é o conhecido espírito de fera. Poucos feras tem consciência do que é ser um, e esse rótulo perdura até que, com a experiência e a convivência com veteranos, o estudante comece a entender as regras do sistema, que como qualquer outro, possui suas brechas. A primeira delas está na porta pela qual os graduandos ingressaram na universidade. O vestibular é um concurso aberto, portanto, todos podem se inscrever para qualquer curso. Inclusive quem já está no próprio. Aqueles que utilizam o artifício de reingressar no mesmo curso são chamados de falsos feras.

Na UFCG, a reentrada é uma prática muito comum nos cursos de engenharia. Por ser uma área de muitas oportunidades, é, consequentemente, muito competitiva. Professores e alunos prezam por um diferencial e a busca pela evolução é constante. A forma mais impessoal de julgar a qualidade do aluno é por meio do coeficiente de rendimento acadêmico (CRA). A nota é contabilizada na tentativa de ingresso em mestrados, em empresas, inscrições pra intercâmbios e projetos de pesquisa. Aquele que apresentar um CRA baixo, ou algumas reprovações, eventualmente, ao procurar atividades complementares para o currículo, pode encontrar alguns obstáculos e rejeições por conta desse estigma. Por isso, refazer o vestibular pode ser uma opção a se considerar.

O procedimento para a reentrada é simples, o interessado deve participar do processo seletivo e ser aprovado em sua atual universidade. Sua matrícula será realizada de forma similar a uma mudança de curso na mesma área: serão escolhidas as disciplinas a serem mantidas em seu histórico e as reprovações serão apagadas. Com a retirada das reprovações, o coeficiente de rendimento acadêmico aumenta, e todas as disciplinas mantidas terão o status dispensado.

A realidade aumentada possui diversas aplicações: manutenção e construção de obras, uso militar, informações turísticas. Na primeira, marcam-se as várias partes de uma obra com etiquetas de QR Code para que ao direcionar uma câmera de celular, seja exibido um modelo 3D de como ela seria, para uma melhor visualização.

No curso de graduação em Engenharia Elétrica, na UFCG, o processo de matrícula do falso fera é personalizado: um encontro entre o estudante e o coordenador do curso. O aluno apresenta as disciplinas que deseja se matricular e o coordenador decide se o pedido será aceito, pesquisando em seu histórico e calculando a média de créditos pagos, por período, pelo aluno. Desta forma, evita-se que o aluno arrisque se sobrecarregar. As vagas não são desperdiçadas, após uma contagem do número de falsos feras, serão chamados os próximos nomes da lista de espera. Em uma pesquisa realizada junto à coordenadoria do curso, foram levantados os números de falsos feras em alguns semestres. Em 2010.2 (segunda entrada no ano de 2010) aproximadamente 31,8% das vagas na primeira chamada foram para falsos feras. Em 2012.2, 39% e no ano de 2013.1, cerca de 14,8% e 2013.2, 29%, totalizando 21,8% de vagas para o ano de 2013.

Esconder as reprovações é o motivo mais comum pelo qual existe a reentrada, mas existe uma razão para isso. O edital de programas de incentivo a iniciação científica tenta filtrar os candidatos, o critério utilizado é o coeficiente de rendimento acadêmico e o número de reprovações. Quem tem o CRA abaixo de 7,0 ou mais de uma reprovação não pode competir em programas do CNPq e da Capes como PIBIC, PIVIC ou Brafitec. Não significa que são maus alunos, nem que são péssimos pesquisadores, apenas não preenchem os pré-requisitos estabelecidos pelo programa.

Um falso fera em busca de orientação em projeto de pesquisa pode se deparar com reações, por parte dos educadores, negativas ou indiferentes ao ver as dispensas, mas o motivo é um ponto importante a ser ressaltado em uma conversa entre orientador e candidato. Todo professor preza pela transparência, a sinceridade pode não ser tão atraente para alguns, mas em todo processo de seleção o candidato deve ser franco. O CRA e o histórico não dizem tudo, mas um histórico apagado diz ainda menos.

Alguns docentes do Departamento de Engenharia Elétrica da UFCG foram questionados sobre seu ponto de vista quando confrontados com a situação descrita acima. As respostas foram várias, de forma que é inviável generalizar. A reação negativa foi justificada: em maioria, os alunos que utilizam o artifício não estão no nível considerado ótimo, por isso, há um pré-julgamento do aluno que lhes mostra a dispensa. Os mais conservadores defendem que se a reprovação é gravada no histórico, lá deve permanecer e não deve ser mascarada, independente da qualidade do aluno. Por outro lado, existe outro grupo que afirma que os alunos não devem ser penalizados por uma falha já superada. Alguns argumentam que o sistema atual faz com que poucas reprovações limitem o estudante a um currículo medíocre, impedindo-o de adicionar projetos a sua formação acadêmica e científica. Cabe ao professor a decisão de levar em conta ou não o número de reprovações para avaliar se o aluno é bom. Assim, não enfatizam tão negativamente quem utiliza a reentrada. Cada caso será julgado individualmente. Há um consenso que esse estigma pode ser desconsiderado se, sobretudo, o aluno mostrar seu valor e seu interesse.

O Programa Ciência sem Fronteiras não possui pré-requisitos tão rígidos quanto às reprovações, porém, em maio de 2013, foi feita uma alteração no edital de forma que será solicitado, a quem se inscreveu, o histórico das universidades pelas quais passou. No Programa de Pós-Graduação em Engenharia Elétrica da UFCG, cuja classificação é feita a partir do CRA, currículo e cartas de recomendação, os avaliadores, conhecendo o artifício, também pedem esses históricos anteriores.

À medida que a reentrada se torna um fato comum, os programas se adaptam para que a avaliação de todos os alunos seja feita igualitariamente do primeiro ao último período cursado. Mas o processo para a mudança é gradativo, existem mais boatos do que editais alterados. O ato de limpar o currículo, por enquanto, pode ser útil quando o estudante tem em mente objetivos específicos que podem ser atingidos. A longo prazo não existem benefícios ou malefícios pela prática, pois nenhuma lei está sendo violada, visto que entrar na universidade é direito de todos. Para quem tem dúvidas se deve ou não ser falso fera e tem uma área de interesse ou projeto de pesquisa em mente, contate algum professor da área ou converse com o coordenador do curso, que são aqueles que vão emitir as opiniões mais relevantes e mais experientes, para cada caso específico.

Ana Paula Tavares de Melo

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