Próteses biônicas: uma abraço entre o hoje e o amanhã
Algumas evidências do que já existe e do que ainda está por vir no cenário científico global sobre próteses biônicas.
Um dia, aquilo que vemos hoje como impossível de ser materializado ganhará as vitrines das lojas, invadirá os armários dos nossos futuros netos e serão os brinquedinhos mais amados de um geração. A ciência é uma fervorosa e insaciável arte; reclusa nos laboratórios, processando dados, ensaiando artimanhas, driblando inumeráveis paradigmas, tentando cumprir os padrões éticos. Quando não restam fronteiras na imaginação, o ser humano converte essa liberdade mental para quebrar as barreiras físicas existentes- ir além do possível. Dar novamente a capacidade de ação a quem perdeu os movimentos é uma tarefa árdua, considerada irrealizável no passado, mas que hoje, com todos os aparatos tecnológicos disponíveis, está se tornando realidade.
 O sonho de uma armadura, igual ao do herói dos quadrinhos Tony Stark,não é exclusivo das crianças; não há idade para querer aprimorar as ações, ampliar a força do corpo. Um espécie biônica semelhante a do herói já foi desenvolvida e está sendo comercializada no Japão. A Cyberdyne, empresa responsável pela empreitada, criou o HAL (Hybrid Assistive Limb), um exoesqueleto capaz de aperfeiçoar o físico humano, dando de duas a dez vezes mais força ao seu usuário. Contudo, tamanho artifício só pode ser empregado por quem consegue se mover: sensores de monitoramento elétrico captam os sinais enviados pelo cérebro aos músculos quando há o planejamento do movimento e potencializam-o, sincronizando o movimento do membro com o do HAL.
Quem perde algum membro do corpo sofre com as diversas adaptações a que se sujeita; não é fácil lidar com a complexidade que afazeres, outrora simples, adquirem. Para amenizar os esforços, foram inventadas as próteses. Feitas desde a antiguidade, as rústicas e sem movimentos deram espaço hoje às modernas e tecnológicas próteses biônicas. Empresas no mundo todo focam suas tecnologias no aperfeiçoamento desses modelos impressionantes. Na Inglaterra, por exemplo, a RSLSteeper criou a Bebionic3, mão biônica de alta performance, capaz de realizar 14 diferentes movimentos, que auxiliam o usuário a reaver a independência e o controle na vida. Dotada com microprocessadores poderosos, motores individuais para cada dedo, design incrível e outros atrativos, a Bebionic3 é fruto do trabalho de engenheiros mecânicos, eletrônicos, designers e programadores sempre dispostos a melhorar o funcionamento e o conforto da mão. Toda essa modernidade tem um preço de cerda de 30 mil dólares, fora o acompanhamento médico e treinamento.
“Penso, logo existo”, a célebre frase do filósofo René Descartes tem sido reforçada pela ciência nos últimos anos. A arte da vez é usar a força do pensamento para mover os equipamentos, as próteses, os exoesqueletos, independentemente do indivíduo ter ou não os movimentos. Mas, como isso seria possível? Em entrevista ao programa da Globo News, o neurocientista Steves Rehen explicou que basta a pessoa planejar mentalmente o movimento, que sensores, inseridos no cérebro,irão decodificá-lo, permitindo a ação de um aparelho biônico. Várias pesquisas estão sendo feitas visando esse tipo de inovação, mas uma que atrai mais a atenção, pela ousadia, é a desenvolvida pelo brasileiro Miguel Nicolelis: ano que vem, no primeiro jogo da Copa do Mundo, ele e sua equipe querem fazer um ser humano com paralisia andar. O centro da pesquisa é na Universidade de Duke, EUA, mas há equipes na Europa e no Brasil trabalhando para o mesmo fim. Neste projeto, a pessoa irá usar uma vestimenta robótica controlada via pensamento. Será uma atração emocionante e exibirá o quão promissoras são as áreas da robótica e da neurociência.
Um dos desafios tão grande quanto fazer alguém reaver seus movimentos é fazê-lo a baixo custo. Os preços das tecnologias no mercado que permitem tamanho acontecimento ainda são muito elevados. Com o aumento da expectativa de vida, no número de idosos, as próteses são alvos de investimentos constantes. Assim, um dia, talvez tenhamos uma acessibilidade que vai além do físico e atinja os bolsos. Não é fácil adaptar-se-à vida sem movimentos, nem é tão simples a adaptação com os aparelhos, mas uma certeza é a de que com eles, pessoas com ou sem deficiências ganham novos ares, novos sonhos, uma nova vida. Num futuro não muito distante, todos darão abraços, fortes como máquinas, afetuosos como humanos.
Filippe José Tertuliano
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