Água: um recurso essencial, um bem finito
A água é um recurso essencial, a sua importância está ligada inclusive com a geração de energia elétrica. Portanto, a discussão sobre o uso consciente desse bem finito, bem como a realidade dos recursos hídricos na nossa região fazem-se necessária no cenário acadêmico.
No passado, pensava-se que a água era um recurso infinito e a utilização ocorria de maneira irracional e sem nenhum critério. Com o passar do tempo, com a conscientização quanto à sustentabilidade e a evolução da sociedade percebeu-se que, embora seja um bem renovável, a água deve ser utilizada com parcimônia.
Atualmente, cerca de 70% da superfície da Terra é coberta por água, no entanto pouco menos de 3% desse volume é adequado para as atividades humanas. Dentre várias utilizações, grande parte dessa água é destinada para a transformação em energia elétrica. No Brasil, de acordo com dados apresentados no Balanço Energético Nacional 2012, dentro de sua matriz energética, a geração interna hidráulica responde por 74% da oferta.
Dessa forma, se houver desperdícios na utilização de água consequentemente teremos desperdícios em energia elétrica. Particularmente no que diz respeito à água tratada, as perdas e os desperdícios podem ocorrer tanto no processo de captação, vazamento nas tubulações ou transporte de água , quanto pelo consumo inconsciente da população.
Nos últimos tempos, ocorreram mudanças climáticas globais que agravaram a situação dos recursos hídricos. O problema da seca prolongada no semi-árido brasileiro já é uma das consequências desses fenômenos. Como objetivo de discutir soluções viáveis, aconteceu em São Paulo, no início desse mês, a 1ª Conferência Nacional de Mudanças Climáticas Globais (Conclima)com a participação da FAPESP, na qual pesquisadores fizeram uma avaliação sobre os desastres naturais. Marcos Airton de Sousa Freitas, que participou ativamente do evento, especialista em recursos hídricos e técnico da Agência Nacional de Águas (ANA), deu sua contribuição para essa discussão: “Se hoje já vemos que a situação é grave, os modelos de cenários futuros das mudanças climáticas no Brasil indicam que o problema será ainda pior. Por isso, todas as ações de adaptação e mitigação pensadas para ser desenvolvidas ao longo dos próximos anos, na verdade, têm de ser realizadas agora”.
A defesa da transposição do Rio São Francisco tornou-se ainda maior nesse contexto, por parte de alguns, visto que o projeto prevê que as águas do "Velho Chico" se encaminhem para as bacias do Rio Jaguaribe e do Rio Piranhas-Açu, que abastecem os estados do Ceará, Rio Grande do Norte e Paraíba.
Na Paraíba, os três principais açudes que fornecem água para a maior parte das cidades paraibanas tem sido alvo de análises e pesquisas. Os açudes de Coremas, Mãe D'Água e Epitácio Pessoa (Boqueirão), juntos, abastecem mais de 40 municípios.
Em abril de 2013, o pesquisador Janiro Costa Rêgo, da UFCG, alertou para o risco de racionamento no final do ano, com possibilidade de ocorrer um colapso em 2014: "O que podemos afirmar é que se seguir nessa sequência de seca, comparada aos períodos anteriores de estiagem já enfrentados na Paraíba, ao fim do ano chegaremos ao racionamento e em 2014 teremos colapso. A solução é implantar a gestão de recursos hídricos, com instrumentos técnicos e pessoal especializado. Porém, essa medição que é fundamental para o estudo da gestão hídrica, é inadequado, insuficiente ou inexistente no açude de Boqueirão" .
Em resposta às informações de Janiro, o gerente de bacias da Agência Executiva de Gestão das Águas (Aesa), Lucílio dos Santos Vieira, afirmou que o estudo do pesquisador era condizente com as simulações da Aesa, exceto pelo fato que o pesquisador da UFCG não considerava a possibilidade de chuva. “Ele (o pesquisador) apresentou o cenário para a pior situação, o que o estudo mostrou pode acontecer realmente se caso não houver chuvas. No entanto, nós estamos com a previsão de ter chuvas significativas esse ano”, disse em reportagem ao informativo G1 Paraíba.
Passado o período de inverno, a preocupação com a falta de chuvas aumentou. Em reunião ocorrida no dia 23 de setembro de 2013, a Agência Executiva de Gestão das Águas do Estado da Paraíba apresentou a situação atual dos açudes paraibanos: o açude Coremas, poderá cair de 250 milhões de metros cúbicos para aproximadamente 160 milhões em janeiro de 2014, vale ressaltar que esse ainda provê algumas cidades do Rio Grande do Norte e que esta situação já está sendo analisada pela Agência Nacional de Águas (ANA). Já o açude Mãe D'Água poderá atingir o volume de 100 milhões de metros cúbicos em agosto de 2014.
Boqueirão está na situação mais complicada, com 48% de sua capacidade, podendo cair de 180 milhões de metros cúbicos, registrado nesse mês, para menos de 150 milhões a partir de janeiro de 2014. Especialistas falam da questão da evaporação que a partir dos próximos meses se acentuará. Além do mais, uma vez que Campina se encontra acima do nível do mar há um gasto de energia elétrica no bombeamento, transporte e distribuição da água do reservatório até a cidade.
Além da distribuição, por parte da Companhia de Água e Esgotos da Paraíba (CAGEPA), as águas do Boqueirão atendiam aos produtores rurais da região, mas foi determinada a suspensão da irrigação. Parlamentares prometeram, em sessão especial, ocorrida na FIEP, discutir medidas técnicas a serem adotadas a fim de disciplinar o abastecimento de água, comentou-se também sobre “segurança hídrica” com o objetivo de evitar o racionamento e perdas de investimentos futuros no Estado.
Em 2003, foi lançado o programa "Um Milhão de Cisternas" pela Articulação Semiárido Brasileiro (ASA), como medida de adaptação que visa a implementar, por meio de calhas e cisternas, uma melhor captação e armazenamento da água das chuvas. Até o presente, foram construídas por volta de 500 mil cisternas em comunidades rurais.
Quando se pensa no conceito de eficiência associado à gestão dos recursos energéticos pelo lado da oferta (GLO) e pelo lado da demanda (GLD), reduzindo perdas e eliminando desperdícios, vemos que essas mesmas ferramentas de gestão podem ser empregadas para o caso da gestão dos recursos hídricos. No tocante à redução das perdas a solução é técnica. No que diz respeito aos desperdícios, a questão está diretamente ligada às políticas públicas, o que inclui campanhas educativas junto à sociedade. A ferramenta tecnológica pode ser uma importante aliada, propiciando meios e métodos mais eficientes na captação e distribuição desse bem essencial.
Larissa Diniz
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