Despedida à Edmocracia
Ao ingressarmos no grupo PET-Elétrica (Programa de Educação Tutorial), temos o conhecimento que faremos parte de um grupo que será orientado por um professor doutor. Imaginamos que a função do tutor será apenas de planejar e supervisionar atividades, cobrar pontualidade e participação, exigir perfeição e qualidade ao se realizar uma tarefa, determinar que os estudantes tenham excelente rendimento acadêmico e estar responsável pela parte burocrática do programa.
Todavia, quando nos tornamos integrantes do Grupo, em especial para os petianos que viveram os últimos cinco anos do PET-Elétrica, tivemos a honra de ter o professor Edmar Candeia Gurjão como tutor. Passamos então a entender que não havia apenas uma relação profissional entre petianos e tutor; nós não encontramos apenas uma pessoa autoritária e superior a nós. Posso dizer que encontramos um grande amigo e pai. Na realidade, no cotidiano, as pessoas possuem apenas dois ou três, no máximo cinco amigos verdadeiros. Tornou-se raríssima a existência de famílias com mais de cinco filhos. Mas afirmo que Edmar conquistou a amizade dos 12 petianos que participaram do Grupo e, além disso, conseguiu ser o pai de 12 estudantes.
Ele desempenhou, sim, todas as funções designadas a um tutor e com muita competência. Mas havia um diferencial: ele conseguia entender os alunos, respeitava o ritmo de cada pessoa e nas reuniões não tratamos apenas de assuntos do PET. Uma vez ou outra, deparávamo-nos com diálogos que só verdadeiros pais deveriam ter com seus filhos, bons conselhos foram dados. Falamos sobre política, economia, meio ambiente, história, conhecemos muitas das experiências de vida que ele teve. Estávamos diante de um grande torcedor do Treze, de um admirador do conhecimento e do desenvolvimento, e de um sonhador. Sonhava e sonha que um dia o nosso país poderá se tornar melhor e nos fez acreditar que somos e devemos ser agentes atuadores para que este fato ocorra.
Acredito que, para muitos dos petianos, durante todos os anos que passamos no PET, ouvimos mais conselhos de Edmar do que da nossa própria família; tínhamos e temos um grande temor e respeito a ele. Se fizemos atividades com perfeição, não foi somente para demonstrar qualidade para a graduação ou porque recebíamos uma bolsa, mas sim porque queríamos impressionar Edmar e queríamos lhe dar orgulho de ser tutor desse grupo.
Quando nos deparávamos com situações difíceis, seja por desempenho acadêmico decaindo, professores que nos davam trabalho, problemas familiares, problemas no grupo, não era preciso chegar a ele para contar. Muitas das vezes ele conseguia identificar apenas por nosso comportamento que havia algo de errado acontecendo, e então era a hora de irmos à sala dele termos uma conversinha. Nessas conversas, são incontáveis as vezes que petianos desabafaram e choraram em sua frente. Mas, com toda a paciência do mundo, Edmar pedia-nos para termos calma; mostrou-nos que podíamos amadurecer mais com os problemas que estávamos passando e sempre dizia “Daqui uns dias ainda vou lhe ver sorrindo desta situação que você está passando”. E isto era fato: o tempo passava e lá na boa e maravilhosa fava éramos relembrados das peripécias de vida que passamos.
Seu senso de humor era inabalável. Tirava brincadeiras, pelo fato de uma petiana ser do estado do Pará, do Piauí, de Maceió, de Pocinhos ou de São José da Lagoa Tapada, por uma petiana ser mais forte do que todos os petianos juntos, pela hiperatividade de outras, pela extrema calma de outros... Àqueles que moravam distante, o velho conselho era dado: “Se sentir saudade de seus pais, olhe uma foto deles”. Era invejável o grande amor que ele sentia pelos gatos da UFCG. Sem contar todas as tardes, que podia acontecer um terremoto, mas o seu cafezinho era sagrado.
Fiz de tudo para não tornar este texto uma despedida fúnebre, entretanto foi impossível. Tenho certeza que, para todos nós, a lembrança dos momentos que passamos juntos sempre estará na mente de cada um. E é em nome de todo o Grupo que, com os olhos cheios de lágrimas e o coração dolorido, que nós agradecemos a ele por ter feito parte de nossa história de vida. Desejamos-lhe todo o sucesso possível na sua viagem aos Estados Unidos.
Andréia Bispo