Entrevista - Paola Pimentel Furlanetto
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A aluna Paola Pimentel Furlanetto é graduanda em Engenharia Elétrica na UFCG e atualmente está fazendo intercâmbio nos Estados Unidos pelo Programa Ciências sem Fronteiras (CsF).
Em entrevista ao Jornal PET-Elétrica, ela fala sobre sua participação no Programa de Educação Tutorial, a experiência de estudar no exterior e o processo de seleção do programa CsF.
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1. Você é natural de que cidade e quando ingressou no curso de Engenharia Elétrica na UFCG?
Sou paraibana, nascida em Campina Grande, e ingressei no curso de Engenharia Elétrica da UFCG no primeiro semestre de 2008.
2. Durante a graduação, você foi integrante por três anos do Programa de Educação Tutorial-PET. Conte um pouco dessa experiência e dos resultados dessa participação.
Entrei no PET ainda no segundo período da graduação, com muitas expectativas a respeito do curso e da engenharia em si. Então, o melhor foi encontrar um ambiente que facilitou o meu aprendizado, havia em quem me inspirar (os petianos “mais velhos” e o tutor) e com quem conversar (duvidas de disciplinas ou incertezas do curso mesmo). O ambiente em equipe e a oportunidade de não trabalhar apenas para si, mas também para a comunidade, permitiram, creio eu, um crescimento pessoal e profissional. Realizei trabalhos de pesquisa, ensino e extensão; o que mais me alegra e impressiona é ver que, daquela “fera” meio perdida no universo que é a Engenharia Elétrica, hoje tenho uma visão mais ampla e o sentimento de ter crescido em conjunto.
3. Atualmente, você participa de qual programa de intercâmbio? Qual o nome da universidade em que você foi estudar e onde ela se localiza?
Faço parte da primeira turma do Ciência sem Fronteiras (programa do Governo Federal) cujo intercâmbio foi organizado via CAPES. Estou desde janeiro na Iowa State University (ISU) que se localiza na cidade de Ames – Iowa.
4. Como foi o processo de seleção do intercâmbio? E como foi saber da aprovação?
O processo
foi tipicamente brasileiro! Repleto de formulários que apareciam no
último minuto, dúvidas que os próprios representantes do programa na
UFCG não sabiam responder e muita correria. Foi uma verdadeira prova de
resistência e de que o Brasil precisa aprender a lidar com planejamento
(pois burocracia e organização não necessariamente andam juntas).
Quanto aos requisitos, destacaria a necessidade do teste de proficiência em inglês, trabalhos de pesquisa (dentre eles sei PET e PIBIC) e de pequenas redações descrevendo seu perfil (para melhor selecionar a universidade que o receberá).
Saber da aprovação foi uma alegria e surpresa. Afinal, quem realmente já havia ouvido falar de Iowa? Um estado bem no meio dos Estados Unidos e pouco conhecido mesmo em seu país. Posso dizer que não saí para o intercâmbio às cegas, pois tinha conhecimento de um convênio UFCG-ISU e de estudantes da Engenharia Elétrica que haviam participado.
5. Quais são as diferenças vistas por você da graduação aqui no Brasil e nos Estados Unidos?
Meus amigos e familiares costumam perguntar se estou “na vida boa”, pois tenho tempo de realizar muitas outras atividades que na UFCG eram impraticáveis. Bem, o ensino aqui na ISU demanda muito menos tempo em sala de aula, é repleto de exercícios para casa (verdade, eles até chamam “homework”, fazendo você se sentir de volta ao ensino médio) e as provas não são uma incógnita (você sabe que pode esperar um teste muito semelhante aos “homeworks”, diferente dos mistérios e surpresas que podem ser os exames nas universidades brasileiras).
Fora esse ambiente menos puxado, existem inúmeras oportunidades para os estudantes que decidem fazer mais que a simples graduação: empresas com estágios, laboratórios muito completos, organizações estudantis de engenharia e, principalmente, capital para financiar essas atividades e colocar os estudantes (calouros ou veteranos) pra praticarem os conceitos.
Em termos quantitativos, diria que a graduação aqui é mais fácil. Nossa base na UFCG é muito mais pesada e o ambiente bem mais estressante. Entretanto, a principal diferença é a facilidade com que um aluno americano tem acesso a recursos. Isso não implica que tenham melhores cursos e/ou engenhreiros que nós, mas sinaliza que precisamos nos esforçar ainda mais e elevar as condições em nosso país.
6. Você participou de uma competição com carro solar. Fale um pouco sobre essa competição, como ela acontece e sobre sua participação.
Faço parte da organização estudantil PrISUm – ISU Solar Car Team, cujo objetivo é desenvolver um veículo de corrida movido a energia solar e com ele participar de competições. Estou no time desde janeiro e em julho participamos do American Solar Challenge (ASC) e do Formula Sun Grand Prix (o FSGP é parte classificatória do ASC e realizada em uma pista de corrida tradicional, este ano ocorreu no Monticello Motor Club). Nesses seis meses trabalhei essencialmente com a equipe de engenharia elétrica, especificamente num projeto relacionado ao sistema de telemetria. Além disso, procurei também contribuir onde podia aprender e ser útil (de longos períodos soldando PCBs, a colar painéis solares, fazer moldes específicos com fibra de carbono ou até “lixar e desparafusar” com os engenheiros mecânicos, foi um processo interessante e decididamente multidisciplinar).
Quanto à competição, foram praticamente duas semanas de estrada num percurso que cortava o Middle West entre os estados de Nova York e Minessota. A parte da convivência em equipe (composta praticamente por engenheiros) que por si só já foi um treinamento intensivo, o mais interessante foi conhecer o interior dos Estados Unidos. De nadar nos grandes lagos a acampar ao lado de um cemitério, foi uma aventura mesclada com a responsabilidade de corrigir os problemas e planejar o próximo dia de corrida.
Conseguimos o melhor desempenho na história da ISU, segundo lugar na competição (em ambos FSGP e ASC) e “awards” de melhores design mecânico e elétrico. É uma ótima experiência fazer parte desse grupo, agora estamos começando mais um projeto que daqui há dois anos resultará em outro veículo.
7. Em relação às culturas que você teve contato. Houve algum aspecto de difícil adaptação? Conte-nos um fato curioso.
Não esperava encontrar “o mundo inteiro” em Ames e essa foi uma das surpresas boas na ISU (conheci gente dos quatro cantos). Os americanos são um povo mais fechado, ainda assim me impressionou como no Middle West as pessoas são amáveis e prestativas. Quanto aos intercambistas, no geral são mais abertos a conhecer novas pessoas e culturas (afinal, estamos todos no mesmo paradigma o que acaba por nos aproximar).
8. A coordenação do curso oferece algum auxílio com relação a estágios em empresas?
A ISU fornece um sistema que lista oportunidades de estágio dentro e fora da universidade. Além disso, é realizada semestralmente uma feira com empresas interessadas em oferecer vagas de estágio e emprego.
9. Como é lidar, no cotidiano, com a língua inglesa? Neste sentido, quais são/foram suas maiores dificuldades?
Uma vez imerso na lingua você tem que esquecer o modo de pensar em português e abraçar o contexto, gírias e nomes de objetos específicos (relativos a engenharia, por exemplo) são sempre um desafio e um estímulo para aumentar o vocabulário. Procuro me divertir com os erros que cometo (principalmente de pronúncia) e sempre peço para que as pessoas ao meu redor me corrijam (se todos levam “na esportiva” é muito mais proveitoso).
Com aulas de francês e alemão ministradas em inglês, tenho melhorado muito esse ultimo idioma (afinal é ainda mais esforço entender uma terceira língua tendo por base o inglês). O mais interessante é quando você percebe que não consegue dizer em português algo que expressaria perfeitamente em outro idioma.
10. No local onde você mora, a bolsa é suficiente para cobrir seus gastos?
O programa cobre os gastos com moradia e alimentação. Quanto ao transporte, o sistema de ônibus pertence à universidade e os estudantes não precisam pagar para utilizá-lo. Então a bolsa que recebemos é destinada a despesas extras. Nesse sentido você consegue se manter bem; é possível comprar objetos pessoais, sair e até programar alguma viagem (basta dosar bem o recurso).

11. De que forma o intercâmbio está contribuindo na sua formação?
Nesses quase oito meses fora do Brasil pude ampliar a minha visão da engenharia - das oportunidades e dos desafios existentes. Foi-me permitido o contato com tecnologias, pessoas e culturas diferentes, o que acabou contribuindo para a escolha do profissional que desejo me tornar. Pretendo trabalhar com tecnologias renováveis (decididamente energia eólica), num contexto multidisciplinar e global (fazer aquilo pelo qual tenho paixão, com consciência e responsabilidade).
12. O que você sente mais falta daqui do Brasil? Como é feito contato com a família e amigos?
Não é por acaso que se diz ser o povo a maior riqueza do Brasil. Eu sinto falta de como nossa gente é amigável e alegre, da nossa comida que é maravilhosa e da nossa terra tão bonita. Acho que é falta de se sentir em casa e pertencente à cultura, talvez seja o mesmo que um chinês sente com relação ao seu país!
Então, como no momento não posso juntar familiáres e amigos pra ouvir um “pé de serra” e comer o melhor da cozinha nordestina; vou matando a saudade por e-mail, Facebook e Skype.
13. Quais são suas expectativas para o resto do programa de intercâmbio? E qual a sua previsão de retorno ao Brasil?
Pretendo terminar as disciplinas desse semestre e em paralelo continuar o trabalho com a equipe do carro solar; há também a possibilidade de trabalhar em algum outro laboratório no campus. Devo, então, retornar ao Brasil entre o fim de dezembro e o começo de janeiro.
14. O que você aconselha para os alunos que também pretendem participar de um programa de intercâmbio?
É sim, yes, si, oui, ja... e qualquer outra língua que você souber dizer! A experiência pessoal e profissional é impagável. São novas pessoas, novos lugares, novas culturas; você percebe o quão é pequeno em face à diversidade humana e acrescenta um peso considerável ao seu currículo. Então, meu conselho é aproveite a oportunidade (mas de verdade!): faça disciplinas relevantes, descubra ao máximo sobre o mundo e quando voltar pra casa duvido que irá ter se arrependido.
Paola, o PET Elétrica agradece pela entrevista e lhe deseja muito sucesso.
Thyago Monteiro
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