O Lado Negro do REUNI
Há cerca de dois anos a discussão sobre a implantação do REUNI (Reestruturação e Expansão das Universidades Federais) fervilhava por toda UFCG, o assunto era tema de discussão entre todas as camadas da instituição, desde alunos recém ingressos até os administradores de alto escalão da universidade. Finalmente, após a análise dos pontos positivos e negativos da proposta do governo, decidiu-se aderir ao programa federal.
O REUNI tem como dois de seus objetivos principais o aumento do número de vagas e a oferta de novos cursos superiores, metas que, se consolidadas de forma saudável, representariam um grande avanço para a universidade e a região, já que possibilitariam uma melhora na oferta de profissionais qualificados, tanto devido ao acréscimo do número de profissionais quanto à diversificação das áreas de especialidade.
Hoje, o REUNI é uma realidade na UFCG. O curso de engenharia elétrica, por exemplo, que teve uma entrada anual de 120 alunos em 2008, agora possui entrada anual de 225 alunos, uma expansão muito significativa em um período de tempo tão curto. Além das novas vagas em elétrica, a UFCG pretende criar cerca de outras 1500 vagas e 23 novos cursos até 2012, além de aumentar o orçamento da instituição em 20%.
Embora tenha objetivos nobres, a implantação do REUNI na nossa instituição está tendo de enfrentar uma série de problemas práticos, a maioria deles é derivada de uma causa primordial, a falta de compromisso na execução do planejamento feito para atender a grande demanda de infra-estrutura gerada pelos novos alunos e cursos. Da forma que foi feito, aumentou-se o número de vagas antes mesmo das obras de infra-estrutura terem sido iniciadas, e, após iniciadas, a lentidão no andamento destas compromete ainda mais o sucesso do programa.
O exemplo cabal desta situação é a central de aulas dos cursos de tecnologia, bloco destinado às aulas das disciplinas básicas dos centros tecnológicos (CEEI, CTRN e CCT), que deveria suprir a demanda de grandes salas de aula que suportam mais de 100 alunos, necessárias para a acomodação do número crescente de ingressantes na universidade.
A construção deste bloco deveria ter sido concluída em outubro de 2009 para que estivesse funcional já no período 2010.1. No entanto, a obra atrasou-se e nenhuma medida eficaz foi tomada por parte da administração da UFCG para combater este atraso, mesmo cientes do fato de que a conclusão desta obra era crucial para o andamento saudável do período letivo seguinte. E mesmo diante desta falha, a administração da universidade não parece tomar uma atitude significativa com relação a este problema, já que pelo andar da obra, ela provavelmente não estará pronta no período 2010.2, agravando ainda mais o problema. Esta obra é apenas um exemplo da falta de compromisso com a implantação do REUNI na UFCG.
O atraso nas obras criou uma situação sem precedentes na universidade: falta massiva de vagas em diversas disciplinas. No curso de engenharia elétrica, isso se traduziu em um período de matrícula mais conturbado que o normal, com o sistema do controle acadêmico, que já era subdimensionado antes mesmo do aumento de vagas, mostrando-se completamente instável com o aumento de acessos devido ao REUNI, tornando o ato de matricular-se um verdadeiro teste de saúde cardíaca.
Como conseqüência direta, este conturbado período de matrículas resultou em um ainda mais conturbado período de rematrículas, com centenas de alunos se aglomerando no bloco do CEEI durante horas com a esperança de conseguir vagas nas disciplinas esgotadas.
A situação é ainda pior em alguns dos novos cursos criados com o REUNI, onde os coordenadores do curso não receberam vagas suficientes para matricular os alunos ingressantes nas disciplinas do primeiro período, criando uma situação bastante delicada: um aluno ingressante que, obviamente, nunca perdeu uma disciplina impossibilitado de se matricular na blocagem do seu curso por falta de vagas.
Muitas dessas vagas que faltam em disciplinas básicas poderiam ser ofertadas pelos diversos departamentos, principalmente os de matemática e física, mas faltam salas de aula na universidade. Inclusive, faltam salas de aulas até mesmo para algumas turmas já criadas.
O problema da escassez de vagas gera uma situação bastante peculiar na UFCG, quando constatam a falta de vagas em seus cursos, os coordenadores contabilizam suas necessidades e barganham suas vagas com coordenadores de outros cursos em uma reunião apelidada de "Feirão de Vagas", onde as vagas que sobram são usadas como moedas de escambo entre os departamentos. Este tipo de evento denuncia a precariedade do sistema de matrícula da nossa instituição.
Além do problema da falta de salas, que supõe-se que será resolvido com a esperada conclusão das obras das centrais de aula, o REUNI reforça problemas previamente existentes e criam novos problemas na instituição. Um dos problemas que já existia e que agora toma proporções ainda maiores é a falta de espaços de vivência para que os alunos descansem e confraternizem durante o período entre as aulas, ambientes presentes em muitas universidades brasileiras, mas escassos na UFCG. E quem tem carro já percebeu, faltam também vagas de estacionamento
O REUNI é uma realidade e não podemos voltar atrás, ele traz consigo grandes vantagens como aumento do orçamento, da oferta de vagas e da diversidade de cursos, mas em compensação exige da instituição um grande esforço de adaptação que até agora a universidade falhou em alcançar, espera-se que a administração da universidade perceba esta falha e tome uma atitude o mais breve possível, antes que a reputação da nossa instituição edificada ao longo de décadas seja manchada por simples falta de planejamento e empenho.
Dinart Duarte Braga