Primeira Guerra Mundial, Albert Einstein e Picasso
A Primeira Guerra Mundial começava ao mesmo tempo em que os sonhos de Einstein de ter sua Teoria da Relatividade Geral confirmada pareciam findar. Naquela época, um eclipse total do Sol era o único evento observável em que suas ideias poderiam ser verificadas, e o eclipse mais propício conhecido seria na Rússia, em 1914. Duas equipes de astrônomos se instalaram em diferentes locais, a fim de ter mais chances de bons resultados. Ambas estavam determinadas, apesar dos rumores de uma guerra mundial, até que em 28 de junho de 1914, o arquiduque da Áustria, Franz Ferdinand, foi assassinado e o rei da Alemanha declarou guerra contra a Rússia. Repentinamente, as expedições astronômicas para observar o eclipse entraram em perigo. Soldados russos apareceram nos locais das observações e perceberam que aqueles grupos eram nada menos que de alemães e os fez prisioneiros de guerra. Contudo, junto com eles estava o renomado astrônomo americano Wallace Campbell, que era neutro e, por isso, os russos permitiram que ele pudesse observar o eclipse.
Ao chegar o dia tão esperado, depois de uma viagem longa, onerosa e de terem sobrevivido ao estopim da guerra, outras personagens indesejáveis aparecem: nuvens. A expedição tornou-se um grande fracasso e Campbell foi obrigado a retornar à América. Pela guerra todo tipo de comunicação entre a sociedade acadêmica tinha acabado e até mesmo muitos dos cientistas próximos de Einstein voltaram seus esforços para os combates. Einstein abria a sua janela em Berlim e achava que aquelas pessoas cheias de patriotismo, que aqueles soldados marchando entusiasmados, haviam simplesmente enlouquecido. Foi um período em que Einstein não somente perdeu as esperanças de ter sua teoria confirmada logo, como também parou de acreditar na cidade em que vivia.
A primeira vitória de Einstein viria apenas em 1922, quatro anos após o fim da guerra, com uma expedição astronômica na Austrália liderada novamente por Campbell, conseguindo resultados perfeitos sobre 92 estrelas, nas quais não somente se observava os efeitos da relatividade geral, mas também, sobretudo, eram exatamente como Einstein havia previsto. Desde então, as teorias de Einstein foram comprovadas diversas vezes e de maneiras distintas, simultaneamente em que seus resultados eram utilizados para construir a sociedade como a conhecemos hoje, das televisões aos lasers, aos satélites e aos programas espaciais.
Sua colaboração foi tão grandiosa, que cem anos depois da publicação da Teoria da Relatividade Geral, ainda estamos rastreando suas conclusões. A mais recente foi a constatação das famigeradas ondas gravitacionais, anunciada em fevereiro deste ano. Um ano em que - oficialmente - não há guerras mundiais, mas crises econômicas assolam a América e a Europa, os norte-americanos estão em plena corrida presidencial, as grandes democracias estão gradualmente mais preocupadas com terrorismo e imigração e, aqui, no Brasil, a saúde pública e a política sofrem problemas sem previsão de solução. Nesse cenário, alguém poderia perguntar o porquê de perder tempo dando atenção às notícias sobre uma agitação minúscula produzida por um evento ocorrido há mais de um bilhão de anos.
A resposta é simples, diz o físico americano Lawrence Krauss. Enquanto esse panorama de crise reflete o que há de pior no que significa ser humano, essa pequena agitação, descoberta em um experimento físico exótico, reflete o que há de melhor. Com empenho comparável aos astrônomos que em plena guerra foram observar eclipses, cientistas de várias nações do planeta se uniram em um experimento que inicialmente parecia impensável e conseguiram superar todas as expectativas para abrir uma forma completamente nova de observar o Cosmos. E se a história é algum guia, cada vez que construímos novos olhos para observar o Universo, nossa forma de entender a nós mesmos e o lugar que ocupamos nele é para sempre alterada. Quando Galileu virou seu telescópio em direção a Júpiter em 1609, ele observou quatro luas orbitando Júpiter e com isso quebrou o conceito milenar de que a Terra era o centro e tudo girava ao redor dela. Quando em 1964 astrônomos dos laboratórios Bell detectaram ondas de rádio emitidas por corpos celestes, eles descobriram que o universo começara em um flamejante Big Bang. Portanto, por mais que muitos ainda questionem a importância de descobertas como essa, que não têm implicações evidentes, elas são necessárias, sobretudo, pela sua contribuição cultural e humana. Poucas pessoas fariam a mesma pergunta com relação a uma pintura de Picasso ou a uma sinfonia de Beethoven. Esses auges da criatividade humana, sejam nas ciências, como nas artes, na música ou na literatura, têm o poder de maravilhar e incitar, deslumbrar e confundir. Mudam nossa perspectiva do Universo e nos levam mais próximo à verdade.
Por isso, convidamos você, caro leitor, nesta 75ª edição do Jornal PET Elétrica, a entender melhor não somente sobre as ondas gravitacionais, mas também sobre a forte união entre a tecnologia e a medicina em artigos sobre nanotecnologia e longevidade, sobre a futura revolução na internet com a rede Li-fi, sobre o incrível mundo dos arduínos e, por fim, abordamos sobre a linguagem em textos científicos, tão importante para o crescimento e propagação do conhecimento.
Emilly Rennale Freitas de Melo
Equipe Editorial do Jornal PET-Elétrica
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