Entrevista- Felipe Maia Másculo


O aluno Felipe Maia é estudante de Engenharia Elétrica do 8° período e atualmente está fazendo um intercâmbio na França pelo Brafitec. Em entrevista ao PET Elétrica, ele fala sobre essa experiência  em uma universidade estrangeira e como foi o processo de seleção que o levou ao intercâmbio.


            1.Você é natural de que cidade e quando ingressou no curso de Engenharia Elétrica na UFCG?

Natural de Nova York (EUA), mas morei a vida inteira em João Pessoa. Ingressei no curso de Engenharia Elétrica no período 2008.1.

 

2.Você participa de qual programa de intercâmbio? Qual o nome da universidade que você foi estudar e onde ela se localiza?

Participo do Brafitec, financiado pela Capes. Estudo atualmente no Institut National de Sciences Appliquées de Lyon (INSA-Lyon) que se localiza em Lyon, França.

 

3.Como foi o processo de seleção?

Houve uma análise do histórico escolar e do currículo dos candidatos, uma prova de francês e uma entrevista. Não me lembro  do peso de cada etapa (acredito que nem foi divulgado), mas penso que o histórico acadêmico e a prova de francês foram preponderantes.

 










4.Qual a principal diferença vista por você da graduação aqui no Brasil e na França?

A graduação em engenharia aqui na França é bem diferente do Brasil.

A formação é dividida em dois ciclos: 

            O primeiro ciclo, com duração de 2 anos, em geral é feito em escolas preparatórias ou em escolas técnicas e não nas universidades (o INSA é uma exceção, pois tem o primeiro ciclo integrado à universidade). As escolas preparatórias têm um currículo semelhante ao do ciclo básico no Brasil com bastante matemática, física, química, etc. As escolas técnicas, no entanto, priorizam uma formação tecnológica mais prática, embora ensinem toda a matemática e física essenciais para um curso de engenharia. Em geral, os alunos das escolas técnicas entram direto no mercado, pois apenas os melhores alunos desses cursos são aceitos em escolas de engenharia. 

            É apenas no segundo ciclo, ou seja, a partir do terceiro ano, que o aluno ingressa realmente em uma escola de engenharia e é nesse momento que ele deve escolher o seu curso.

Não há grandes diferenças quanto ao nível do conteúdo ministrado, mas há uma pequena diferença na abordagem. Aqui as aulas são bem expositivas, como palestras, e os alunos não costumam participar com muita frequência, o que acho uma desvantagem com relação ao Brasil. Por outro lado, eles fazem diversas sessões de exercícios com os professores, o que ajuda muito.

 

5.Você está satisfeito com a oportunidade de estudar nesta nova Universidade? Conte-nos um pouco de como é estudar por aí. Se você participou de algum projeto, se os professores ajudavam no entendimento da língua e do assunto e de como são os laboratórios.

Estou muito satisfeito de estudar aqui, tem sido uma ótima experiência, embora obviamente existam momentos difíceis.

A carga horária aqui é bastante pesada (temos aula das 08h:00 às 18h:00 praticamente todos os dias), de modo que é muito difícil realizar atividades extracurriculares. Não conheço nenhum aluno de graduação, francês ou estrangeiro, efetivamente engajado em projetos de pesquisa. Sei que existem uma empresa júnior e uma associação de representação estudantil equivalente ao nosso CA, mas acho difícil que um aluno de intercâmbio consiga se inserir nessas atividades.

Quanto aos professores, a maioria é atenciosa e procura ajudar, mas não é possível fazer dois cursos diferentes: um para os estrangeiros e outro para os franceses. Então, é preciso se esforçar para acompanhar a aula no mesmo ritmo dos nativos. 

Ainda não tive oportunidade de conhecer todos os laboratórios, mas baseado nos que conheci, posso afirmar que os nossos laboratórios na UFCG estão aproximadamente no mesmo nível dos daqui. No entanto, estou cursando disciplinas do quarto ano e tenho a impressão de que os laboratórios do quinto ano são mais bem equipados.

 

6.A coordenação do curso oferece algum auxílio com relação a estágios em empresas?

A universidade e o departamento disponibilizam todas as informações necessárias para que o aluno obtenha um estágio. A universidade tem, inclusive, um órgão integralmente dedicado a manter contato com as empresas e orientar os alunos em sua busca. Há um incentivo enorme para que os alunos realizem estágios na indústria, e a grande maioria segue esse caminho.   

 

7.Como é lidar, no cotidiano, com a língua francesa? Neste sentido, quais são suas maiores dificuldades?

A língua é sem dúvida uma grande dificuldade. O meu maior conselho a quem pretende fazer um intercâmbio no exterior é o de se esforçar o máximo possível para dominar a língua do país onde se vai estudar. Eu cheguei aqui na França com um nível razoável de francês e ainda assim tive (e ainda tenho) muitas dificuldades de comunicação. 

Quando não se domina o idioma, além da dificuldade óbvia de acompanhar um curso naturalmente difícil, as atividades mais simples como pedir um prato em um restaurante ou pedir informação a alguém na rua se tornam desafios. Depois que um colega escocês que tinha cabelo longo e era bem orgulhoso do mesmo foi "dar uma aparada" e voltou quase careca (e bastante deprimido), ninguém mais teve coragem de ir cortar o cabelo. É possível, então, imaginar como pode ser difícil fazer um plano de celular, abrir uma conta no banco ou fazer um plano de saúde. 

A falta de fluência na língua é também um grande empecilho à integração com os nativos, de maneira que é muito fácil se isolar em um grupo de brasileiros. Assim o intercâmbio perde grande parte de seu sentido.

 

         
8.No local onde você mora a bolsa é suficiente para cobrir seus custos?

A bolsa do Brafitec é mais do que suficiente para cobrir todos os custos.


9.Você conheceu outros países além da França? Quais?

A responsável pelos estudantes de intercâmbio do INSA nos informou que só poderíamos deixar a França depois de receber o "Titre de Séjour" (título de residência), como só o recebi há algumas semanas e ainda não tive férias, só visitei a Alemanha por um fim de semana.

 

10.Em relação às culturas que você teve contato. Houve algum aspecto de difícil adaptação? Conte-nos um fato curioso.

Sempre gostei muito de conhecer culturas diferentes, então não tenho tido nenhuma dificuldade em me adaptar às diferenças culturais. Divido apartamento com um italiano e um marroquino e fiz amigos do mundo inteiro. Para mim esse é o aspecto mais positivo de se fazer um intercâmbio. A única dificuldade de adaptação que tenho é relativa à culinária francesa, que só é a melhor do mundo para os franceses.

 

11.De que forma, o intercâmbio está contribuindo na sua formação?

O intercâmbio contribui na formação de um indivíduo de tantas formas diferentes que é difícil de dar uma resposta para essa pergunta. Existe a óbvia contribuição do ponto de vista técnico, pois estou fazendo o curso em uma das melhores e mais concorridas universidades de engenharia da França. Embora eu não acredite que exista uma diferença de qualidade com relação ao nosso curso de engenharia elétrica da UFCG, o fato de conhecer uma forma nova de se ensinar engenharia é muito interessante. Além disso, a França é um país de grande tradição científica, fato do qual se orgulham muito, então muitas vezes eles têm sua própria notação e seus próprios métodos de resolver problemas que frequentemente não conhecemos no Brasil por estarmos mais ligados cientificamente aos Estados Unidos.      

O fato de estar ganhando fluência em uma nova língua também é importante, mas, para mim, a maior contribuição do intercâmbio para minha formação é a experiência de vida que estou ganhando. É um aprendizado difícil de mensurar, mas que sem dúvida tem um grande valor. 


Por Ilis Nunes e Elvys Raposo

Comments