Oferta e demanda: um desequilíbrio de blecautes a celulares
O Brasil tende a culpar os órgãos como o ONS ou a ANEEL por blecautes como o de outubro de 2012, mas será que a culpa desses eventos se limita a esses órgãos ou há um responsável coletivo maior? E será que esse tipo de falha no país se limita ao setor energético ou se estende para vários outros?
Para os que contavam com a noite do dia 25 de outubro para trabalho, estudo ou lazer, o acaso não foi tão generoso. Por volta da meia-noite, um apagão atingiu boa parte dos estados do Norte e Nordeste do Brasil, causando o desligamento de praticamente 100% da carga total.
O que para alguns pode parecer simplesmente uma noite sem luz e internet, na verdade, traz consequências sérias para diversos setores. Hospitais que não possuem geradores passam por complicações devido à privação de energia elétrica, semáforos que não funcionam complicam o trânsito nas cidades, além de outros transtornos relacionados à segurança, que põem em risco vidas humanas, afetam o comércio e a indústria. E o pior é que esta ocorrência não foi um fato casual, pois este foi o quarto blecaute de escala considerável no Brasil nos últimos dois meses.
À primeira vista, é natural que a culpa desses eventos seja depositada nos órgãos responsáveis, tais o como o ONS – Operador Nacional de Sistema Elétrico – e a ANEEL – Agência Nacional de Energia Elétrica. De fato, o ONS emitiu uma nota à imprensa informando o ocorrido e detalhando os motivos do blecaute.
Mas esse problema, de forma geral, pode ser abordado com um ponto de vista mais coletivo, no que diz respeito aos responsáveis pelo blecaute. Sem dúvida, os aumentos no fornecimento de energia não têm acompanhado a crescente demanda: a cada dia que passa, mais edifícios são construídos, mais aparelhos elétricos são instalados e o consumo de energia elétrica aumenta.
Neste momento, há de se perguntar: como anda o desenvolvimento da matriz energética brasileira? Sabe-se que, no Brasil, a fonte de energia mais usada é a hidrelétrica, embora atualmente muitas pessoas resistam à construção de novas usinas, seja por questões ambientais ou por outros motivos. Irônico é saber que muitas dessas pessoas não resistam à compra de um novo aparelho de ar-condicionado ou de um novo chuveiro elétrico.

Os reservatórios das usinas hidrelétricas estão em estado preocupante, pois o volume de chuvas nas bacias tem sido o pior desde muitos anos. Além disso, nem todas as termelétricas para as quais o ONS propôs ativação entraram em funcionamento nesse blecaute. E formas alternativas “limpas” como a energia eólica e solar não são viáveis, pois não suprem a demanda. Assim, é preciso notar que a relação entre fornecimento e consumo sofre um desequilíbrio e a culpa não é somente dos fornecedores.
O Brasil sofre muito com problemas como esse. Não só no setor energético, mas em muitos outros, é possível encontrar situações de desequilíbrio entre oferta e demanda. Um exemplo disso é a situação nas universidades, em que o número de vagas cresce de forma assustadora enquanto que as instituições não são proporcionalmente ampliadas para acolher confortavelmente a todos. Outro exemplo é o caso (descaso) das operadoras de telefonia, que vendem chips para celular de forma descontrolada e acabam não fornecendo um serviço de qualidade devido aos inúmeros congestionamentos nas redes. 
Visto de forma genérica, esses problemas são fruto de uma necessidade imediatista para a satisfação de consumo, objetivos políticos e lucros. O governo e a sociedade não detêm uma visão de longo prazo que permita analisar os possíveis problemas que podem surgir com essas atitudes. Por conta disso, ocorre a saturação dos sistemas, que aqui se deixa transparecer seja por falta de energia elétrica, ligações telefônicas falhas ou ensino deficiente, produtos de uma substituição gradativa de qualidade por quantidade.
Arthur Araújo
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