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8ª Edição

Desafio Poesia

 

Desafio

(Presente de natal) Qual é o relacionamento mais próximo que minha filha pode ter com a irmã da mãe do sobrinho da minha irmã?

Você conseguiu solucionar o desafio? Envie sua resposta para nós conferirmos!
O email é jornalpeteletrica@gmail.com

Resposta do Desafio da 7ª Edição:

Um dos acertadores do desafio enviou um resposta bastante elegante, ao ponto de que o mais apropriado é usá-la como gabarito, clique aqui para baixar..

Acertadores: Gustavo Barbosa Galindo, Lucas Simões de Oliveira, Alberto Henrique Dantas, Júlio Diniz, Felipe Gonçalves Assis e Pierre Camilo

Responsável: Nustenil Segundo de Moraes Lima Marinus

 

Poesia

Alberto Caeiro nasceu em 1889,  viveu no campo e perdeu os pais cedo e morreu de tuberculose em 1915, apesar de não ter tido educação alguma era conhecido pela sabedoria, observador inato negava todo tipo de pensamento e preferia sempre as sensações que  o mundo poderia proporcionar, se expressava através de uma linguagem simples e direta.

Álvaro de Campos nasceu em 15 de outubro de 1890, fez engenharia na Escócia. Acreditava no progresso, na evolução, era um típico solitário deprimido de confusas crises de identidade sempre angustidado frente às questões existencialistas , um niilista notável, aproveitou a vida em cada um de seus instantes. Na escrita era, em termos, passional, versos sem rima, simetria ou sequer pontuação.  

Ricardo Reis nasceu em 1887 em Portugal, era médico e residia no Brasil desde. Racionalista em todos os aspectos, apresenta controle emocional todo o tempo, analisa a vida do ponto de vista do carpe-diem. É tipicamente neo-classissista, pagão com linguagem comedida e disciplinada, métrica impecável, versos puros e excessivamente formal.
À primeira vista, são autores completamente distintos, com estilos diferentes, linguagem e ideologia diferentes. É este o fenômeno da heteronímia, nenhum destes autores existiu na realidade, a não ser, obviamente, na imaginação de Fernando Antônio Nogueira.

Além de ser cada um dos heterônimos já descritos, Pessoa mantinha um estilo pessoal: cético, solitário, angustiado e incoformado na posição atual.

“...E contudo - penso-o com tristeza - pus no Caeiro todo o meu poder de despersonalização dramática, pus em Ricardo Reis toda a minha disciplina mental, vestida da música que lhe é própria, pus em Álvaro de Campos toda a emoção que não dou nem a mim nem à vida. Pensar, meu querido Casais Monteiro, que todos estes têm que ser, na prática da publicação preteridos pelo Fernando Pessoa, impuro e simples!”

Carta a Adolfo Casais Monteiro

Não sei quantas almas tenho

Não sei quantas almas tenho.
Cada momento mudei.
Continuamente me estranho.
Nunca me vi nem acabei.
De tanto ser, só tenho alma.
Quem tem  alma não tem calma.
Quem vê é só o que vê,
Quem sente não é quem é,

Atento ao que sou e vejo,
Torno-me eles e não eu.
Cada meu sonho ou desejo
É do que nasce e não meu.
Sou minha própria paisagem;
Assisto à minha passagem,
Diverso, móbil e só,
Não sei sentir-me onde estou.

Por isso, alheio, vou lendo
Como páginas, meu ser.
O que segue não prevendo,
O que passou a esquecer.
Noto à margem do que li
O que julguei que senti.
Releio e digo :  "Fui  eu ?"
Deus sabe, porque o escreveu.

Fernando Pessoa

 

Tabacaria

Não sou nada.
Nunca serei nada.
Não posso querer ser nada.
À parte isso, tenho em mim todos os sonhos do mundo.

[...]

Estou hoje vencido, como se soubesse a verdade.
Estou hoje lúcido, como se estivesse para morrer,

[...]

Estou hoje perplexo, como quem pensou e achou e esqueceu.
Estou hoje dividido entre a lealdade que devo

[...]

Tenho sonhado mais que o que Napoleão fez.
Tenho apertado ao peito hipotético mais humanidades do que Cristo,
Tenho feito filosofias em segredo que nenhum Kant escreveu.
Mas sou, e talvez serei sempre, o da mansarda,

Ainda que não more nela;
Serei sempre o que não nasceu para isso;
Serei sempre só o que tinha qualidades;

[...] e o universo

Reconstruiu-se-me sem ideal nem esperança, e o Dono da Tabacaria sorriu.

Álvaro de Campos

Segue o teu destino,
Rega as tuas plantas,
Ama as tuas rosas.
O resto é a sombra
De árvores alheias.

A realidade
Sempre é mais ou menos
Do que nós queremos.
Só nós somos sempre
Iguais a nós-próprios.

Suave é viver só.
Grande e nobre é sempre
Viver simplesmente.
Deixa a dor nas aras
Como ex-voto aos deuses.

Vê de longe a vida.
Nunca a interrogues.
Ela nada pode
Dizer-te. A resposta
Está além dos deuses.

Mas serenamente
Imita o Olimpo
No teu coração.
Os deuses são deuses
Porque não se pensam.

Ricardo Reis, 1-7-1916

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