Aluno ou Estudante?
Por João Paulo Agra
A etimologia da palavra “aluno” nos diz que ela é formada pela junção do prefixo “a” de negação e do radical “lun” que vem do latim lumen, “luz”. Desta forma, a simples lógica nos leva ao seu significado que é “sem luz”. Certo? Errado. De fato toda a palavra “aluno” é que vem do latim alumnus, que quer dizer “criança de peito” ou “lactante”, aquela criança que ainda mama, que ainda está a se nutrir diretamente da mãe.
A falsa etimologia inicialmente exposta que de forma lamentável acabou se espalhando, serve muitas vezes de instrumento para incitar estudantes, os fazendo pensar que são menosprezados por serem chamados assim. Ora, tenho certeza que bem mais da metade das pessoas que designam um estudante por “aluno” não sabe sequer a etimologia errada, então como podemos estar sendo desrespeitados? Somos sim de inúmeras outras formas, mas não desta. Esse é um simples exemplo de como nossa ingenuidade nos torna manipuláveis.
Torna-se até cômico perceber que ao nos revoltarmos por sermos chamados desta forma provamos ser de fato “sem luz”. Isto porque ser aluno significa ser imaturo e dependente, ser carente de sapiência e experiência, e nós somos realmente tudo isso. Mas não implica que nos falta algo tão subjetivo quanto “luz”. E aqui atribuo uma interpretação própria a essa “luz”, que seria a capacidade de adquirir conhecimento. O processo de aprender, ou simplesmente obter alguma informação, deve envolver pesquisa e confirmação por fontes seguras e confiáveis. Acreditar em tudo que nos é dito sem questionar só mostra o quão nós mesmos limitamos nossa capacidade. Ser aluno não é em absoluto vergonhoso, mas temos que buscar ser algo mais, nos tornar efetivamente estudantes.
O estudante é mais proativo e independente, mais curioso e interessado no seu objeto de estudo. Mais investigador e questionador. Se compararmos diretamente as duas palavras, a diferença se faz clara. O aluno é passivo, é aquele que precisa receber conhecimento, que precisa ser conduzido pelo professor. Já o estudante, como a própria palavra diz, efetivamente estuda, vai à busca do conhecimento utilizando o professor como um facilitador, como alguém mais experiente que irá lhe indicar o caminho mais fácil, mas que não necessariamente segurará na sua mão e o conduzirá por ele.
Se quisermos deixar de ser simples alunos, e por vezes até verdadeiros “sem luz”, para sermos dignos estudantes, o primeiro passo é reconhecer nossa ignorância e nossas faltas. Depois, estimular nossa curiosidade, nossa sede de saber, e nos policiar para sermos mais críticos e menos implicantes. Não é vergonhoso ser imaturo, é vergonhoso insistir em continuar sendo.
Devemos lutar por motivos justos, justificáveis e bem fundamentados, corretamente fundamentados, e não porque temos que dar uma razão qualquer a essa grande raiva de “sabe-se lá o que” que temos, achando que tudo além de nós está errado. Temos que ser conscientes de nossos direitos e exigi-los em conjunto.
Gostamos muito de reclamar, mas nunca vi reclamações mudarem nada efetivamente. O que muda as coisas são atitudes, e no nosso caso atitudes devem ser tomadas conjuntamente, com unidade e organização. Procuramos qualquer motivo para causar baderna, mas não deve ser bem assim. Somos todos cidadãos e temos nossos direitos, que não são maiores nem menores que os de qualquer professor ou funcionário dentro da UFCG, ou fora dela. Reclamar e se esconder atrás de quem tem coragem de tomar atitudes é ser menos do que medíocre. Pelo menos o medíocre ficaria calado e não abandonaria o colega.
Meus amigos e amigas, se quisermos respeito temos que nos fazer respeitar. Adotar outra postura dentro e fora da sala de aula, uma postura de pessoas determinadas, que sabem o que querem e como querem, de pessoas conscientes e cidadãs. Não devemos abaixar a cabeça, e também não devemos perder a razão. Somos jovens, mas também somos adultos, e devemos nos portar como tal.
O respeito não vem pagando disciplinas “na cola”, procurando os “leites” da próxima prova, nem nos divertindo com faltas de aula em meio a enchentes. Ele virá quando formos capazes de exigi-lo, quando todos juntos tivermos moral para cobrar dos nossos professores que eles de fato nos ensinem e eduquem, quando tivermos atitude para cobrar de nossa instituição e de nossa unidade acadêmica políticas corretas e que beneficiem nossa formação, pois somos nós estudantes os verdadeiros interessados aqui. Em outras palavras, teremos respeito quando nos comportarmos como cidadãos críticos.
Enquanto a cultura do leite perdurar, continuaremos a ser meros lactantes.