Entrevista – Prof. Saulo Oliveira Dornellas Luiz
Por Thyago Sá
O Prof. Saulo Oliveira Dornellas Luiz* fez mestrado e atualmente é aluno de doutorado em
Engenharia Elétrica pela UFCG. De junho de 2009 a novembro de 2010 foi
professor assistente da Fundação Universidade Federal Vale do São Francisco.
Desde novembro de 2010 é professor assistente da UFCG, lecionando a disciplina
Laboratório de Circuitos Lógicos e atuando principalmente nas áreas de sistemas
embarcados e gerenciamento dinâmico de energia. Em entrevista ao Jornal
PET-Elétrica, fala sobre suas experiências enquanto graduando e mestrando e compartilha
um pouco de suas vivências profissionais.
1. Qual foi a motivação que o levou a escolha
pelo curso de Engenharia Elétrica?
Na realidade eu desejava fazer a graduação
em Matemática, pois adorava Geometria e fazia vários desenhos interessantes nos
programas Logo e Mathematica. Eu adorava desenhar Fractais e outras formas, mas ciente da realidade
do mercado de trabalho para matemáticos no Brasil, o qual na maioria das vezes
é restrito ao ensino, decidi fazer engenharia, já que eu gostava igualmente de
Física e Química.
2. Sua entrada na universidade em 2001 se deu
quando a instituição ainda era UFPB.
Como essa mudança era encarada pelos alunos?
Essa foi uma passagem interessante. Inicialmente
tivemos uma surpresa, e talvez receio pelo enfraquecimento da instituição, mas o professor Mário
de Sousa Araújo Filho, que na época era coordenador do curso de graduação em
Engenharia Elétrica, nos passou segurança sobre esse processo, que hoje mostrou
os seus frutos.
3. Durante a graduação, o senhor chegou a
desenvolver atividades de ensino
através do Programa de Extensão Pré-Vestibular Solidário. Naquela época, a carreira acadêmica já estava
decidida? Quais foram as
motivações que o levaram a querer ser professor?
Na minha graduação eu não tinha certeza se
trabalharia na indústria, com pesquisa, ou ensino. Eu mantinha minha mente
aberta. O Pré-Vestibular
Solidário foi uma primeira experiência em sala de aula, mas a decisão sobre
querer ser professor aconteceu aos poucos. Durante a graduação, eu gostava de
estudar em grupo, e comecei a notar que quando meus colegas tinham dúvidas, eles entendiam da forma
como eu explicava os assuntos. Depois de realizar meu estágio numa empresa, eu
também percebi que queria fazer o mestrado, durante o qual eu realizei a
disciplina de estágio docência no Tópico Especial em Engenharia Elétrica (TEEE)
de Sistemas Embarcados, sob orientação do professor Antonio Marcus Nogueira
Lima. Foi uma experiência que também me ajudou a ter certeza que gostaria de
seguir a carreira acadêmica.
4. Atualmente, o senhor é professor da
disciplina Laboratório de Circuitos Lógicos. Comente a experiência nessa
disciplina que em geral atende alunos tão recentes na graduação.
Eu já havia lecionado a disciplina de
Laboratório de Circuitos Lógicos na Universidade Federal do Vale do São
Francisco, que lá é chamada de Laboratório de Eletrônica Digital. É uma
disciplina interessante exatamente pelo fato de receber alunos recentes na
graduação. O fator emocional e de amadurecimento na disciplina se torna
essencial. A geração de hoje foi acostumada desde cedo a usar o computador,
jogar videogame,
acessar informações rapidamente na Internet, ou seja, fazer tudo rápido e muitas vezes sem
cuidado. No laboratório há a necessidade de cuidado e atenção no projeto e na
montagem dos circuitos
lógicos. Então, em sala de aula, eu procuro treinar os alunos desde a
primeira aula nesse sentido. Nos primeiros experimentos, os alunos tendem a
ficar impacientes quando acontecem erros e eles não conseguem identificá-los.
Nesse momento o papel do professor é essencial para treiná-los a encontrar e
corrigir os erros de montagem, e mostrar que há técnicas para fazer isso.
5. O senhor foi integrante por dois anos do
Programa de Educação Tutorial (PET). Como foi essa experiência? Como era o
funcionamento do grupo em termos das atividades desenvolvidas? Qual era a visão da graduação em relação ao
grupo PET?
A experiência no PET foi positiva. Na área
de pesquisa, eu realizei um estudo sobre representação da codificação
aritmética através da geometria fractal, juntamente com o professor Francisco
Marcos de Assis. Nas outras áreas de atuação do PET, houve o Pré-Vestibular Solidário e outros mini-cursos para
a graduação. Dentre outras coisas, o PET me propiciou um maior amadurecimento do trabalho em
equipe. Na época em que eu participei do PET, o grupo era formado por alunos
desde o terceiro período até concluintes. Então cada um contribuía com suas
experiências pessoais e de graduação. A visão da graduação em relação ao grupo
PET era positiva, e as seleções eram concorridas. Contudo, no cenário nacional,
os grupos PET reivindicavam por melhores condições de funcionamento e pelo fortalecimento do
programa.
6. Geralmente, os alunos têm dúvidas no
momento de escolher uma ênfase. O que o levou a optar por Controle e Automação
entre as quatro opções?
Eu sempre gostei de Matemática, e, na realidade, ao cursar
Probabilidade e Estatística e
Processos Estocásticos, decidi logo cedo pela ênfase de Telecomunicações.
Adorei cursar as disciplinas de ênfase de Transmissão Digital da Informação
(TDI) e Teoria da Informação e Codificação (TIC), ambas com o professor Francisco
Marcos de Assis. Como na época eu estava na ênfase de Telecomunicações, me
interessei pelo projeto de cooperação entre a Nokia e a UFCG para
desenvolvimento de software para aplicações móveis, e gostei muito do trabalho com os professores Angelo
Perkusich, Antonio Marcus, José Sérgio, Péricles Rezende e Marcos Morais.
Então, apesar de ter terminado a ênfase de Telecomunicações na graduação,
decidi mudar para a área de Instrumentação e Controle no mestrado, o que logo no
início se mostrou uma decisão sábia, porque eu terminei a graduação esgotado
fisicamente, mas no mestrado eu me concentrei em disciplinas e projetos
diferentes dos quais eu estava acostumado em Telecomunicações, o que me deu uma
motivação a mais nessa fase.
7. Sua didática em sala de aula tem a influência
ou inspiração em alguns dos seus antigos professores? Que métodos o senhor tenta desenvolver para
que ocorra a assimilação do conteúdo?
Na realidade a principal influência na minha
didática é o meu pai.
Às vezes, no ensino fundamental, os professores de matemática ensinavam de um
jeito que eu não conseguia entender. Mas quando eu tirava dúvidas com meu pai, ele conseguia
explicar de um jeito simples e direto, que eu entendia e não me esquecia mais.
Então hoje, em sala de aula, eu procuro tirar as dúvidas dos alunos da forma
mais clara possível. No
laboratório, eu procuro treinar os alunos a ter uma metodologia de trabalho de
laboratório que
eles possam levar para a vida profissional.
8. O senhor foi aluno da UFCG ao longo de
grande parte da sua formação. Como é ser colega de trabalho dos seus ex-
professores?
Quando eu trabalhei na Universidade Federal
do Vale do São Francisco, eu vivenciei uma universidade jovem, em que tudo
estava sendo construído. A grande parte dos meus colegas tinha a minha idade.
Foi uma experiência interessante, porque todos amadureceram juntos e assumiram
a responsabilidade da construção dessa nova universidade. Hoje na UFCG eu sou
colega dos meus professores da graduação, mas eles serão sempre meus
professores, e eu os consulto quando necessário.
9. Nosso curso vive uma fase de mudanças dadas
as novas
configurações geradas pelo REUNI. Qual a sua posição em relação a este fato?
Que estratégias o senhor acha que devem ser feitas pelos professores para
encarar essa nova fase do curso?
Eu acredito que qualquer novo desafio
precisa ser lidado com responsabilidade e profissionalismo. O Brasil precisa
não somente de mais engenheiros, mas de engenheiros competentes. Então, o papel
que o professor tem em sala de aula é de proporcionar todas as condições para
que essa nova geração de jovens esteja qualificada para exercer com
responsabilidade e competência a profissão.
10. Para
finalizar, um conselho aos alunos.
A graduação em Engenharia Elétrica é um
período intenso de estudos, em que na maioria das vezes desejamos mais tempo
para amadurecer e aprender mais sobre determinados assuntos. Mas, apesar do
ritmo forte, é importante manter sempre a alegria da descoberta e das
realizações, seja através de projetos e pesquisas na universidade, seja através
de projetos pessoais. Isso é o que nos guia para feitos maiores após a
graduação, que é também um novo começo.