Dicas de Livro
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O amante de lady Chatterley
A humanidade presenciou grandes períodos de dificuldade e de pura destruição. Apesar dos imensos infortúnios causados pelas barbáries, há um vasto acervo literário, fruto de
mentes influênciadas por esses tempos, de autores indignados com sua condição. Num período de transição pós Primeira Guerra, surgiu um livro, escrito pelo britânico David Herbert Lawrence, “O amante de lady Chatterley”: um hino ao amor sensitivo, num cenário maculado pela guerra.
A trama apresenta Constance, uma jovem cheia de experiências, conhecedora de diversos
prazeres, que, após se casar com Clifford Chatterlley, perde toda a sua liberdade de
espírito, passando a viver uma vida exaustiva e frágil. No início do relacionamento, os dois
desempenharam o matrimônio como tal, porém, com a guerra, Clifford vai às trincheiras e
volta paralítico. Constance é obrigada a habitar numa imensa propriedade, sem desfrutar das
suas dádivas; o sexo foi substituído pela “vida do intelecto” na qual apenas a ligação espiritual do casal era consolidada. Além das constantes reflexões da Lady, há ainda os relatos sobre a
época, a região e a gente hipócrita que infestava os grandes salões. É com Oliver Mellors, o
guarda-caça da região, com quem Constance passa ativar sua sensibilidade; é no contato extra
conjugal com ele que ela foge da condenação frígida a qual estava submetida.
O livro teve sua primeira publicação em 1928, mas foi proíbido na Inglaterra e EUA por causa
da suposta obscenidade incrustada nas páginas; só em 1960 é que as editoras conseguiram
os direitos de publicação oficial. Hoje, lê-lo é viajar por uma Inglaterra marcada pela guerra, diferenças sociais e intelectuais, e infiltrar-se na mente de gente daquela época rende excelentes minutos de aprendizado e excitação; as cenas outrora abafadas são de uma
delicadeza, de uma descrição literária radiante que agora não chocam tanto. Toda a hipocrisia
da sociedade e descrições profundas das condições humanas que infestavam o início do
século passado são escancaradas nas páginas. A intimidade criada ao longo da trama com
os protagonistas faz o leitor ponderar sobre temas polêmicos e oscilar a respeito do certo e
errado. Deleite-se nos braços de lady Chatterley e ganhe seus prazeres.
Filippe José Tertuliano
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Os sonhos não envelhecem
O mineiro Márcio Borges, irmão do cantor e compositor Lô Borges, é o autor
de “Os sonhos não envelhecem: histórias do Clube da Esquina” (Geração Editorial, 376
páginas), um romance quase-memória, quase-história, cujo personagem principal é o
cantor e compositor MIlton NAScimento (Bituca).
A capa do livro é uma obra de arte. O equilíbrio estético é perfeito. Na parte
frontal estão representados os principais elementos que norteiam o texto e o subtexto.
As cores amareladas que emanam das luzes sobre as paredes laterais da sala de
espetáculo remetem ao ouro. No primeiro plano, no espaço central entre as cadeiras, os
trilhos se projetam sobre dormentes em direção ao palco, como um caminho de ferro,
coberto por uma camada fina de carvão e ferrugem, tendo como ponto de fuga o centro
do palco. Sobre a cortina fechada, em letras brancas, o título do livro. No meio dos
trilhos, também em letras brancas, o nome do autor e o nome da editora.
O livro está dividido em três capítulos: Pré-História, História e Outra História. O
recorte temporal coberto pela narrativa vai de 1963 a 1993.
A Pré-História, título do capítulo 1, tem início no edifício Levy, localizado no
centro da cidade de Belo Horizonte, onde moravam à época pessoas que mais cedo ou
mais tarde viriam a se destacar na cena cultural brasileira. Essas pessoas eram jovens
que gostavam de música, cinema, política, literatura, bebidas, brigas e namoros. Ali
começam as histórias do Clube da Esquina.
A História, relatada no capitulo 2, começa com Travessia (música de Milton
Nascimento e letra de Fernando Brant) e prossegue com citações de parcerias e
intérpretes, depoimentos emocionados sobre o conturbado contexto político brasileiro,
marcado pela repressão, luta pela sobrevivência e problemas causados pelas drogas.
O capítulo 3 inicia-se com “Milagres dos Peixes” e termina com reminiscências
do Edifico Levy, fechando um ciclo, que se abre para quem ler o livro. Pois, ao lê-lo,
ficará sabendo que, enquanto houver memória, os sonhos não envelhecem.
Prof. Benedito Antonio Lucian
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Dicas de Filme
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O Impossível
Um filme baseado em fatos reais traz, naturalmente, um sentimento mais intenso a quem assiste, principalmente quando se trata de um drama. O filme “O impossível” retrata a história de um casal e seus três filhos, que estavam curtindo as férias na Tailândia no final do ano de 2004.
Maria (Naomi Watts) e Henry (Ewan McGregor) estavam aproveitando alguns dias de lazer após o Natal com os filhos quando o hotel em que estavam foi atingido por um dos maiores desastres
naturais que aconteceram até hoje. A narrativa mostra como a família ficou dividida sem saber se os demais estavam vivos e o que fariam para sobreviver àquela situação.
Juan Antonio Bayona e Sergio G. Sánchez (diretor e roteirista) comandam o filme
deixando personagens e espectadores divididos entre razão e emoção. Cenas fortes com ferimentos e o sofrimento vivido pelos personagens deixam o público chocado com o aconteceu no triste dia 26 de dezembro de 2004. “O impossível” emociona e faz o público refletir.
Natália Medeiros
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Os homens que não amavam as mulheres
“Estupro, tortura, fogo, animais, religião. Esqueci de algo?”
Os homens que não amavam as mulheres é um filme sueco de 2009, que ganhou sua versão americana dois anos depois. A história gira em torno do jornalista Mikael Blomkvist
(Daniel Craig), que, após publicar uma história sem ter provas concretas, acaba afastado da revista Millennium. Ele é então contratado para encontrar o assassino
de Harriet Vanger, uma jovem desaparecida em uma ilha há 36 anos. A única pista são as flores que o avô da garota recebe todos os anos em seu aniversário, presentes
que ele costumava receber da neta e que agora acredita virem do assassino dela.
Nesta investigação, ele contará com a ajuda de Lisbeth Salander (Rooney Mara), uma hacker
de inteligência extraordinária, mas que vive sob a tutela da justiça desde que ateou fogo no
próprio padrasto. Juntos, eles irão vasculhar todos os segredos da família Vanger, percorrendo uma trilha de assassinatos até chegarem à verdade sobre o desaparecimento da jovem Harriet.
Com o tema central voltado para a misoginia, o filme utiliza de uma narrativa ágil e repleta de reviravoltas que fazem o expectador não se cansar durante as 2 horas e 38 minutos do longa. As cenas de sexo e violência, entre elas uma de estupro, justificam a classificação indicativa ser para maiores de 16 anos. Outro ponto forte do filme é a fotografia perfeita, com ambientes contextualizados em um frio extremo. Dentre os personagens, Lisbeth chama atenção devido à sua personalidade, suas motivações a ações ao longo da trama.
Thyago Sá
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