Turma 75.1
Meus Tempos de Universidade
Mário de Sousa Araujo Filho
Professor do DEE
Concluí meu curso de graduação em Engenharia Elétrica em julho de 1975. Havia ingressado na UFPB – Universidade Federal da Paraíba, Campina Grande – no primeiro período letivo de 1971.
Meu diploma é de Engenheiro Eletricista (Opção Eletrônica) – e é assim que traz escrito o diploma. À época, as atuais Ênfases se chamavam Opções, e só havia duas: Eletrotécnica e Eletrônica. A evolução tecnológica, industrial e as mudanças no mercado profissional impuseram reformulações à estrutura curricular, que incorporou mais duas Ênfases: Telecomunicações e Controle e Automação.
Nos tempos do meu ingresso na Universidade, não fazíamos Vestibular para uma modalidade de engenharia específica, mas para Engenharia de uma forma geral. O ciclo básico era comum, e depois é que era feita a opção pela modalidade de engenharia pretendida. Dessa forma, tive vários colegas que foram cursar Engenharia Civil, por exemplo, enquanto que eu optei por Engenharia Elétrica.
Tenho boas lembranças dos meus tempos de estudante universitário, dos colegas, das jornadas de estudo (inclusive “virando noites”), e também dos momentos de lazer e de fraterna convivência. À época, o curso de Engenharia Elétrica – e também o Básico – já exigia muita dedicação dos seus estudantes. Lembro que, em algum momento, a média para “passar por média” era de 8,3 (oito vírgula três!).Na primeira metade da década de 70, o nosso Curso já contava com professores de excelente nível, e que se destacavam no corpo docente do ensino superior local. Havia professores oriundos do ITA (Instituto Tecnológico de Aeronáutica) e outros com pós-graduação no Exterior, que faziam de Engenharia Elétrica um dos cursos de maior prestígio na instituição UFPB, em todo o Nordeste e também em nível nacional.
O nosso Curso de Engenharia Elétrica nasceu (o primeiro vestibular foi em 1963) e se desenvolveu valorizando a contribuição e a experiência de profissionais oriundos de centros acadêmicos de excelência, como foi o caso do ITA. E isso foi, em larga medida, resultado do trabalho profícuo desenvolvido pelo Professor Lynaldo Cavalcanti de Albuquerque, ex-diretor da Escola Politécnica (a famosa POLI) e ex-reitor da UFPB, notabilizado pela visão de futuro de que era, inegavelmente, detentor.
Não é possível dissociar lembranças da vida universitária no começo dos anos 70, da situação política vivida pelo País àquela época, e que marcou a vida de toda uma geração de jovens brasileiros. Havia um regime autoritário, com fortes restrições ao exercício das liberdades democráticas: liberdade de manifestação e expressão, liberdade de imprensa, de organização partidária e sindical, etc. As atividades de caráter artístico e cultural estavam sob censura e, como não poderia deixar de ser, tudo isso atingia em cheio o chamado movimento estudantil e suas entidades.
Por conta dessa situação é que tivemos nosso tempo de educação superior dividido entre a dedicação aos estudos e a preocupação com as questões nacionais, levando alguns de nós a certo “ativismo político” e outros a uma militância mais efetiva na luta pelo fim do regime militar e a reconquista do estado democrático de direito no Brasil.
Ao final do meu curso de graduação, em 1975, tive a satisfação de ser escolhido pela turma como Orador na solenidade de colação de grau, que se realizou no Teatro Municipal “Severino Cabral”. Naquele momento ainda havia muita censura política, e meu pronunciamento não foi bem recebido pelas autoridades militares – e disso só tive conhecimento no dia seguinte à colação de grau, pela diretoria do CCT (Centro de Ciências e Tecnologia) da UFPB. Para se ter uma idéia do clima de obscurantismo predominante, leio hoje aquele discurso e não encontro nada que possa ser caracterizado como insultuoso ou ofensivo. No entanto, naqueles tempos era intolerável aos donos do poder qualquer referência crítica à situação social, à política educacional, à conjuntura política, à realidade brasileira de uma forma geral.
Concluído o curso, as alternativas dos engenheiros eletricistas – opção eletrotécnica e opção eletrônica - então formados não eram muitas. Ou optavam por trabalhar em concessionárias de energia elétrica, empresas estatais de telecomunicações, indústrias de eletroeletrônica, ou se decidiam pela vida acadêmica: fazer pós-graduação e ser contratado como professor. Foi esta a minha opção e dela não me arrependo.
A vida acadêmica, o ambiente universitário, o permanente contato com a juventude, a diversidade de tarefas que somos solicitados a realizar no dia-a-dia da instituição, o bom debate, a polêmica, a batalha das idéias – tudo isso mantêm viva e renovada a vontade de realizar, influir positivamente, crescer como profissional e como pessoa, e contribuir – atentos à preservação do bom conceito do nosso Curso – para a formação de mais e melhores profissionais para o serviço da sociedade e o desenvolvimento da nossa região e do País.
Campina Grande, 15 de dezembro de 2011
Mário de Sousa Araújo Filho
Professor do DEE-CEEI-UFCG
Arthur Araújo e Larissa Diniz
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