Dicas
Dicas de Livro
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A metamorfose
“Ao despertar pela manhã, após ter tido sonhos agitados, Gregor Samsa encontrou-se em sua própria cama transformado num inseto gigantesco.”, assim começa A Metamorfose, texto de Franz Kafka escrito em 1912.
A descrição fria e minuciosamente cruel desse estranho fenômeno incita no leitor questionamentos básicos de “como?” e “por quê?”. Contudo, a explicação racional da metamorfose não é foco da narrativa. O estado físico acena disposições psicológicas e cria um ambiente de teste para relações humanas de amor e ódio permeadas de compaixão e repulsa.
Até que ponto o jovem Gregor, capaz de abdicar de si próprio para dedicar-se aos familiares, é verdadeiramente amado? Tal sentimento se encontra intrinsecamente relacionado à sua utilidade para a família?
Evidentemente permeada de desesperança e pessimismo, a história desenvolvida no cenário que antecede a Primeira Guerra (na chamada crise da “Bélle Époque”) aparenta estar distante de nosso tempo. No entanto, basta observar o individualismo e a solidão do mundo contemporâneo para enxergá-la atual. Uma leitura intrigante e envolvente recomendada àqueles que apreciam doses de realidade disfarçada e atemporal.
Paola Pimentel Furlanetto
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Tempo de delicadeza
Artista e intelectual, Afonso Romano de Sant’Anna é um dos grandes escritores brasileiros ainda vivos. Legítimo representante de nossa literatura contemporânea, numa de suas vertentes de trabalho, apresenta-se como maravilhoso cronista.
“Tempo de delicadeza” é uma compilação de 47 crônicas publicadas pelo autor nos últimos anos em variados órgãos de imprensa. Abordando a grandeza dos fatos corriqueiros com uma linguagem sutil e, em verdade, delicadamente ácida, é uma obra para ser lida e relida aos poucos – garantindo que as palavras sejam devidamente saboreadas e repensadas. Uma leitura de bolso para remarcar o que costumeiramente foge de nossas cabeças.
“Sei que alguém pode resmungar ‘mas que coisa mais piegas! ’. Talvez seja. Mas também é verdade que a aspereza de nossas vidas fez com que embotássemos os sentidos, que tivéssemos vergonha dos nossos sentimentos e emoções. E, no entanto, oferecer uma rosa seria tão simples. Tão simples e urgentemente necessário.” (Trecho da crônica “O homem das rosas”)
Paola Pimentel Furlanetto
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Um Copo de Cólera
Ele foi escrito por Raduan Nassar (mesmo autor de Lavoura Arcaica) e publicado em 1970. É um livro muito curto, de linguagem tão simplória que beira a vulgaridade.
A história narra dois dias na vida de um casal anônimo. O primeiro dia começa já na chegada do marido em casa (ao voltar do trabalho) e demonstra o cotidiano, a vida habitual dos dois que propositadamente é narrada já no início da noite.
O segundo dia começa normalmente, os dois acordando juntos, tomando o banho e o café da manhã, até que por um motivo banal ele demonstra um acesso de raiva que culmina em uma briga de casal.
“a imaginação é muito rápida ou o tempo dela é diferente, pois trabalha e embaralha simultaneamente coisas díspares e insuspeitadas” esse trecho descreve todo o resto do livro pois a narração é sempre do ponto de vista de um dos dois, que não só descrevem os fatos mas confundem o leitor com suas impressões e pensamentos , que por vezes torna a história intrigante e a discussão cada vez mais enérgica.
O conflito entre eles toma proporções cada vez maiores ao passar das páginas e os personagens crescem em meio a situação e de certa forma a paixão entre eles é evidenciada (sem sofrer danos, apenas vista de um novo anglo). Eles se insultam e se ofendem a todo momento, mas parece que não há diferença entre isso e vida de casal habitual deles.
O primeiro e o ultimo capítulo intitulam-se “A chegada”, e a única diferença entre eles é que no ultimo ela chega em casa.
Ilis Nunes Almeida Cordeiro
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Dicas de Filme
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O último rei da Escócia
Entre 1971 e 1979 a África foi marcada por uma das ditaduras mais sanguinárias da história. Idi Amin tomou o poder em Uganda através de um golpe de estado quando ainda era Comandante - chefe das forças armadas. Durante o seu regime ele expulsou asiáticos e imigrantes britânicos (segundo ele, executando ordens divinas), violou os direitos humanos fundamentais, assassinou cerca de 300 mil pessoas e havia ainda boatos de que ele praticava canibalismo e que teria desmembrado uma das esposas, em dos seus episódios excêntricos ele chegou a declarar-se “Rei da Escócia”. De onde surgiu o título do filme de Kevin Macdonald: O ultimo rei da escócia.
O filme tem um roteiro muitíssimo bem elaborado e criativo, tornando a historia intrigante, as atuações são excelentes assim como a trilha sonora, a produção e o cenário.
A história é vista a partir de um médico recém – formado escocês, Nicholas Garrigan, que chega em Uganda completamente desavisado da realidade do país e que por uma fatal coincidência tem contato com o ditador ao chegar na cena de um acidente que o envolvia. Impressionado com o jovem Nicholas, Amin o chama para ser seu médico particular, a partir daí Garrigan entra nos círculos de poder de Uganda e passa a ter noção do perigo que o cerca. O que torna sua fuga de Uganda um episódio fantástico que prende, de fato, a atenção de qualquer pessoa.
É importante ainda fazer um último comentário. Foi, sem dúvida, importante trazer para as pessoas desinformadas o horror que foi a ditadura de Amin em Uganda, mas isso ficou como mero plano de fundo e como respaldo para o personagem lunático de Forest Whitaker. É óbvia a conscientização de Nicholas e suas tentativas de livrar o povo de Uganda do horror imposto por Amin, mas no fim tem-se como centro do enredo não o contexto sócio – político e sim um romance proibido entre a esposa de Amin e Nicholas.
Ilis Nunes Almeida Cordeiro
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O Leitor
O filme "O Leitor" é um drama cujo enredo desenrola-se desde o ano de 1958 até meados da década de 90. No ano de 1958, em Neustadt na, então, Alemanha Ocidental, o jovem adolescente Micheal Berg (David Kross) conhece por acaso Hanna Schmitz (Kate Winslet), uma mulher solitária que trabalha como cobradora numa empresa de transporte coletivo ferroviário. Os dois têm um caso amoroso. Quando estão juntos Hanna pede a Micheal que leia em voz alta para ela os livros de literatura que este sempre carrega consigo. No entanto, enquanto o jovem é apaixonado por Hanna, cujo passado ele ignora completamente, esta dá a entender ser aquela apenas uma relação passageira. Certo dia, Micheal vai ao apartamento de Hanna, mas já não a encontra mais.
Anos depois, em 1966, Micheal estuda na Escola de Direito de Heidelberg. Ao ir assistir um julgamento de algumas mulheres acusadas de trabalharem nos campos de concentração nazistas, Micheal surpreende-se ao ver Hanna no banco dos réus. No desenrolar do julgamento, Micheal percebe que sabe de um segredo de Hanna que pode ser decisivo para a sua sentença. Seu amor adolescente por Hanna e este segredo vão marcar o decorrer da vida dos dois personagens profundamente.
O Leitor concorreu ao Oscar 2009 nas categorias: melhor filme, melhor diretor, melhor atriz (Kate Winslet), melhor fotografia e melhor roteiro adaptado. O Leitor foi premiado na categoria de melhor atriz, dando a Kate Winslet sua primeira estatueta na sua sexta indicação ao prêmio.
Edson Porto
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Dicas sobre a Língua Portuguesa
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Figuras de Linguagem
Nesta edição finalizaremos o tema figuras de linguagem, abordado nas duas edições anteriores, falando sobre as “figuras de palavras” anacoluto, silepse e hipérbato e sobre as figuras de pensamento ironia, prosopopéia e antítese.
- Anacoluto: é definido como uma falta de coesão sintática entre o princípio e o fim da frase. Ocorre comumente quando o sujeito fica sem predicado ou quando se usa um verbo no infinitivo que se repetirá no meio da frase.
Ex.: Eu parece que estou ficando gripado.
Caminhar, faz muito bem a saúde caminhar.
- Silepse: qualquer concordância com idéia subjacente, e não com o vocábulo escrito. Existem três tipos de silepse: de gênero, de número e de pessoa.
Ex.: São Paulo está muito poluída. (São Paulo = cidade de São Paulo, silepse de gênero)
A maioria dos países sofrem com a crise. (neste caso o verbo deveria concordar com a maioria, mas concorda com seu complemento: silepse de número)
Os brasileiros somos criativos. (o verbo deveria estar na terceira pessoa, mas quem fala, ou escreve, também participa do processo verbal e a concordância se dá por silepse de pessoa).
- Hipérbato: constitui uma alteração na ordem comum dos elementos na oração (sujeito, verbo, complementos, adjuntos), ou na ordem direta das orações no período. Também é conhecido como inversão.
Ex.: Das minhas coisas, cuido eu.
Porque fiz isso, nem eu sei.
- Ironia: toda sugestão, por entoação e contexto, do contrário do que as palavras ou frases realmente exprimem, por intenção sarcástica.
Ex.: Moça linda, bem tratada, três séculos de família, burra como uma porta: um amor! (Mário de Andrade)
Que menina linda! (quando, na verdade, a menina é feia)
- Prosopopéia: atribuição de qualidades ou sentimentos humanos a seres irracionais ou inanimados. Também é conhecida como personificação.
Ex.: Seu pássaro canta muito bem.
O sapo lava os pés na beira da lagoa.
- Antítese: emprego de palavras ou expressões que são diretamente contrastantes, comumente na mesma frase.
Ex.: “E onde queres bandido sou herói.” (Caetano Veloso)
Ele a amava, ela o odiava.
Edson Porto
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