Dicas de Livros
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Kalevala
Nasce-me na mente a ideia,
Surge em mim este desejo.
De começar a cantar,
De iniciar a declamar
Uns versos do nosso povo,
Uns cantos da nossa gente.
Agarremos mãos nas mãos,
Dedos nas covas dos dedos
Para que bem recordemos
E melhor inda cantemos;
– Elias Lönnrot
J. R. R. Tolkien uma vez afirmou: “Não despreze a tradição que vem de anos longínquos; talvez as velhas avós guardem na memória relatos sobre coisas que alguma vez foram úteis para o conhecimento dos sábios.” No mesmo espírito de resgate surgiu o poema épico finlandês Kalevala, escrito por Elias Lönnrot em 1849, uma epopeia de 50 canções populares, ou baladas, dos povos fineses (Ancestrais dos povos da Finlândia).
Na época de publicação do Kalevala o país era um Grão-Ducado do império czarista Russo, tendo pertencido à Suécia por três séculos antes. O finlandês, até o momento, tinha caráter apenas oral, poucos textos tinham sido publicados nesse idioma, sendo apenas os principais textos religiosos e leis. Apesar de gozar de uma certa autonomia política, a ideia de nação continuava distante. O estudo da poesia popular foi o ponto de virada na situação, a redescoberta dos ícones e heróis nacionais, principalmente o mago Väinämöinen (um herói que cantava e tocava o “kantele”, a cítara finlandesa), foi o marco para o renascimento da identidade nacional. Fruto do movimento romântico, em ascensão principalmente pelos nacionalistas italianos e alemães, o Kalevala foi a primeira referência para que a população descobrisse a língua e cultura próprias da Finlândia.
O texto épico do Kalevala narra a origem do mundo segundo a mitologia dos povos fineses. De acordo com as lendas, Ilmatar (a deusa do Ar) desce à água e torna-se Mãe das águas. Uma ave põe ovos no seu joelho e que se partem, dando origem ao mundo. Ilmatar então dá à luz ao mago Väinämöinen. Um carvalho cresce tanto que esconde o Sol e a Lua. Do mar emerge um pequeno homem que derruba o carvalho e os astros podem brilhar novamente. O poema segue com a narrativa das aventuras do mago nas terras de Pohjola (Terra do Norte) a fim de desposar-se da donzela filha da anciã Louhi.
Após os cinco primeiros cantos, o conto introduz outros dois heróis que também cortejam a filha de Louhi: Ilmarinen, o ferreiro e Lemminkäinen, uma espécie de Dom Juan finlandês. Aos três personagens, foram dadas três tarefas sobrenaturais. Ilmarinen consegue forjar um Sampo (objeto mágico que traz prosperidade) e garante o direito de desposar a donzela de Pohjola. A sequência dos eventos narra as aventuras que aconteceram na Terra do Norte, as batalhas que as seguem e a delicada relação entre a Kalevala, a terra dos heróis, e Pohjola.
As poesias escritas no livro são uma coleção de canções populares tradicionais do povo finlandês. Lönnrot, durante sua juventude, reuniu os contos e os organizou de modo cronológico, inspirado, principalmente, na Ilíada de Homero, que também teve sua origem em canções populares gregas. No geral, a estrutura estética do poema segue o verso chamado de ‘Kalevala”, caracterizado por não apresentar separação de estrofes nem rima. Os versos são octossílabos e compostos de uma sequência de sílabas longas e sílabas curtas alternadas, começando cada verso por uma sílaba longa e acabando numa sílaba curta. Esse tipo de escrita é ideal para ser declamado acompanhado pelo kantele, instrumento musical típico da Finlândia.
Os relatos tradicionais encontrados no Kalevala são um retrato de um povo e sua identidade. A influência do épico se estende além do seu tempo, escritores como J.R.R. Tolkien, G. K. Chesterton, ou músicos como Jean Sibelius sofreram forte influência dos mitos e narrativas presentes no poema. Mas muito maior que o impacto literário, a maior contribuição de Lönnrot foi dar a seu povo a sensação de pertencimento e o orgulho do “ser finlandês”.
Ficha Técnica
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Autor: |
Elias Lönnrot |
Editora: |
Leya |
Edição: |
1ª Edição em português |
Páginas: |
608 |
Gênero: |
Mitologia |
País de Origem: |
Finlândia |
José Iuri Barbosa de Brito
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Deuses Americanos
Reconhecido como um dos maiores escritores da atualidade, Neil Richard MacKinnon Gaiman, ou simplesmente Neil Gaiman, é um jornalista britânico residente nos Estados Unidos e possui mais de 20 livros escritos com títulos voltados para todas as faixas etárias. Vencedor de diversos e importantes prêmios literários, como o Hugo e o Nebula, Neil é conhecido por escrever desde grandes romances, como Deuses Americanos, até famosas HQs, como a aclamada obra Sandman.
“Deuses são reais se acredita neles”. Todas as religiões, incluindo as já ultrapassadas (tratadas atualmente como mitologias), se sustentam com a fidelidade de seus seguidores. Partindo dessa premissa, na realidade criada por Gaiman, os deuses de todas essas religiões realmente existem e continuam vivendo enquanto alguém ainda acredita neles.
Com a grande migração para os Estados Unidos desde sua colonização (e até mesmo em visitas de algumas civilizações ao território americano antes disso) as pessoas levaram consigo suas tradições e, também, seus deuses. Divindades das mais diversas mitologias passam a viver no Novo Mundo juntamente com seus fiéis. O mais interessante da obra é a maneira que Gaiman segue uma linha fiel às tradições de cada deidade mitológica, que são humanizadas e seus sentimentos e comportamento são extremamente bem construídos em um padrão real humano, a ponto dos deuses se misturarem entre as pessoas comuns, assumindo empregos, residências e tarefas cotidianas.
Porém, com o passar do tempo, a humanidade começou a idolatrar outras coisas que não são deuses. A tecnologia, a mídia e o comércio, por exemplo, são adorados compulsivamente pela maior parte das pessoas atualmente. Essa idolatria faz com que novos deuses surjam, ideia que se destaca na obra por tratar de um conceito diferente de divindade.
A maioria dos Velhos Deuses, atualmente, possui muito menos poder do que no auge de suas religiões. Os novos, no entanto, construídos a partir das obsessões dos americanos, estão em seu ápice.
A história segue a vida de Shadow, um ex-presidiário recém libertado, que é contratado para prestar serviços a um misterioso homem conhecido como Mr. Wednesday que, posteriormente, se mostra ser um deus. Shadow e Wednesday viajam pelos Estados Unidos encontrando antigas divindades das mais variadas mitologias, como egípcia, eslava e irlandesa, com o intuito de recrutá-los para lutar contra os Novos Deuses e tentar se reerguer ao auge.
Muito mais do que uma simples coletânea de divindades, Deuses Americanos traz consigo diversos questionamentos e importantes indagações. Questões como a importância das tradições e cultura de um povo para a formação de uma identidade nacional, são tratadas de forma admirável nesse romance extremamente bem escrito e cativante.
Ficha Técnica
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Autor: |
Neil Gaiman |
Editora: |
Intrínseca |
Edição: |
Primeira |
Páginas: |
574 |
Gênero: |
Ficção |
País de Origem: |
Estados Unidos |
Pedro Henrique O. T. Ximenes
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Dicas de Filmes
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Kubo e as Cordas Mágicas
“Se você deve piscar, faça agora”. A frase que deveria ser dita no começo de toda grande história é dada, aqui, como um sábio aviso. A animação dos estúdios Laika – empresa japonesa – certamente impressiona pelo roteiro inteligente, pela fotografia e ambientação estonteantes e, acima de tudo, por personagens envolventes que vão lhe fazer sorrir e sofrer junto deles.
Kubo é um jovem contador de histórias que sustenta sua mãe bastante fragilizada no contexto do Japão feudal. Ela gastou o resto da sua magia para salvá-lo das suas tias e do seu avô, que o caçam em busca do seu único olho. Em alguns momentos de lucidez, a mãe murmura frases de cuidado para que seu filho não fique fora de casa após o anoitecer e, em outras ocasiões, fala das aventuras épicas que seu falecido pai viveu.
Também munido de magias especiais, Kubo encanta a todos em sua vila com suas habilidades com o origami e com a espada. Mas, após desobedecer os avisos de sua mãe, é inserido numa jornada para resgatar uma armadura mágica e derrotar um espírito vingativo do seu passado. O menino é acompanhado por uma macaca permanentemente séria e exasperada (dublada perfeitamente na voz de Charlize Teron) e por um besouro que sofre de amnésia (interpretado pelo também talentoso Matthew McConaughey). São personagens incríveis que representam um alívio cômico cuidadosamente planejado.
Em meio a tantas animações mecanizadas, Kubo e as cordas mágicas é uma verdadeira demonstração de criatividade e de beleza. Passa lições pungentes sobre a memória daqueles que já se foram em um cenário em que a magia, a delicadeza e os temas mais sombrios e macabros se encontram em uma linguagem indiscutivelmente equilibrada. E o melhor, faz tudo isso sem recorrer a técnicas de manipulação emocional e a recompensas imediatas – é um filme que não duvida da capacidade do seu público de perceber todas as nuances da história, explorando ao máximo o potencial de uma obra de arte.
Ficha Técnica
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Diretor: |
Travis Knight |
Lançamento: |
2016 |
Duração: |
101 minutos |
Classificação: |
Livre |
Gênero: |
Animação, aventura, família |
País de Origem: |
Estados Unidos |
André Igor Nóbrega da Silva
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No Limite do Amanhã
Em “No Limite do Amanhã”, filme de ação e ficção científica, a Terra é tomada por uma espécie de alienígena chamada de “mimetizadores”, que são controlados por um ser superior, o Ômega. Durante cinco anos a humanidade esteve em guerra contra os extraterrestres, que já tomavam quase toda a Europa. A principal arma contra esses seres são os exoesqueletos chamados Jackets e o maior símbolo dessas batalhas é a soldada Rita Vrataski (interpretada por Emily Blunt).
Um grande ataque estava sendo planejado e o major William Cage (interpretado por Tom Cruise) foi mandado para a linha de frente do confronto. O maior problema é que ele era apenas membro da reserva do exército dos EUA, nunca teve sequer um treinamento militar. Ao tentar chantagear o general das forças de defesas, ele é detido e rebaixado a recruta.
Logo no início do confronto, o agora recruta Cage morre ao tentar matar um dos extraterrestres, mas acontece algo estranho, pois segundos depois ele acorda no dia anterior ao ataque, lembrando de tudo o que aconteceu antes de morrer. Ele morre e retoma inúmeras vezes, até que ele consegue salvar a vida de Rita, que o manda procurá-la assim que acordasse. Rita acreditava no que Cage estava falando, pois já tinha passado pela mesma situação. Agora, os dois juntos traçam planos para tentar matar os alienígenas.
Ficha Técnica
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Diretor: |
Doug Liman |
Lançamento: |
06 de junho de 2014 |
Duração: |
1h53min |
Classificação: |
14 anos |
Gênero: |
Ação e Ficção Científica |
País de Origem: |
EUA |
Lucas Danrley Cajé de Souza
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Dica de Música
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The 2¢ Show
O movimento Steampunk nasceu na literatura, e rapidamente se tornou popular entre os anos 80 e 90. Ele trata de maneira simples como seria o mundo se os grandes avanços tecnológicos do momento (e até tecnologias que ainda não existem realmente) tivessem ocorrido na época em que as principais máquinas eram movidas a vapor.
Dentre os bons representantes desse movimento na música, está a banda Steam Powered Giraffe, que foi fundada em 2008 pelos irmãos gêmeos idênticos David e Isabella Bennett juntamente com Jonathan Sprague após se conhecerem na escola de artes teatrais de Grossmont College.
Cada um de seus integrantes interpreta um robô movido a vapor com história e origem particulares, nomeadamente: Rabbit (também chamada de Bunny), interpretada por Isabella; Spine, interpretado por David e Jon, interpretado por Jonathan. Apesar das diferenças entre suas estruturas e personalidades, os três foram desenvolvidos para combate, e após diversas missões bem-sucedidas, eles se tornaram inoperantes e foram modificados para cumprirem funções de entretenimento, surgindo assim a banda Steam Powered Giraffe, nomeada em homenagem à girafa que era o meio de transporte deles.
As origens da banda, assim como outras histórias e crônicas sobre heróis e contos de amor, são sempre fielmente retratadas nas músicas do grupo, que são bastante líricas e chegam a tornar os instrumentos aparentemente dispensáveis. Estes são um detalhe a mais na qualidade das composições, pois elas são majoritariamente formadas por instrumentos clássicos mesclados com sintetizadores de voz, o que reforça a influência Steampunk presente.
Dentre as músicas (ou contos) do álbum “The 2¢ Show”, algumas se destacaram mais, como “Rex Marksley”. Ela conta a história de um herói que foi considerado o melhor atirador de sua época, com habilidades tão singulares que o renderam a lenda de ter conseguido desarmar 40 bandidos gastando apenas dois tiros e de ter derrotado diversos vilões fantásticos sempre montado em seu fiel cavalo movido a vapor, como o gigante Rei Cascavel.
Não há apenas composições que contam histórias felizes, um bom exemplo é “Airheart”, que desenvolve a trama de uma jovem robô filha de um piloto e seu avião. Ela se apaixonou e teve um relacionamento com o piloto Jimmy Wright, que tragicamente desapareceu em seu avião e foi considerado morto após apenas ter os seus óculos encontrados. Mesmo com o passar dos anos, ela ainda conseguia ouvir o seu amado em suas viagens, até que, após uma colisão contra uma montanha, Airheat teve o seu destino fundido com o de Jimmy, pois novamente nenhum corpo foi encontrado dentre os destroços, apenas os velhos óculos de Wright.
Mesmo com o excelente nível das produções, uma delas é facilmente considerada a “cereja do bolo” do álbum, e esta é “Honeybee”, uma composição capaz de levantar diversos sentimentos em seus ouvintes. Ela conta a triste história de um robô que acabou de sofrer uma desilusão amorosa com uma robô abelha humanoide. Ainda perdidamente apaixonado ele lamenta o dia em que se olharam e se tocaram pela primeira vez, pois esse momento o persegue em todos os seus sonhos e pensamentos. Ele implora pela liberdade, pois sabe que esperou por ela durante toda sua vida e agora está com medo de ter que viver o resto dela sozinho. Por fim, ao perceber que sua tristeza o está enlouquecendo, ele aceita que, mesmo sem entender, é o momento de deixá-la ir embora.
O álbum é uma obra fora dos padrões musicais mais difundidos, porém ele, assim como as outras produções da banda, vale a oportunidade de ser escutado e apreciado. Nos últimos anos o grupo sofreu algumas pequenas mudanças em sua formação e algumas músicas receberam versões com as novas vozes, o que permite uma renovação nos sentimentos gerados pelas produções, visto que elas eram as grandes responsáveis pelo envolvimento do ouvinte com a história.
Giuseppe Di Giuseppe Deininger
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Dica de Série
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Supernatural
Criada por Eric Kripke e produzida pela Warner Bros, Supernatural (ou Sobrenatural, no Brasil) é uma série norte-americana de suspense, terror, ação, comédia e mistério, que já completou doze temporadas e tem a 13ª confirmada. A trama tem dois grandes protagonistas, os irmãos Dean (Jensen Ackles) e Sam Winchester (Jared Padalecki).
A história começou quando Dean e Sam perderam sua mãe em um trágico e misterioso acidente, no qual forças malignas estavam envolvidas. Por esta razão, seu pai decidiu ensiná-los a lidar com a vida sobrenatural, mostrando-lhes como matar cada criatura que não fosse humana. Porém, a história vai muito além disso, quando começam a aparecer o Apocalipse, anjos, demônios, cavaleiros do inferno e até Deus.
Supernatural é uma série para qualquer tipo de pessoa. Se você aprecia comédia, verá que Dean é o melhor em fazer rir. Se você gosta de terror, encontrará as criaturas que sempre imaginou e até as que não fazia ideia que existem no mundo da ficção. Mas a melhor parte é o drama da série, o quanto Dean e Sam cuidam um do outro; se um deles morre, o irmão faz um pacto com o diabo, busca o céu e o inferno para trazer o outro de volta, como Dean sempre diz: “Salvar pessoas, caçar coisas, o negócio da família”.
Ao longo das temporadas, Sam e Dean fizeram grandes amigos, como Booby Singer (Jim Beaver), que é como um pai para os irmãos Winchester. Surge também Crowly (Mark Sheppard), o rei do inferno e o anjo Castiel (Misha Collins).
Outro ponto muito interessante é que a série se baseia em inúmeras lendas urbanas, de várias regiões do mundo, como também faz referências ao judaísmo e cristianismo quando retrata a história de Lúcifer, leviatãs, anjos, demônios e rituais de exorcismo. Uma série realmente para se apaixonar, que quando o telespectador começa a assistir, não quer mais parar, pois, a cada temporada, sempre há uma grande novidade.
Ficha Técnica
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Criador: |
Eric Kripke |
Lançamento: |
2005 |
Temporada corrente: |
12ª |
Gênero: |
Terror, fantasia, ação, mistério, drama e comédia |
País de Origem: |
Estados Unidos |
José Wemerson Farias Lima
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