Excesso e Excelência
“O excesso de estudo provoca erro, confusão, melancolia, cólera e fastio” Pietro Aretino[i] O sucesso profissional e um bom rendimento escolar muitas vezes são acompanhados por uma sobrecarga de tarefas, obrigações e responsabilidades. Desencadeando uma série de prejuízos à saúde mental e física. São exemplos comuns: problemas de auto-estima, oscilações de humor, distúrbios do sono, dificuldade de concentração e memorização, ansiedade, alterações menstruais, lapsos de memória, dores de cabeça e problemas digestivos. Um somatório de reações fisiológicas exageradas em intensidade e/ou duração que podem levar o organismo ao desequilíbrio, mais conhecido como estresse.
Em 1974, nos Estados Unidos, o pesquisador Freunderberger a partir da observação de desgaste no humor e na motivação de profissionais de saúde com os quais trabalhava identificou um problema, o qual denominou de Síndrome de Burnout. O termo burnout resultou da junção de burn (queima) e out (exterior), caracterizando um tipo de estresse ocupacional, durante o qual a pessoa consome-se física e emocionalmente, resultando em exaustão e em um comportamento agressivo e irritadiço. Com relação às alterações comportamentais, as principais relacionadas à Síndrome de Burnout são: maior consumo de café, álcool e remédios, faltas no trabalho ou universidade, baixo rendimento pessoal, cinismo, impaciência, sentimento de onipotência, impotência, comportamento depressivo e baixa tolerância à frustração. Estudiosos deixam claro que a síndrome não deve ser confundida com estresse ou depressão e sim definida como a adaptação a uma situação claramente desconfortável no ambiente de trabalho. Na universidade, principalmente no âmbito da Engenharia Elétrica, o aluno é apresentado a uma carga horária de disciplinas extremamente rígida. Comumente também dedica horas extras às suas pesquisas e “vira madrugadas” em verdadeiras maratonas de estudo. Paralelamente, muitos dos estudantes tornam-se sedentários e as dietas alimentares não são suficientemente saudáveis. Neste contexto, a BBC noticiou o resultado de um estudo publicado na revista European Heart Journal [ii]declarando que trabalhar além da sua capacidade aumenta os riscos de doenças cardíacas fatais. Segundo o estudo fazer horas extras com freqüência pode aumentar em 60% as doenças no coração (sem contar os problemas amorosos e emocionais!). Dentre outras pesquisas, destaca-se o trabalho de cientistas finlandeses publicado na revista Amerian Journal of Epidemiology [iii]. O resultado é alarmante, revela que o trabalho excessivo pode aumentar o risco de declínio mental e, provavelmente, levar o indivíduo à demência - um termo genérico que descreve a deterioração de funções cerebrais como memória, linguagem, orientação e julgamento. Devemos nos questionar se tanto esforço, estudo e desgaste visando êxito nas disciplinas realmente implica em conseqüências positivas. O que é primordial para a nossa vida, o bem-estar e a saúde ou o sucesso profissional? Dosar não é desistir.
Andréia Bispo do Nascimento ____________________________________________________ [i] Pietro Aretino. Poeta, escritor e dramaturgo italiano. 1492 - 1556 [ii]Chandola, T. Work stress and coronary heart disease:what are the mechanisms? European Heart Journal, Londres, p. 640, 23 jan. 2008. [iii]Chandola, T. Virtanen, M. Long Working Hours and Cognitive Function. American Journal of Epidemiology, Oxford p 596, 3 nov. 2008. |