Richard Dawkins, Fótons e Química Orgânica
O Gene Egoísta, livro escrito por Richard Dawkins em 1976, apresenta a Teoria da Evolução de Charles Darwin de forma tão clara que a persuasão se torna uma mera consequência. Logo no primeiro capítulo, Dawkins, como em um livro de ficção científica, afirma que os seres vivos são meros robôs a serviço dos verdadeiros donos do mundo, os genes. Afinal, eles quem são os imortais, passados de geração a geração. São eles quem acompanharam minuciosamente todas as mudanças que constituíram a sociedade de hoje e que buscam assegurar sua continuidade. Em meio à transformação, os genes são constantes.
Nunca antes na História os genes presenciaram tantas modificações concomitantes. Revoluções políticas, sociais e científicas, em poucos séculos, alteraram praticamente tudo aquilo que levara milênios para se estabelecer, não apenas na natureza, mas também nas estruturas humanas: do Absolutismo ao Parlamento; do Império à República; do carvão ao petróleo; da relatividade Geral à Especial; das trincheiras à bomba atômica; do computador ao software. Estamos em uma época em que a palavra “transformação” é somente mais um sinônimo de “possibilidade”.
É como se, aos poucos, o homem explorasse cada uma das possibilidades existentes, por menor sentido que elas façam. Recentemente, uma física brasileira, Gabriela Barreto Lemos, teve seu nome honrado pela comunidade científica internacional por um experimento inédito que realizou em seu laboratório no Instituto de Ótica Quântica da Universidade de Viena. Em um resumo simples, a experiência objetivava demonstrar a propriedade de entrelaçamento de fótons “gêmeos”; de modo que, não obstante separados fisicamente, o que acontecia no trajeto de um deles era reproduzido fielmente pelo seu “irmão”, mesmo este sem ter um obstáculo como o primeiro. Existe uma troca de informação entre os fótons, mas a própria Ciência não explica como isso funciona. Só se sabe ela que acontece.
Não apenas a Física Quântica tem o privilégio de flertar com as fronteiras do conhecimento humano. Outro caso é de como os rumos da Química Orgânica ampliaram-se no momento em que se começou a explorar o seu excasso, mas presente, caráter condutor elétrico, a ponto de hoje ser a garantia de inovação e sustentabilidade da eletrônica em um mundo onde computadores ocupam parte central do modelo de vida padrão. Há três anos, foram estimados cerca de 30-40 processadores por pessoa, na média, com alguns indivíduos cercados por até mais de 1000 em sua rotina diária. Embora a eletrônica do silício tenha sido suficiente para muitos desafios associados ao incremento do uso de eletrônicos, passaram a surgir situações que superaram o esperado para esse elemento inorgânico. Dessa forma, químicos estão sintetizando diversos novos compostos orgânicos que apresentam propriedades impossíveis de serem replicadas com o silício. Esses materiais prometem uma tremenda expansão da nossa paisagem eletrônica, que mudará radicalmente a maneira que a sociedade interage com a tecnologia.
Nesse sentido, sobre a 70ª edição do Jornal PET-Elétrica, pode-se dizer que a capacidade de transformação da Ciência e da tecnologia ficou sob os holofotes. Além de uma abordagem profunda sobre comunicação quântica e os avanços e promessas da eletrônica orgânica, mostrou-se como o progresso também é essencial na medicina e como a Teoria das Cordas tende a ser mais uma componente do espaço amostral das possibilidades a serem desbravadas. Convidamos você, caro leitor, a desbravá-las conosco.
Emilly Rennale F. de Melo
Equipe Editorial do Jornal PET-Elétrica
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