É possível parar um raio?

 

Desde o surgimento dos primeiros hominídeos, primatas bem anteriores ao Homo Sapiens, o raio vem exercendo o seu fascínio.

Antes de o homem dominar o fogo, ele esperava as grandes tempestades de verão para tê-lo, pois o fogo aparecia quando uma árvore ou a vegetação seca eram atingidas pelo raio. Nesta época, o raio e o trovão eram deuses.

Com o passar do tempo e observando o raio, criaram-se várias crendices e amuletos para se salvar dele. Pedras de raio, o raio não cai no mesmo lugar mais de uma vez, espelhos atraem raios.

Para contrariar estas crendices, em 1752, Benjamim Franklin realizou uma experiência deixando ao ar livre uma haste de ferro com cerca de dez metros de altura, colocada sobre uma base isolante. Como resultado, ele provou que o raio é apenas a descarga da eletricidade atmosférica condensada nas nuvens.

Em dezembro do mesmo ano, Franklin repetiu a experiência, mas dessa vez usou de um recurso que se tornou célebre: poucas vezes se viu um adulto empinando um papagaio (pipa) de papel com tanta seriedade. É que o cientista prosseguindo em suas pesquisas havia substituído a haste de ferro pelo fio úmido do papagaio, e este poderia ficar mais próximo das nuvens onde havia eletricidade. De fato, a pipa logo foi atingida e seu fio transmitiu potentes chispas elétricas para a terra. Em outras palavras: o papagaio absorvia o raio, evitando que ele atingisse alguma pessoa ou construção.

Por muitos anos o famoso pára-raios deste cientista, conhecido como Pára-Raios Franklin, dominou o mercado de como se devem parar os raios. No entanto, nos anos 50 surgiram no comércio as primeiras versões do pára-raios radioativo, à base de elementos químicos radioativos como o amerício. Estava-se no início da Era Atômica, quando o moderno sempre usava o adjetivo atômico para designar algo muito bom ou de qualidade superior.

Porém, alguns cientistas achavam exagero a utilização do “atômico” para tudo, principalmente em um aparelho que ficaria exposto ao tempo, sem nenhuma proteção. Estes cientistas provaram que a eficiência dos pára-raios radioativos era igual ou pior do que ao pára-raios Franklin do século XVIII. Com isto, na década de 80, o Ministério de Minas e Energia proibiu a instalação de novos pára-raios radioativos e recomendou a retirada dos existentes, enviando-os para a Comissão Nacional de Energia Nuclear – CNEN. Hoje, muitas unidades da federação já proibiram e obrigam a remoção deste tipo de pára-raios.

Com a proibição dos pára-raios radioativos surgiu um questionamento importante, já que, mesmo com a instalação do único modelo de pára-raios disponível no mercado, algumas edificações continuavam a ser atingidas nas primeiras chuvas de setembro e de outubro. Portanto, como tornar o pára-raios mais eficiente?

Novamente, um grupo de cientistas questionadores realizou novos estudos propondo uma nova metodologia resumida na norma ABNT NBR 5419, que trata da proteção de estruturas contra descargas atmosféricas. A norma passou a chamar esta metodologia de Sistema de Proteção contra Descargas Atmosféricas – SPDA.

Este mesmo estudo também demonstrou que um dos motivos da ocorrência de falha no SPDA é a sua manutenção. Na maioria dos edifícios brasileiros, os responsáveis acham que pára-raios, após a sua instalação, só devem ser mexidos alguns anos depois, como é feito com a rede elétrica e telefônica. Mas, infelizmente, esta é outra crendice.

Nada funciona eternamente sem a manutenção adequada. E em um pára-raios, a primeira manutenção pode ser realizada visualmente. Basta verificar a continuidade física da cordoalha de terra – aquele fio que sai do pára-raios e vai até o chão - olhando também se ela está encostando-se a alguma parte do prédio ou em algum metal. Feito isto, basta chamar um profissional habilitado para realizar a medida de resistência de terra, a qual tem um valor padrão dado pela concessionária de energia.

A importância destas ações nunca será notada se o SPDA funcionar, e elas serão fundamentais nas ocorrências das primeiras chuvas, quando a quantidade de raios é muito grande. Nesta hora é que o SPDA tem que atuar.

Mas esta atuação não funcionará para todas as descargas que acontecerem, pois, a idéia básica do SPDA é diminuir a intensidade do raio, parando a maior parte da descarga atmosférica e não toda ela. Portanto, não se para um raio, se diminui a intensidade de sua descarga, diminuindo a destruição que ele ocasionará.

Então, não se esqueçam! Para o SPDA funcionar é necessário a sua manutenção. Síndicos! Verifiquem o estado do seu SPDA.


Eng. Solino Dias

Pesquisador do IECOM