Meia Greve na UFCG e o descaso com o Ensino Superior
Não é de hoje o histórico de participação da UFCG nas greves das universidades federais. Muitos dos alunos que atualmente estão no curso de Engenharia Elétrica sofreram os impactos de greves anteriores que provocaram o atraso do calendário acadêmico, semestres quebrados na metade pelas férias de fim de ano ou recessos de duas semanas.

Acontece que março passou, assim como abril, e o cumprimento da proposta só veio ocorrer quando o Ministério da Educação aprovou uma medida provisória concedendo à categoria o reajuste retroativo a março do ano corrente, em um momento em que a greve já estava encaminhada. A manobra do governo até teria funcionando se a mobilização não tivesse tomado outra proporção. Acontece que a luta dos professores não se resume a um aumento salarial, sendo mais complexa. Na atual pauta de negociações também estão a reestruturação do plano de cargos e carreiras, percentuais de acréscimo relativo à titulação e ao regime de trabalho, entre outras condições que não foram aceitas de imediato pelo governo e que levaram diversas instituições federais no Brasil a aderirem à greve como forma de manifestação.
Apesar do sentimento de que a greve provavelmente aconteceria, muitos professores afirmaram que continuariam o desenvolvimento de suas atividades mesmo com a ocorrência desta. Alguns até tentaram, inclusive, aplicar avaliações como o tão repercutido caso do professor de Cálculo III, impedido de aplicar a prova, mas as ações do Comando de Greve estão agindo no sentido de frear esse tipo de atitude. Alguns professores do Departamento de Engenharia Elétrica também tentaram essa premissa. Porém, visto a dificuldade de manter um acordo com as turmas (que não são obrigadas a aceitar aulas e avaliações durante esse tempo), os que não decidiram aderir à manifestação estão recorrendo a diversas alternativas para a conclusão de suas disciplinas. Vale ressaltar que apesar de muitos professores do Departamento dizerem-se contrários à greve e paralisações, poucos decidem participar das deliberações onde decisões como as de uma greve são decididas. Insistem que são contra a greve, mas não se manifestam contrariamente a ela.

No meio do fogo cruzado estão os alunos que são colocados em uma situação de “meia greve”, assistindo metade das aulas que deveriam ou continuando o desenvolvimento de seus projetos de pesquisa. Um desgaste para os que moram em outras cidades e que devem assumir os custos de permanecer no campus, além do comprometimento das férias do meio do ano, reservadas para passar com a família. Sem mencionar os alunos com intercâmbios programados para o início do próximo período ou os que estão se formando e que já tinham planos de estágios ou mestrados.
Até o dia 28 de maio, o número de universidades federais que aderiram à paralisação chegou a 52. A mobilização ganha força e a expectativa é que ela dure, pois o governo prolonga a negociação num verdadeiro cabo de guerra com os sindicatos. Na mídia, a greve é deixada de lado, e assuntos como o abuso sexual sofrido por Xuxa e o clipe das empreguetes ganham mais destaque do que a paralisação na educação superior. Mais uma prova do descaso que é dado à educação no Brasil.
Thyago Monteiro Sá
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