O cenário do mercado de trabalho para engenheiros diante da crise
Como a crise econômica que o Brasil vive, associada à Operação Lava Jato, afeta o mercado de trabalho para engenheiros.
Diante da crise econômica que assola o Brasil, é notória a redução do número de oportunidades de emprego. Um dos setores mais atingidos é o da engenharia. Vista há poucos anos como uma das profissões mais promissoras no nosso país, a engenharia começa a sofrer com perdas de postos de trabalhos.
Alavancada pelo crescimento do PIB, estímulo à produção e ao avanço das obras de infraestrutura no país, a profissão de engenheiro teve uma década de grande prosperidade. Dados de um perfil ocupacional desenvolvido pela Federação Nacional dos Engenheiros (FNE), em parceria com o Dieese, mostra que, de 2003 a 2013, o número de engenheiros empregados formalmente saltou de 146,1 mil para 273,7 mil, o que significa um aumento percentual de 87,4%, acima do crescimento do emprego formal como um todo no período que é de 65,7%.
No entanto, já no ano de 2014, pôde-se verificar um decréscimo no número de empregos. Segundo o Cadastro Geral de Empregados e Desempregados, do Ministério do Trabalho, em 2014 houve uma perda de 3,1 mil postos de trabalho. Isto ocasionou a verificação de um número maior de engenheiros desligados do que admitidos, fato diferente do observado nos anos anteriores, segundo estudo realizado pela FNE. Em 2014, pouco mais de 55 mil engenheiros foram demitidos. Durante o ano de 2015, em Pernambuco, nosso estado vizinho, ocorreram 10,6 mil demissões até o mês de agosto. Na Bahia, outro estado próximo, segundo o presidente do CREA do estado, já pode ser verificada a redução de 20% das atividades na área. No infográfico abaixo do jornal Folha de São Paulo são ilustrados os dados do ano de 2014.
Infográfico do jornal Folha de São Paulo mostrando os número de engenheiros admitidos e desligados no Brasil segundo estudo da Federação Nacional de Engenheiros
O principal setor afetado é o da construção civil. Isto porque além da crise econômica, outro fator preponderante nessa diminuição de postos de trabalho é a Operação Lava Jato. Várias empreiteiras envolvidas no esquema paralisaram obras e, consequentemente, desligaram engenheiros. Um dado que ilustra bem isso é que a Lava Jato e o ajuste fiscal, que ocasionou o atraso do repasse de verba do governo para as empreteiras, fizeram com que 232 construtoras entrassem em recuperação judicial de janeiro a setembro de 2015. A Operação Lava Jato explica um pouco o número significativo de demissões em Pernambuco. Ocorre que grandes obras aconteciam no estado, como a da Refinaria Abreu e Lima que atingiu o número de aproximadamente 12 mil operários, mas em março do ano passado chegou a ficar com apenas cerca de 300.
Além da construção civil, outros setores também são bem prejudicados. O G1 fez um levantamento com 10 empresas relacionadas à gestão de carreiras que informaram cargos que encontram-se em alta e baixa no mercado. A lista gera algumas discordâncias entre as profissões apontadas por cada empresa, mas é unânime que engenheiros que atuam no gerenciamento de novos projetos ou engenheiros de vendas encontram-se em baixa no mercado. Isto se deve ao fato de que a maioria das empresas tem controlado mais os custos do que investido diante do cenário de incertezas que vivenciamos, de forma que novos projetos acabam sendo deixados em espera. Uma área que causa dúvidas é a relacionada à pesquisa e ao desenvolvimento de novos produtos. Para alguns, é vista como uma área promissora devido à importância das empresas produzirem produtos cada vez mais competitivos e tecnológicos. No entanto, outros a vêem como uma área em baixa, pois em tempos de crise as empresas tendem a investir menos em inovações.
Porém, o cenário não é, ao todo, ruim. Ainda segundo o levantamento, também existem cargos relacionados à engenharia que se encontram em alta. Inclusive áreas em que o engenheiro eletricista pode atuar, como funções alusivas ao desenvolvimento de software, já que o e-commerce< ainda é visto como em alta. Diante da crise energética, outras funções que engenheiros eletricistas podem atuar também ganham força: as relacionadas às energias renováveis e de planejamento de recursos energéticos. Com relação às energias renováveis, ainda existem poucos profissionais experientes nesse setor aqui no Brasil. Já o planejamento de recursos enérgeticos é algo que se tornou imprescíndivel diante da crise energética e do grande aumento do valor da energia elétrica, de forma que o profissional dotado de saberes acerca desse campo de conhecimento se torna muito interessante para as empresas. Outros ramos que ganham força são os de engenheiros especializados em segurança do trabalho e meio ambiente. Mais informações acerca desse levantamento podem ser obtidas por meio do seguinte link:http://g1.globo.com/concursos-e-emprego/noticia/2015/07/emprego-na-crise-veja-cargos-e-areas-em-alta-e-baixa.html.
Outro fato, em certo ponto preocupante, é que junto com o crescimento do número de empregos existente na década de 2003 a 2013, houve um aumento do número de vagas, matrículas e concluintes dos cursos de engenharia no Brasil entre 2010 e 2013, ainda segundo o perfil ocupacional da FNE. O crescimento do número de vagas foi de cerca de 85,1%. No infográfico abaixo do jornal Folha de São Paulo é ilustrado o aumento do número de formandos em engenharia. No entanto, como já é de nosso conhecimento, os anos posteriores ao de 2013 apresentaram queda no número de vagas de emprego. O fim dessa combinação é simples de ser previsto: mais engenheiros desempregados ou tendo que migrarem para outros mercados de trabalho.
Infográfico do jornal Folha de São Paulo mostrando número de formandos em cursos de engenharia do Brasil segundo estudo da Federação Nacional de Engenheiros.
Infelizmente, a expectativa para esse ano que se inicia ainda não é das melhores. Já que nossa economia está bastante relacionada à da China, que sofre um processo de desaceleração do seu crescimento, a tendência é que esse retardamento no número de pontos de trabalho continue, segundo Fernando Palmezan, porta-voz da FNE. Porém, Fernando acredita que em 2017 deve ocorrer uma retomada no crescimento do número de vagas no setor, devido ao surgimento de novas obras de infraestrutura.
Por fim, em tempos de crise e de diminuição do número de vagas, o importante é a busca, cada vez maior, por uma diferenciação dentro do mercado de trabalho. Afinal, profissionais realmente competentes e especializados normalmente são absorvidos pelo mercado, visto que ainda há déficit de mão de obra especializada em nosso país.
Arthur Silva Vasconcelos
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