Sobre Redes Sociais
Há cerca de dez anos, quem poderia imaginar ter 800, 1000 amigos de forma organizada e sistemática? As redes sociais são um ambiente onde isso é possível.
Antigamente, as pessoas escreviam suas histórias em diários e os guardavam para ninguém ter acesso às informações. Hoje, elas publicam sobre os detalhes das suas vidas em redes sociais e divulgam suas preferências, pensamentos e até seus defeitos. Estes ambientes transformaram a forma das pessoas se comunicarem, eliminando distâncias e criando novos modos de transmitir mensagens, em que se percebe uma ênfase muito maior na imagem e na forma.
Redes Sociais, de acordo com Marleto[1], são um conjunto de participantes autônomos que unem idéias em torno de interesses e valores compartilhados. Elas existiam muito antes do advento da internet, pois o homem é um ser naturalmente social, porém o termo ganhou uma nova conotação com o advento dessa tecnologia, referindo-se a interações existentes entre indivíduos por meio de plataformas que permitem troca de mensagem, compartilhamento de fotos e vídeos e vários outros recursos. Para que uma rede social exista são necessários três fatores: o indivíduo (ou ator), o laço que une vários atores e a interação social. A junção desses três elementos resulta em comunicação. A força do laço depende do grau de tempo, intimidade, intensidade emocional e serviços envolvidos. E ele pode ser classificado em socialmente forte (contatos diretos) ou socialmente fraco, correspondente a relações esparsas acionadas apenas na necessidade de busca de informações ou serviços que contatos diretos não conseguiram satisfazer.

Atualmente, existe um grande número de redes sociais. Especificamente no Brasil, as mais populares são o Twitter, Facebook e o Orkut , que foi a principal rede utilizada entres os anos de 2006 e 2011, quando em meio a inúmeras desajustadas atualizações, acabou perdendo espaço para o Facebook, que apresenta uma interface intermediária entre profissional e uma rede genérica.
Mas quais são os motivos que tornam as redes tão atraentes? Entre os principais motivos de acesso estão: troca de informações, conhecer pessoas e liberdade de expressão. Porém, as redes sociais também proporcionam sentimentos de pertencimento, empatia, exibição (publicização do “eu”), além do sentimento de exclusividade, pois, para quem não lembra, há poucos anos o ingresso nessas plataformas só se dava por meio de convites, criando uma forma de motivação pela exclusão. As redes sociais também permitem a construção e divulgação da identidade, que de acordo com Nóbrega[2] é uma convenção social necessária e que deve ser comunicada ao mundo por meio de uma representação, sendo um projeto a ser criado e que deve ser reafirmado para se legitimar. Uma pesquisa da Universidade de Chicago mostra que estas plataformas de comunicação podem ser também viciantes, ultrapassando a vontade de beber, fazer sexo ou até de fumar (Super Interessante, outubro de 2012).

O que se sabe é que estas redes mudaram a forma das pessoas se relacionarem. E as organizações estão atentas para esse fato. As redes influenciam os consumidores sobre os produtos, de forma que a comunicação deixa de ser unidirecional (empresa-cliente) e ganha uma proporção muito mais ampla, pois o consumidor pode não só reclamar, como divulgar sua reclamação e influenciar outros compradores. Mas como alcançar esse cliente que tem controle(!) sobre as informações que ele deseja ver? Para isso é preciso modificar a forma de fazer publicidade e divulgar marcas e produtos de modo que não pareça propaganda, um desafio para os profissionais de marketing. Porém, eles contam com a ajuda das próprias plataformas. Se você parar para perceber, a maioria das propagandas no seu feed de notícias do Facebook, por exemplo, são de produtos que você apresenta certo grau de interesse. Isso acontece, pois as redes sociais sabem quais são suas preferências (você deu acesso a elas) e mostra exatamente o que você quer ver.

Apesar de ser caracterizado como algo difuso, as redes também proporcionam mobilizações inovadoras e de grande impacto. Movimentos como o Occupy Wall Street, Um minuto pelo planeta e a Lei da Ficha Limpa são provas da força de difusão de informações nesse ambiente, capazes de criar uma consciência coletiva. Até as eleições já sofrem essa mudança. Em 2010, Marina Silva chegou a alcançar 19,33 % do total de votos da eleição presidencial, num movimento chamado como Onda Verde, fortemente impulsionado pelas redes sociais, vistas ao modesto orçamento de campanha da candidata em comparação aos seus adversários. Algo já utilizado por Barack Obama, na eleição dos EUA em 2008, quando o mesmo utilizou amplamente recursos como grupos no Facebook, canais no Youtube, contas no Twitter e participação em fóruns, para divulgar suas propostas e alcançar os eleitores.
E o mais incrível é que essas redes , apesar de recentes, já proporcionam a formação de um acervo histórico. Nós vivemos em uma era na qual já presenciamos a “morte” e “nascimento” de redes sociais, de forma imprevista e não controlada. Relacionamentos que surgiram desse meio e que são mantidos neles não são mais documentados por álbuns de família ou cartas de amor, mas sim por álbuns digitais repletos de comentários, atualizações de status e depoimentos (Orkut). Ou seja, essa é a história dessa geração, é o que será visto e analisado pelas gerações futuras para descrever esta, assim como nós fazemos com os registros das gerações passadas.
[1] MARTELETO, Regina Maria. Análise de redes sociais – aplicação nos estudos de transferência da informação. Ci. Inf. vol.30 no.1 Brasília Jan./Apr. 2001.
[2] NÓBREGA, Lívia de Pádua.A construção de identidades nas Redes Sociais.Fragmentos de Cultura, vol. 20, jan/fev.2010.
Thyago Sá
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