O lado feminino do machismo



Machismo é a crença – infundada – de que os homens são superiores às mulheres. Porém, na prática, não há uma definição tão resumida.

Historicamente, as sociedades têm caráter patriarcal, com apenas algumas exceções, como as amazonas gregas e a Ilha de Malta; suas divindades eram mulheres, assim como as líderes sociais e políticas. Porém, seguindo o caminho da evolução das sociedades ocidentais, profundamente atrelado a religiões de caráter machista, não é surpresa nos encontrarmos nesse tipo de sociedade.

Hoje em dia, o machismo, no seu sentido estrito, evidencia-se em piadas de mau gosto (como associar mulheres a tarefas domésticas e pouca habilidade ao volante) e em casos mais sérios, como diferenças salariais, discriminação e violência doméstica.

Nesse sentido, surge o feminismo, que, ao contrário do que pode ser deduzido, não é um equivalente direto ao machismo: caracteriza-se por defender direitos iguais para todos, independentemente do sexo. Entretanto, devido ao profundo enraizamento do machismo na nossa sociedade, geraram-se alguns “efeitos colaterais”, muitas vezes oportunos às próprias mulheres, mesmo aquelas que se dizem feministas.

Caso muito claro são as leis de proteção à mulher, cujo exemplo mais famoso é a Lei Maria da Penha. Porém, devido à analogia, essa lei estende-se ao caso contrário, ou seja, quando o homem é vítima de agressão por parte da mulher. Agora, analisemos nossa sociedade brasileira (não as leis, mas o povo), tomando como exemplo um clássico das discussões “amorosas”: no ápice da discussão, a mulher, enfurecida, estapeia o homem no rosto: nada de chocante. E o caso contrário? Num momento de fúria, o homem agride a mulher, mesmo que com uma tapa de menor força: é tido como um covarde, merece ser preso e castigado.

Muito chocante? Passemos, então, para algo menos extremo. Numa empresa, desempenhando a mesma função, encontramos um homem que recebe mais que uma mulher. Caracteriza-se discriminação, pois isso é um claro exemplo de machismo digno de revolta social. E o caso contrário? Ninguém se importa. Não falo do aspecto legal, já que, mesmo se o texto da lei for restrito à mulher, pode-se entendê-lo como abrangendo também o homem. Porém, falo do aspecto social, popular: não há indignação.

Aí que o feminismo torna-se importante: para compensar um desequilíbrio histórico, não se pode gerar outro desequilíbrio, pendendo para o outro lado. Não se pode justificar uma injustiça como sendo para proteger o “sexo frágil”. O feminismo deve ser aplicado no seu sentido estrito: igualdade entre os sexos. Uma agressão é uma agressão e, independente de quem a comete e quem a sofre, deve ser motivo de indignação. A discriminação por causa do sexo deve ser combatida, independentemente de qual sexo é discriminado.

Portanto, as mulheres que só são feministas até a hora de pagar a conta ou ganharem favores por mostrar um decote são, em sentido amplo, machistas (só que para o sexo feminino). Assim, independentemente do gênero, sejamos feministas. Parte dos problemas mais básicos já se resolveria aí.


Vítor Silveira
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