Panorama do Mercado da Televisão Digital no Brasil
O mercado está crescendo bastante com a introdução da televisão digital no Brasil. A previsão inicial do governo indica que a televisão digital vai substituir a analógica até 2017. Como há um percentual de 94,6% das residências com televisor no País atualmente, isso implica 79,3 milhões de aparelhos a serem eliminados em dez, ou praticamente oito milhões jogados fora a cada ano. Além disso, o consumo de eletricidade deve aumentar em 8% com a aquisição de novos dispositivos.
Segundo previsões dos empresários, externadas em reuniões da Capes, a agência que cuida dos programas de pós-graduação no Brasil, o mercado de TV digital absorve dois mil profissionais por ano, desde 2008. Um programa emergencial de formação de mestres e doutores está em andamento, para evitar que as empresas tenham que importar profissionais da China ou Índia.
Um novo mercado de produção de software para televisão digital está sendo criado, além dos mercados tradicionais de receptores, transmissores, conteúdo e propaganda. A dimensão da somatória de mercados é de US$ 100 bilhões, de acordo com estimativas oficiais.
O aumento no consumo de eletricidade implica a necessidade de construção de novas usinas geradoras e adequação das redes de transmissão e distribuição. A Aneel, agência reguladora da área, já está trabalhando com essas premissas, para calcular o custo dessa ampliação. O descarte de aparelhos analógicos vai também gerar um comércio de usados e reaproveitamento de partes sem precedentes no País.
Mas há problemas à vista também. Aproximadamente 500 mil toneladas de lixo eletrônico são jogadas fora por ano no Brasil. Apenas 10% dos computadores e televisores e seus componentes passam por algum processo de reciclagem. Cerca de 50% do mercado brasileiro é dominado por pilhas piratas dotadas substancias tóxicas e apenas um terço das baterias e pilhas do País tem o tratamento adequado.
A dimensão dos rejeitos em nível mundial é impressionante. O lixo eletrônico produzido na Terra por ano chega a 35 milhões de toneladas. Esse lixo atinge 5% do total de resíduos sólidos dos municípios. Os resíduos eletro-eletrônicos crescem a uma taxa de 4% ao ano. Em 2010 haverá 716 milhões de computadores em uso no mundo. A freqüência de descarte de computadores e celulares já chega a dois anos em países desenvolvidos. O Brasil é um dos maiores mercados de televisão do mundo.
Os principais problemas com esse tipo de lixo são: o peso, porque os resíduos eletroeletrônicos pesam três a quatro vezes mais que o lixo comum; a decomposição, pois os produtos tóxicos em geral não se decompõem e voltam ao meio ambiente, incluindo metais pesados; a incineração, visto que queima dos materiais libera metais pesados e produtos químicos dos plásticos.
Mais do que nunca, são válidas as máximas dos ecologistas. Entretanto, há alguns problemas com sua aplicação prática: reusar, aumenta o tempo de vida dos produtos, mas a exportação para países em desenvolvimento causa diversos problemas; reciclar, é uma boa opção para uso dos materiais, mas o manuseio de produtos químicos pode ser perigoso para os trabalhadores não especializados da área; reduzir, parece não ser a lógica do mercado para o setor eletro-eletrônico, que está eufórico com a perspectiva de elevados ganhos com a televisão digital.
Por Marcelo Sampaio de Alencar
O autor é professor titular da UFCG
e vice-presidente da Sociedade Brasileira
de Telecomunicações