A fome por inovação
O mundo dispõe de um cardápio de inovações tecnológicas vasto e em constante crescimento. O lixo eletrônico é um produto desse avanço e preocupa pelos impactos que pode causar. Projetos tentam amenizar os problemas causados por esse tipo de resíduo.
A quantidade de resíduos diária produzida pela população mundial é exorbitante. Disso todo mundo sabe. Um destaque é o lixo eletrônico. Os avanços tecnológicos deixaram de ser “a todo vapor” e ganharam agilidade olímpica; sempre surge algum brinquedinho revolucionário no mercado disposto a acabar com a grande maioria dos nossos problemas, ficando difícil resistir à maré de inovação. Além de toda a poluição gerada na fabricação e manutenção dos aparelhos eletrônicos, há, cada vez mais, ou um computador velho descansando sobre uma prateleira, ou um celular obsoleto, dentro da gaveta - isso quando não estão jogados em terrenos baldios. Prejuízo para todos.
A sucata eletrônica é composta por equipamentos elétricos e eletrônicos, que utilizam em sua fabricação metais pesados, como chumbo e mercúrio, e outros materiais tóxicos. Preocupadas com o destino tomado por seus aparelhos – ou com medo de uma possível multa -, muitas empresas passaram a disponibilizar postos de coleta, evitando que haja a contaminação da natureza ou o acúmulo nos aterros. A HEWLETT PACKARD, por exemplo, permite que cartuchos de impressora possam ser descartados em recipientes disponíveis nas lojas HP e Saraiva, fabricando novos cartuchos e até impressoras a partir do material reciclado. A NOKIA recebe aparelhos e carregadores obsoletos, dando-lhes o descarte correto e gerando novos objetos.Há ainda o fator econômico: as empresas economizam dinheiro ao reaproveitar componentes valiosos que seriam desperdiçados.
O mundo vivencia um momento de consumismo tecnológico extravagante; gulosos por inovação são insaciáveis e não resistem a mais um pedaço de tecla. Muitos nem se dão ao trabalho de saborear cada especificação do aparelho, cada detalhe. Conformam-se com o status de possuírem o mais moderno sem saber utilizá-lo completamente e ficam a postos para mais um descarte ao menor sinal de novidade. O resultado dessa atitude? Cerca de 40 milhões de toneladas de lixo eletrônico produzidos em 2012 no mundo, segundo a ONU.
Na Universidade Federal de Campina Grande é desenvolvido um projeto que procura amenizar os impactos causados pelo e-lixo com uma consciência não só ecológica, como também social. Segundo a estudante Lislley Farias, integrante do projeto, as peças dos computadores abandonados são testadas e, as que funcionam, são reaproveitadas na construção de novos computadores. Os aparelhos utilizáveis são, então, doados às comunidades carentes próximas da universidade. A responsável pelo projeto é a Professora Luiza Eugênia, que procura ampliar a ação, mas necessita de mais espaço e voluntários.
Em 2012, no mundo, aproximadamente 13% do lixo em questão foram reciclados. Um valor aterrador uma vez que, segundo a União Internacional de Telecomunicações (UIT), a tendência é um aumento exponencial na quantidade desse tipo de resíduo. Com o intuito de amenizar os impactos dos aparelhos elétricos e eletrônicos e reaproveitar o material mais eficientemente, governos da América Central, empresas privadas, universidades e organizações não governamentais desenvolveram uma agenda de 20 pontos (confira-os no link ao fim desta postagem), que também foca em negócios com potencial para gerar empregos e impulsionar a reciclagem.
O problema não é a humanidade ser incapaz de cumprir qualquer tarefa sem gerar um impacto no meio ambiente; claro que todos nós buscamos o conforto e os benefícios das tecnologias, da modernidade, e para isso precisamos usar os recursos. O problema está na falta de consciência das pessoas. É necessário termos a sensibilidade para distinguir a melhor hora para nos livrarmos de um equipamento. O planeta precisa manter seu ciclo e não podemos incapacitá-lo. Digerir o que ainda rende bons momentos e aproveitá-lo no fim de sua vida útil é uma dieta saudável aplicável no cotidiano. Acabar com a fome por inovação é uma retrocesso, mas saciar, degustar, apreciar cada novidade...Bom apetite!
Acesse: http://www.itu.int/en/ITU-T/climatechange/201303/Documents/Agenda_EN.docx
Filippe José Gadelha Tertuliano
_________________________________________________________________________________________
|